terça-feira, 12 de julho de 2011

De Volta Para o Futuro - Woody Allen é pura nostalgia em "Meia Noite em Paris"


Antes tarde do que nunca, falemos do novo filme de Woody Allen. Demorei um pouco para publicar esse comentário pois estava me recuperando da viagem que fiz à França. Viagem curta - de cerca de 100 minutos -, mas nem por isso menos agradável. Essa viagem tem um nome: "Meia Noite em Paris", o filme mais falado do momento, um verdadeiro tributo à capital mundial do amor, que nos faz lembrar porque vamos ao cinema. Explico.

Mesmo não estando entre meus cineastas favoritos, Allan Stewart Königsberg - mais conhecido mundialmente como Woody Allen - sempre foi uma inspiração, principalmente por nos últimos 20 anos manter a tradição de lançar um filme por ano. Entre pontos altos e baixos, suas produções se mantém acima da média, provando seu talento para retratar histórias aparentemente simples e ordinárias de maneira leve e envolvente. Cada nova estréia é um evento, e o aposto "Um Filme de Woody Allen" engrandece qualquer produção. Originalmente conhecido como "o cineasta de Nova York", por situar lá a grande maioria de seus filmes, o diretor tem mudado a locação para países europeus nas últimas produções.


Depois de 4 filmes na Inglaterra - "Match Point"(2005), "Scoop"(2006), "O Sonho de Cassandra"(2007) e "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos"(2010) - e um na Espanha ("Vicky Cristinna Barcelona"(2008)), a escolhida da vez é a França e sua apaixonante Paris. E com essa nova produção, Allen prova que é um dos diretores que melhor sabem usar cenários reais em suas histórias. Desde já entrego que a capital francesa foi a mais bem homenageada em um filme seu até agora, perdendo apenas - obviamente - para a "Big Apple" americana. O início do filme parece - à princípio - uma propaganda publicitária de agência de viagem, com várias imagens de Paris sendo jogadas aos nossos olhos. Mas as imagens não focam os pontos mais conhecidos, e sim as pequenas ruas e detalhes que dão a verdadeira beleza retrô à cidade. Assim, após quase 5 minutos apenas vendo essas imagens, os créditos finalmente aparecem, e pronto, a platéia já foi transportada para Paris.

A trama é apresentada já na primeira cena, de forma bem simples e direta. O protagonista, como era de se esperar, é mais um possível alter-ego do diretor-roteirista: um escritor fracassado que ganha a vida escrevendo roteiros (considerados por ele mesmo medíocres) para Hoolywood - provavelmente, uma irônica autocrítica de Allen, que com seus 76 aninhos precisa escolher um ator mais novo para interpretá-lo. O escolhido da vez foi Owen Wilson, que - admito - surpreende. Acostumado ao papel de amigo chato e sem noção em comédias (a maioria em parceria com Ben Stiller), aqui Wilson encarna perfeitamente a persona de Allen, e não é exagero dizer que é seu melhor papel - pelo menos até aqui. Seu jeito de andar e falar são idênticos aos do diretor, o que prova que foi uma escolha mais do que certa para o papel. Acompanhando Wilson em cena está a deslumbrante Rachel McAdams, que se torna cada vez mais - merecidamente - a nova queridinha de Hollywood, após mostrar que não é apenas um rostinho (muito) bonito em produções como "Diário de Uma Paixão"(2004) e "Uma Manhã Gloriosa(2010). Aqui, ela está deliciosamente insuportável como a mimada namorada do protagonista, com quem ele pretende casar mesmo não havendo futuro algum na relação.


O personagem de Wilson, Gil Pender, vai à Paris com a namorada e os pais dela, aproveitando a viagem a negócios do sogro para buscar inspiração na cidade antes frequentada por seus ídolos. Essa é a mística Paris da década de 20 e 30, considerada então o centro do mundo artístico - e onde a boêmia falava mais alto. Igualmente apaixonado por essa época, Allen sabia que a única maneira de vivenciá-la - tanto ele quanto os espectadores - seria através de um filme. E é nisso que se resume o longa: uma viagem à considerada "Época de Ouro", aos bons e velhos tempos já citados. É isso que ele inexplicavelmente propõe a seu personagem, que é transportado para décadas atrás por uma carruagem de época, que surge em uma ruela parisiense. Não há porque entender: trata-se da magia do cinema em ação.

Mas simplesmente voltar às décadas de 20 e 30 não teria a mesma graça se não fossem os personagens que cruzam o caminho do protagonista. E o cineasta, culto como todos os fãs sabem que ele é, atira referências e citações para todos os lados. O grande barato durante o filme é tentar identificar as personalidades que cruzam o caminho do maravilhado Pender. E são muitas: estão lá o escritor F. Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston, elogiado pela participação em "Thor") e sua esposa, a histérica Zelda Fitzgerald (Alison Pill), o famoso cantor Cole Porter(Yves Heck), o instável escritor Ernest Hemingway (autor de "O Velho e o Mar, entre outros, vivido hilariamente por Corey Stoll), a escritora e poeta Gertrude Stein (Kathy Bates),o cineasta Luis Buñuel (Adrien de Van), o pintor Pablo Picasso (Marcial Di Fonzo Bo)... só para citar os mais marcantes, pois a lista é verdadeiramente interminável. Melhor é observar o inspirado trabalho de seleção de elenco, pois cada um dos ilustres famosos são representados na tela à sua imagem e semelhança, idênticos às personalidades reais - basta uma rápida pesquisa ao Google para ter certeza. Destaque maior vai para Adrien Brody , ator mais famoso (se comparado aos demais) e até já ganhador do Oscar - por "O Pianista" (2002), que desaparece na figura do pintor surrealista Salvador Dali. Mesmo com participação muito pequena, ele captura a essência do excêntrico pintor, transmitindo-a de forma muito bem humorada. E não é que ele ficou bem parecido com Dali?


É claro que já conhecer previamente as pessoas citadas ajuda a entender algumas sutilezas do filme, como é o caso, por exemplo, da piada envolvendo o filme "O Anjo Exterminador" (para os cinéfilos de plantão) - é impagável ver o futuro diretor Buñuel, ao ouvir a sugestão de Gil, com a mesma expressão de dúvida que ficariam os espectadores de seu filme mais tarde -, e as reflexões do beberrão Hemingway. O grande segredo do filme é acerca de Adriana, personagem de Marion Cotillard, que se envolve com todos esses personagens e é o que acaba trazendo Gil de volta para o futuro. É na misteriosa cena em que os dois, já na década de 30, voltam à 1890, para a Belle Époque francesa (sim, uma volta no tempo dentro de outra volta no tempo), que Gil entende sua fascinação pelo que ele considera a "Época de Ouro", assim como a necessidade de voltar para sua realidade. Seria tudo aquilo uma grande epifania do escritor por visitar o lugar que tanto idealizava? Se visto dessa maneira, a personagem de Cottilard poderia ser considerada um estopim para que ele não ficasse preso em um passado idealizado e pudesse avançar para um futuro ainda em construção. Seria o próprio Woody Allen se livrando de seus ídolos do passado e garantindo seu próprio lugar no panteão de gênios contemporâneos.

Tudo funciona bem no filme, principalmente o elenco - que ainda conta com um inspirado e pedante Michael Sheen e uma discreta participação da primeira-dama Carla Bruni - e a trilha sonora, embalada por românticas músicas (principalmente as de Cole Porter). Em certo momento do filme, Gil diz claramente que nenhum quadro, livro ou forma de arte consegue retratar fielmente a complexidade de um lugar, substituindo a sensação de estar nele. Allen sabe que não consegue mostrar tudo de Paris com seu filme. Mas consegue estimular qualquer um que o assiste a visitar a cidade. Ou, pelo menos, a voltar ao cinema para se deliciar com a melhor produção que deu as caras por lá em 2011 - pelo menos, até agora.


Basicamente, tudo isso prova que "Meia Noite em Paris" é um filme para ser visto e revisto. O que, verdadeiramente, não é sacrifício nenhum, já que poucas vezes Allen fez algo tão leve e divertido. Muitos dizem que o diretor repete aqui o que já havia feito em "A Rosa Púrpura do Cairo"(1985). Discordo intensamente. A nova produção é um sopro de originalidade - muito bem vindo, aliás - na carreira do diretor, que já está produzinho seu novo longa - dessa vez na Itália, com o nome "Bop Decameron". Pelo visto, o tour de Woody Allen pela Europa está longe de acabar. Fica a esperança do diretor ainda passar pelo Brasil. Que brasileiro não gostaria de ver um "Meio Dia no Rio" ? Fica a dica.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A Vida Como Ela É - "O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas", uma jóia dos anos 80


Quando se fala em filmes adolescentes da década de 80, qualquer um imagina instantâneamente a imagem de Matthew Broderick no icônico "Curtindo a Vida Adoidado"(1986) ou qualquer outro filme do adorado John Hughes, considerado o mestre desse gênero. E é justo, pois seus filmes marcaram intensamente uma época, conseguindo grande empatia com o público através de seus personagens tão realistas e sinceros. Mas não só dos filmes de Hughes se fez aquela década, e o exemplo mais claro e - injustamente - menos lembrado é um pequeno tesouro pouco conhecido e citado: "O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas".

Antes que eu (ou qualquer um) cometa o erro de rotular esse filme, é bom deixar claro que não se trata de uma comédia juvenil tradicional. O foco é mais maduro, de acordo, inclusive, com a própria trama: um grupo de sete amigos recém-formados se depara com a amarga realidade do mundo real, tendo que conviver com a insegurança profissional e emocional desta nova fase da vida. O filme foi corajoso por já se iniciar em um ponto que na época era tomado como conclusão. Explico: a primeira imagem vista é a dos amigos saindo da formatura, que normalmente era considerada o fim da jornada. Pois ali, ela é exatamente o começo. Um corte rápido nos leva à primeira cena - em um hospital, após um acidente - que já apresenta de forma ágil e eficiente o perfil de casa um dos sete personagens principais, assim como seus dramas. E são os personagens o grande diferencial que permite a leveza da produção, uma vez que a história em si é bem simples.


Esse filme, juntamente com "Vidas sem Rumo" (1983) - obra tocante de Francis Ford Coppola -, forma o pacote que lançou o "Brat Pack", nome dado ao grupo de jovens atores e atrizes que foram lançados nessas produções, virando ícones dos anos 80, entre eles Matt Dillon, Tom Cruise, Ralph Macchio, Patrick Swayze, C. Thomas Howell, Demi Moore e Rob Lowe. Esses dois últimos fazem parte do elenco principal de "O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas", tendo sido os integrantes que mais fizeram sucesso após a estréia do filme em 1985. Mesmo assim, o antes "galã rebelde" Lowe hoje é mais conhecido por participações em seriados de televisão. E Demi Moore, que teve seu auge em "Ghost - Do Outro Lado da Vida"(1990), há muito tempo não emplaca um sucesso nas telas, sendo mais citada como "a esposa de Ashton Kutcher" - o que, cá entre nós, só é bom para as fãs do ator.

Mas após assistir ao filme - que circula em uma uma rara cópia de DVD, que vale a busca - é triste saber que foi o único sucesso de um elenco tão promissor. E para nós, tão acostumados à séries de TV, é impossível evitar uma comparação com o seriado F.R.I.E.N.D.S. Aquele tipo de intimidade que realmente existe entre amigos próximos poucas vezes é bem transportada para as telas, mas pode ser genuinamente sentida tanto nesse seriado quanto no filme. E as semelhanças ficam mais fortes quando pegamos o personagem Kevin Dolenz. Apesar da importância dos personagens ser bem equilibrada, o humor irônico e os dilemas de Kevin acabam sendo o que o filme tem de melhor, graças ao talento do sumido Andrew McCarthy (na foto abaixo com Demi Moore). Ele é a gênese do personagem Chandler Bing (eternizado por Mathew Perry no seriado citado), tanto no jeito de ser quanto no próprio visual, bem parecido. Além disso, a ingenuidade e atitude marcantes do personagem da série Joey (Matthew LeBlanc) podem ser relacionadas com a do personagem Kirby Keger, vivido por Emilio Estevez - que aqui é visualmente uma cópia idêntica de seu pai, o também ator Michael Cheen (sim, ele é irmão do problemático Charlie Cheen). Além dessas comparações mais diretas, tem ainda o fato dos personagens sempre se reunirem em um bar, como os do seriado faziam. Por isso, é certo que todos os fãs do seriado sejam conquistados pelo filme, que sem dúvida foi uma inspiração.


Mas apesar desse destaque especial aqui feito, todos os atores estão a vontade nos papéis, e é impossível não se identificar com seus dramas e modos de pensar. Não esqueçamos que aqui escreve um adolescente em fase semelhante à vivida por eles, o que justifica essa grande identificação. Ally Sheedy (como a romântica Leslie) e Mare Winningham - que vive a tímida e virgem Wendy, e ironicamente estava grávida durante as gravações - se tornaram queridinhas em produões alternativas graças à participação nesse filme. Mas o grande destaque feminino é Demi Moore, em sua estréia nas telas. Normalmente em papéis dramáticos, aqui ela vive a liberal Jules, uma adolescente com visual e atitude bem diferentes dos que a marcaram. Na época, ela tinha problemas com drogas semelhantes aos da personagem, mas se internou numa clínica de reabilitação e prometeu manter-se "limpa" para poder atuar. Mesmo parecendo um tanto forçada no decorrer do filme, é em uma inspirada cena perto do final que ela revela o verdadeiro drama da personagem - e o verdadeiro talento e versatilidade como atriz, que o mundo viria a conhecer melhor mais tarde.

Já no time masculino, além dos dois atores já citados, outro que rouba a cena é Judd Nelson , que no mesmo ano havia atuado em outro clássico moderno, "O Clube dos Cinco" - onde inclusive contracenava com Sheedy e Estevez. Na pele de Alec, o mais sério do grupo e namorado de Leslie, o ator atrai a atenção em cena para si com seu olhar penetrante idêntico ao de Al Pacino. Mas provavelmente mais lembrado é Billy, o saxofonista e rebelde sem causa vivido por Rob Lowe, aqui no auge de sua carreira.

Mas não só de novatos é formado o elenco. A musa dos anos 80 Andie MacDowell vive a paixão platônica e não correspondida de Kirby, adicionando beleza às cenas em que aparece. Outra presença pouco creditada é a do veterano Martin Balsam, que tinha atuado anteriormente em obras-primas como "Sindicato de Ladrões"(1954) e "Psicose"(1960) e aqui desempenha um de seus últimos papéis - como o pai conservador de Wendy - , mostrando como faz diferença ter um ator clássico em cena.


O mais curioso, após a exibição de tal filme, é notar que ele em momento algum parece datado, mesmo se passando há mais de 25 anos atrás. Todos os dramas, atitudes e gostos dos personagens são tão naturais e genuínos, que o filme não fica com aquela cara de "clássico dos anos 80" tão pesada em outros filmes - como no próprio "Curtindo a Vida Adoidado". Que jovem nunca se apaixonou pela melhor amiga, como Kevin? Quem nunca fez uma loucura por amor, como Kirby? Quem nunca pensou em desistir de tudo, como Jules e Billy? Quem nunca quis provar que é capaz de tomar as próprias decisões, como Wendy? E que aparente "casal perfeito" não passou por sérias crises, como Leslie e Alec? As possibilidades de identificação são várias, basta escolher uma. A única cena datada do longa, que acaba por isso até adicionando certo humor, é a discussão do casal em crise para ver quem fica com determinados discos. é um calderão pop, onde estão estão os melhores diálogos, que acaba de maneira cortante pela frase que namorados nunca querem falar: "Eu não acredito que isso está acontecendo com a gente." Uma abordagem atemporal e corajosa, falando abertamente de sexo entre amigos, uso de camisinha e traição muito antes de produções mais recentes consideradas "polêmicas".

Mas a melhor cena do filme é a que o define. Já antes citada, é a em que Moore revela seu talento, e onde ela tem uma franca conversa com Billy, e ele lhe explica o que seria o "Fogo-de-Sant'Elmo" - o título original do filme, "St. Elmo Fire", que muitos acreditam se referir apenas ao bar em que eles sempre se encontram. Trata-se um fenômeno que não existe, mas foi criado por aqueles que queriam acreditar em algo para poder, assim, prosseguir na vida. Ao dizer "É isso que está acontecendo conosco agora", Lowe olha para a câmera, mesmo que de forma discreta. É ele nos encarando, se dirigindo a nós. E sim, ele estava certo, é isso que muitas vezes está acontecendo - ou precisa acontecer - conosco.


Esses são alguns detalhes que tornam "O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas" uma grata surpresa, candidato a uma vaga em "filmes favoritos dos anos 80". E prova de que Joel Schumacher, apesar de bombas como "Batman & Robin" (1997), tem grande sensibilidade como diretor. A adaptação gigante dada ao título do filme sem dúvida cai bem. A cena final, em que o grupo de amigos, já sem um integrante, encara uma nova turma de jovens ocupando o seu lugar habitual, dá um aperto em nossos corações, por representar de forma clara que nenhuma amizade é eterna, e mesmo que a chama da amizade se mantenha, não supera o efeito implacável do tempo, que tende a transformar tudo em lembranças. Enfim: a vida, como ela é.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Origem - "X Men - Primeira Classe" injeta fôlego e frescor em franquia Marvel


Todo homem é resultado de fatos marcantes em sua vida, e vários filmes se dedicam a mostrar a origem de personagens icônicos: Darth Vader (na nova trilogia Star Wars), Hannibal Lecter (em "Hannibal - A Origem do Mal"), Superman (no filme de 1978 e a série "Smallville") e Wolverine são exemplos de personagens que tiveram sua infância e amadurecimento detalhadamente trabalhado em superproduções. O interesse em investigar a origem desses ícones da nossa cultura sempre instigaram nossa curiosidade, e justifica a boa aceitação de público e crítica em relação a "X-Men - Primeira Classe" . Mais do que uma simples continuação oportunista, essa produção mergulha em uma interessante abordagem para mostrar toda a humanidade existente na relação entre os personagens Professor Xavier e Magneto. Mas o que essa nova produção tem de diferente? Explico.

É curioso comparar a franquia X-Men com as demais adaptações de quadrinhos da Marvel para os cinemas. Os filmes baseados nas aventuras de mutantes optaram - desde o início, em 2000 - por uma abordagem mais realista, mudando o uniforme e visual de personagens radicalmente. A iniciativa, capitaneada pelo diretor Bryan Singer, foi muito bem aceita até pelos fãs mais fervorosos, o que garantiu o sucesso do original e de sua sequência(2003), ambos comandados por ele. Mesmo no terceiro filme, bem mais voltado para a ação e para um desfile de personagens desnecessários, o tom realista ainda estava presente.


Acabada a trilogia, e após uma fraca aventura-solo do mascote do grupo - Wolverine (2009)-, Singer decidiu voltar à franquia, mas seu compromisso com "Jack and the Giant Killer" (2012) não permitiu que ele ocupasse o posto de diretor, e ele assumiu prontamente a função de produtor, decidido a inserir mais originalidade na trama. Visando o tom realista, Singer chamou Matthew Vaughn para comandar a empreitada. Motivo: Vaughn dirigiu "Kick Ass - Quebrando Tudo"(2010), divertido filme que mostrava a vida de um garoto sem superpoderes que resolve dar uma de herói - sofrendo as consequências dessa atitude. Ainda com "Stardust - O Mistério da Estrela" no currículo, a direção de Vaughn garantiria pelo menos entretenimento e diversão de qualidade. Mas o grande trunfo desse filme, na verdade, estava no roteiro.

Uma característica positiva diferencia "X Men - Primeira Classe" dos demais filmes desse gênero: enquanto cada herói vive em seu próprio mundo, com seus próprios dramas, personagens e realidades - vide Thor, Hulk, Quarteto Fantástico e outros seres fantásticos da Marvel -, aqui os X-Men foram muito bem inseridos no período da Guerra Fria, atuando em um momento decisivo do século XX com acontecimentos e pessoas reais. Isso permite que em certos momentos o filme adquira o tom de filmes de espionagem no melhor estilo James Bond, algo inédito nesse gênero. O presidente J.F.Kennedy, inclusive, tem grande participação no filme, que faz largo uso de material histórico. É uma abordagem diferente e muito bem-vinda, não usada de forma tão inspirada como no filmaço que é "Watchmen"(2009), mas mesmo assim mostrando que adaptações de quadrinhos podem sim ser bem pensadas e executadas, sem terem que seguir uma fórmula já clichê.


Cravados no imaginário popular na trilogia inicial pela caracterização impecável de Patrick Stewart e Ian Mckellen, respectivamente, os personagens Professor X e Magneto não são o foco aqui: o verdadeiro ônus do filme é mostrar o início da amizade e carreira de Charles Xavier e Erik Lehnsherr, os homens por trás desses apelidos. E para interpretá-los, os produtores tinham a difícil tarefa de encontrar uma dupla de atores que conseguisse realizar um trabalho único sem deixar de lado as encarnações anteriores. E isso, sem dúvida, conseguiram. O filme é todo de James McAvoy e Michael Fassbender, e só deles. McAvoy, que já mostrara seu enorme talento em "Desejo e Reparação"(2007), prova ser um dos grandes atores de sua geração dando vida a um descontraído e galanteador Xavier, que inicialmente em nada lembra o sereno personagem de Stewart. Fassbender - famoso por sua participação em "Bastardos Inglórios" (2009) - parece uma espécie de James Bond vingativo em ação, criando grande empatia com o espectador. E assim, nós observamos a relação entre os personagens se desenvolver de maneira natural e emocionante ao longo dos 132 minutos de filme. O mesmo pode se dizer da personagem Mística - ou melhor, Raven Darkholme -, que se nos outros filmes era mera coadjuvante, aqui tem papel importante na trama, encarnada de forma eficiente pela bela Jennifer Lawrence (indicada ao Oscar aos 20 anos por "Inverno da Alma"(2010)). Entendemos como ela, a melhor amiga de Xavier, acaba se tornando a mais fiel comparsa de Magneto. E no desenrolar das ações e embate de opiniões, vemos nascer aqueles personagens que já conhecemos, e entendemosos motivos que os levaram até aquela rivalidade.

Por ser um filme sobre um grupo de jovens mutantes, é normal que acabasse tendo cenas voltadas para a descoberta desses poderes, com direito a doses de humor. Apesar de desnecessárias e até um pouco clichês, essas cenas são dosadas com outras de grande valor dramático e sentimental, como por exemplo a de Charles ajudando Erik a controlar seus poderes, entrando em sua mente - culminando na cena impecável em que Erik levanta um submarino, visualmente uma das mais belas até agora em filmes de heróis. São cenas que focam no emocional de forma profunda, e mesmo sabendo que são personagens de uma história em quadrinho de super-heróis, acabamos nos comovendo ao identificar neles sentimentos tão puros e humanos. E essa identificação é o grande trunfo por trás do filme, que (não esqueçamos) trata de mutantes.


Além de trazer o sumido Kevin Bacon de volta a uma grande produção - canastrão como nunca como o vilão da vez -, o filme ainda é embelezado pela discreta atuação de January Jones, no papel da sensual e misteriosa Emma Frost. Além disso, conta com brilhantes participações de Hugh Jackman (adivinhem no papel de quem...) e de Rebecca Romijn ( a Mística dos filmes anteriores), em sacadas muito boas. Os mais atentos perceberão também a presença de outros mutantes famosos em rápidas aparições - Tempestade, Ciclope... mesmo que rapidamente, estão todos lá. Até o personagem Fera, abordado de maneira superficial no terceiro filme da saga, é representado dessa vez de forma bem mais envolvente - e humana. Curioso é notar que esse é o primeiro filme da Marvel - pelo menos até agora - que não conta com a manjada "aparição especial de Stan Lee". Prova de que essa produção procura mudar o rumo das demais, focando em uma história mais séria.

Mesmo com o final previsível e pouco inspirado, "X-Men - Primeira Classe" é uma grata surpresa para quem espera apenas mais um filme de super-heróis - um gênero que cá entre nós, já está cansando e ficará mais forte nos próximos meses com "Capitão América" e "Lanterna Verde". Apesar das aparências, esse é um filme sobre duas pessoas extraordinárias, onde suas habilidades especiais são apenas um detalhe a mais.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Eu, Robô - O encanto inabalável de "Blade Runner - O Caçador de Andróides"


É revendo filmes que certificamos o quanto gostamos deles e descobrimos seus detalhes mais interessantes. E foi revendo “Blade Runner – O Caçador de Andróides” que enfim compreendi a grande adoração existente em torno desse (hoje em dia, já) clássico da ficção científica. Ao assistir a versão original pela primeira vez, não entendi o porquê daquele filme de estrutura tão simples ser tão estudado e cultuado. Olhos de criança assistiam a um produto feito para olhos maduros, o que justifica ele não ter inicialmente respondido às minhas expectativas.

Mais tarde, viria a saber que aquela versão à qual assisti, lançada originalmente em 1982, fora um grande fracasso de bilheteria. Riddley Scott, diretor da obra, teve que se submeter às vontades do estúdio, incluindo até um “final feliz” imposto pelos produtores. Mas Scott, que na época era ainda badalado pelo filmaço “Alien – O Oitavo Passageiro” - lançado em 1979 - , não abriria mão facilmente de sua obra-prima. E assim, foi um dos primeiros cineastas a lançar a hoje já consagrada “Versão do Diretor”, em 1991. Essa versão deixava de lado a didática e desnecessária narração em off do protagonista e tinha um final alternativo mais condizente com a trama. Essa versão foi a que revi, 20 anos após ser lançada. E essa versão que me explicou o porquê do mito.


Adaptação do livro de Philip K. Dick, “Do Androids Dream at Eletric Sheep?”, o filme que viria a se tornar um dos grandes “cults” da história do cinema - inspirando moda, animação, música e, obviamente, cinema – tinha passado pelas mãos de Martin Scorsese ainda no começo de sua carreira. Esse optou por filmar “Táxi Driver”(1976), deixando o projeto à espera de um diretor que conseguisse transmitir o clima caótico e pessimista proposto pela obra. Após dar uma aula de suspense e criação de tensão no claustrofóbico filme original da série "Alien", ficou claro que o melhor homem para esse trabalho seria Riddley Scott. Mestre na arte de fazer grandes filmes, Scott é um diretor que sabe como poucos usar o cenário a favor de uma história - como provam esses dois filmes e, mais tarde, o pretensioso “Gladiador” (2000) - , apesar de não receber todo o reconhecimento que merece. Aos 72 anos, continua realizando grandes filmes, muitas vezes esnobados pelo público, como foi o caso de “O Gângster” (2007).

Mas voltando ao filme. “Blade Runner” tem uma premissa simples, que acompanha Rick Deckard (um Harrison Ford no auge da carreira) em sua última missão antes de se aposentar: caçador de andróides, ele deve “aposentar” – ou seja, executar – um grupo rebelde de replicantes, andróides dotados de emoções tão reais quanto os humanos que os construíram. E é basicamente isso, com estrutura dos filmes de detetive dos anos 40, sem grandes surpresas ao longo do filme. Claro que as coisas mudam um pouco de rumo quando Deckard acaba se apaixonando por um dos robôs que deve eliminar, encarnado pela sumida Sean Young, que com seu olhar penetrante dá vida (literalmente) a um dos andróides mais sensuais já vistos, mesmo sem fazer muito esforço.


Mas o grande legado do filme é sem dúvida visual. Uma versão mais sombria e decadente da cidade de “Metropolis” (1927), de Fritz Lang, os arranha-céus de “Blade Runner” são ainda hoje uma das visões mais assustadoras – e possíveis – do que seria o futuro do homem no planeta Terra, sendo ainda mais incômoda após se passar uma noite na cidade de São Paulo. As semelhanças são gritantes, e o filme se passa em 2019, ou seja... ainda dá tempo. Além de uma aula de direção de arte, com cenários que de tão líricos parecem uma versão futurista de Federico Fellini – principalmente o grande casarão repleto de robôs que serve de residência para J.F. Sebastian (William Sanderson), ele mesmo um personagem felliniano -, o filme é ainda uma aula de fotografia, com uma iluminação que destaca cada um dos atores tornando cada cena um verdadeiro quadro em movimento. De quebra, a trilha sonora composta por Vangelis – autor da famosa música de “Carruagens de Fogo”(1984), que virou lugar comum em corridas – facilita mais ainda na climatização, gerando frio na espinha em total sintonia com as imagens.

Harrison Ford teve vários problemas com Scott durante as tumultuadas filmagens. Vivendo um personagem que é a antítese de Han Solo (da série Star Wars) e Indiana Jones, os grandes ícones que o eternizaram no cinema, Ford ainda tinha um relacionamento ruim com Young, seu par romântico nas telas. Até hoje Ford pouco fala ou comenta dessa produção, mas esse sentimento de insatisfação caiu bem ao personagem e inclusive contribuiu na atuação. É o caso em que pequenos ressentimentos e detalhes pessoais acabam contribuindo na construção de uma obra-prima.


Poucas vezes um filme reuniu tantos rostos marcantes e únicos em uma só produção: os traços ingênuos de Young, a presença misteriosa de Joe Turkell – o barman que assombrava um atordoado Jack Nicholson em “O Iluminado” (1980) e aqui era Tyrell, a encarnação de Deus para os andróides – e a hipnótica composição de personagem de Daryl Hannah e, principalmente, Rutger Hauer, icônicos no papel dos replicantes. Hannah, mesmo com pouco tempo em cena, trabalha detalhadamente cada movimento de sua andróide Pris, conseguindo ser encantadora e assustadora na medida certa. E Hauer dá um show na pele de Roy Batty, o filosófico e frio líder dos replicantes, roubando todo o filme com sua atuação visceral. A cena do embate final entre ele e Deckard está eternizada como um dos momentos mais bonitos e reflexivos do cinema. O mais incômodo, porém, é perceber na relação entre os andróides uma humaninade maior do que na dos considerados humanos. Talves esse seja o ponto que torne “Blade Runner” tão diferente de outras produções que tentaram traçar caminho semelhante e se tornaram esquecíveis, como é o caso do filme que dá título a essa matéria. É mais que um mero filme de ação, mas um estudo sobre os limites da tecnologia e do sentimento humano, junto com “AI – Inteligência Artificial” (2001), filme pouco valorizado dirigido pelo “midas” Steven Spielberg.

Obra seminal de ficção científica ao lado de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”(1968), “Blade Runner – O Caçador de Andróides” mistura ciência, existencialismo e poesia de forma nunca antes (e depois) vista nesse gênero. Obviamente, como todo filme cult, esse também deixa várias mensagens subliminares soltas durante os 116 minutos de duração: o prego na mão de Roy (menção à crucificação de Cristo?), a presença do enigmático personagem de Edward James Olmos e seus origamis, a aparição de um unicórnio em sonhos, o final em aberto e a interminável dúvida de Deckard ser ele próprio um replicante, como a iluminação em seu olhar indica em determinadas cenas rápidas. Será que ele é? Sinceramente: melhor não saber. Levar às perguntas é mais interessante do que dar as respostas. Riddley Scott sabia disso. Os fãs que cultuam esse filme há décadas também.

domingo, 5 de junho de 2011

A Hard Day's Night - "Se Beber, Não Case 2" traz mesma trama com (muito) mais ousadia


O ano era 2009, e o enorme sucesso de "Se Beber, Não Case" surpreendia não só o público, mas principalmente os estúdios: a descompromissada produção sem nenhum nome famoso no elenco tornava-se a mais lucrativa comédia adulta da história do cinema americano, arrecadando US$ 500 milhões nas bilheterias mundais. Foi o suficiente para alçar o diretor Todd Phillips ao posto de atual "rei das comédias adultas" ( posto que ainda devia ser de Judd Apatow, de "O Virgem de 40 Anos") e fazer dos protagonistas astros mundo afora. Do jeito que Hollywood funciona atualmente, era de se esperar o lançamento de uma continuação que explorasse melhor os personagens - e desse mais lucro para os estúdios - e o resultado é "Se Beber, Não Case - Parte II", que investe nos mesmos elementos do original, mas ousando (muito) mais nas cenas.

O filme é resumido na primeira frase da projeção: sob o mesmo ângulo em que foi filmado no longa original, e com a mesma expressão no rosto, Phil (Bradley Cooper) informa alguém no outro lado do celular que “Aconteceu de novo”. Tudo de novo. Só que o noivo da vez é Stu (Ed Helms), o hilário amigo com postura mais séria - o que o torna mais hilário - que perdera o dente e casara com uma prostituta na noitada passada em Vegas há dois verões atrás. Após sobreviver à despedida de solteiro do amigo Doug (Justin Bartha, o menos carismático do grupo, que logo sai de cena), Stu conheceu a linda Lauren (Jamie Chung, de "Suckerpunch"), com quem resolve se casar. Só que os pais da noiva exigem que ela se case em sua cidade natal, que no caso é a Tailândia. E essa é a desculpa para levar o trio - mais o excêntrico Alan (Zach Galifianakis)- para o cenário exótico onde - claro - as coisas fogem de controle após uma noite daquelas.


A partir desse ponto, Phillips seguiu à risca o ditado em que "não se mexe em time que está ganhando". A estrutura do filme não é apenas parecida com a do anterior, é exatamente igual. Ao invés da luxuosa e mítica Las Vegas, entra a caótica e decadente Bangcoc. No lugar do bebê e do tigre, entra um elemento que funde os dois: um macaco que não só conquista a atenção do temperamental Alan (que acorda careca) como cria uma série de problemas para o grupo. O fator agravante no caso é que o irmão de Lauren, o "menino-prodígio" Teddy (o inexpressivo Mason Lee), desaparece deixando no local apenas seu...dedo. Assim, Stu (inexplicavelmente com uma tatuagem idêntica à do Mike Tyson), Alan e Phil precisam reconstruir seus passos para encontrar o garoto e voltar à tempo do casamento.

Apesar do fiapo de história servir apenas para o trio se meter em situações cada vez mais absurdas, a ligação entre os fatos é melhor trabalhada, mantendo um ritmo frenético que prende a atenção do espectador do início ao fim. O diferencial em relação ao primeiro é que aqui o bizarro e a escatologia marcam forte presença, lembrando até o tipo de humor dos irmãos Farrely e seu jeito curto e grosso de provocar o riso, usado em filmes como "Quem Vai Ficar Com Mary?" e "Antes Só do Que Mal Casado". Assim, apesar de fazer o público rir bastante, percebe-se que o ar de originalidade e leveza presentes no original foi perdido.


Destaque no primeiro filme, o exagerado Mr. Chow (Ken Jeong ) volta em uma participação maior e mais engraçada. A novidade é a participação do aclamado ator Paul Giamatti, que - apesar do pouco tempo em cena - prova sua grande versatilidade. Mas a atenção da mídia caiu sobre a possível colaboração de Mel Gibson no papel de tatuador. A ideia foi abandonada devido aos protestos dos membros da equipe por conta do envolvimento do astro em processo de violência doméstica, causando polêmica na imprensa. Liam Neeson ( de "Busca Implacável) foi contratado para o lugar de Gibson e chegou a rodar sua cena. Entretanto, como ela precisou ser rodada mais uma vez e o ator já estava comprometido com as filmagens de Fúria de Titãs 2 (outra desnecessária sequência que chegará aos cinemas em 2012), ele teve que deixar o papel, que acabou ficando com Nick Cassavetes - diretor dos ótimos "Diário de uma Paixão" e "Alphadog". Mas, depois de tanta polêmica, o impacto com ele não é mais o mesmo.

A trilha sonora volta a resgatar clássicos um pouco esquecidos e, assim como no longa anterior, faz uma pausa - exatamente na mesma parte da narrativa - para que o ator Ed Helms cante uma música engraçadinha composta por ele, que antes tocava piano, e dessa vez usa o violão. Mas o grande "momento vergonha alheia" é Mike Tyson "cantando" e dançando "One Night In Bangkok", hit polêmico na Tailândia por falar mal do Budismo, composto pelo pessoal do ABBA. Não dá pra saber o que é mais desnecessário: a cena em si ou a participação de Tyson, que só aparece para marcar presença.


A regra é clara: quem se divertiu com o primeiro, vai se divertir muito com esse. Já quem não achou graça do primeiro, vai ter mais motivos para odiar esse. Explorando muito mais o humor físico - e um pouco exagerado - de seus protagonistas e ousando em cenas que causarão até certa repulsa nos expectadores (com direito a nu frontal), a impressão que fica é que "Se Beber, Não Case - Parte II", foi feito com o intuito de lucrar mais sobre um produto que fez sucesso. E o plano está dando certo: o filme já é a maior estréia de uma comédia na história do mercado exibidor na América do Norte, com bilheteria de US$ 86,5 milhões no primeiro fim de semana nos EUA e Canadá. Sem perder tempo, os produtores já sinalizaram uma terceira parte. E a pergunta que não quer calar é: "Para quê?". Dessa vez, é melhor que eles aprendam com seus personagens para não exagerar na dose.

sábado, 21 de maio de 2011

Mar Adentro - Johnny Depp volta a encarnar Jack Sparrow no divertido "Navegando em Águas Misteriosas"


Quando encontra uma franquia que chama a atenção do grande público - e arrecada milhões ao redor do mundo -, Hollywood costuma explorá-la o máximo possível, produzindo continuações muitas vezes desnecessárias e forçadas. As cinesséries "Velozes e Furiosos" e "Jogos Mortais" que o digam. A produção do quarto (!) filme da franquia "Piratas do Caribe" parecia indicar mais um desses casos. No fim das contas, porém, "Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas" acaba sendo uma grata surpresa.

Até o início do novo século, John Christopher Depp II era um ator alternativo mais voltado para filmes considerados "cult", sendo os principais ao lado do grande parceiro Tim Burton, com quem até agora já fez sete filmes - e prepara o oitavo, intitulado "Dark Shadows". Em 2003, Depp aceitou o convite do lendário produtor Jerry Bruckheimer para estrelar o filme baseado no famoso brinquedo dos Parques da Disney. Ninguém botava muita fé na iniciativa, até então inédita. Mas foi a oportunidade que Depp precisava para criar um tipo que ficaria eternizado na história do cinema: o pirata - ou melhor, capitão - Jack Sparrow. De tão brilhantemente criado e encarnado, o personagem deu para o ator sua primeira indicação ao Oscar e ainda tornou Depp um astro de primeira grandeza mundo afora. Somado a isso, "Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra", tinha tudo que um filme de aventura queria ter: história envolvente, personagens (muito) interessantes, bons efeitos visuais e cenas de ação bem executadas. A equação perfeita que, âncorada no grande carisma de Sparrow, permitiu a elaboraçao de uma trilogia.


Apesar das tramas confusas, "O Baú da Morte" (2006) e "No Fim do Mundo"(2007), também dirigidos por Gore Verbinski (diretor do original), tornaram a franquia Piratas do Caribe uma das mais queridas e lucrativas do cinema. Só que na terceira parte, ficava claro que ambição dos produtores e roteiristas se afastava cada vez mais da pureza e charme da atração da Disney, tão presente na produção inicial. Pior: o personagem de Jack Sparrow se tornava cada vez mais secundário na trama. Concluída a história de amor entre os mocinhos Will Turner (o agora sumido Orlando Bloom) e Elizabeth (Keira Knightley), a trilogia foi fechada com sucesso. Mas os fãs acreditavam que ainda podiam ver Sparrow em ação em uma aventura solo.

Depois de muitos boates e negociações, Johnny Depp decidiu voltar à franquia que o consagrou com o grande público - antes mesmo de existir roteiro ou sequer um argumento. Mas a surpresa não foi essa, e sim a entrada de Rob Marshall - diretor de musicais como "Chicago"(2003) e "Nine"(2009) - lugar de Verbinski. Apesar das dúvidas se ele conseguiria comandar bem uma produção recheada de ação e efeitos especiais, a direção segura de Marshall (na foto acima com Depp) devolve o clima "filme de pirata" que havia se perdido nas pretensiosas sequências anteriores. Resumo da obra: "Navegando em Águas Misteriosas" acaba superando as expectativas em quase todos os aspectos. A trama que acompanha Sparrow em busca da Fonte da Juventude consegue trazer em si todos os detalhes e mitos que envolvem piratas, e juntá-los em um filme que funciona bem sozinho, sem ligação direta com filmes anteriores. Não leva o público à reflexão, mas diverte - bastante - durante as quase duas horas e meia de duração, que em momento nenhum parecem arrastadas. E, afinal de contas, não é esse o obejtivo da série "Piratas do Caribe"?


Como novidade, o elenco tem a adesão da bela atriz Penélope Cruz, vencedora do Oscar de Coadjuvante em 2009 por "Vicky Cristina Barcelona". Apesar de desempenhar novamente o papel de uma latina esquentada, ela - que estava grávida do ator Javier Barden durante as filmagens - esbanja química com Depp em cena - o que faltou entre ele e Angelina Jolie em "O Turista". Ambos divertem - a si próprios e ao público - como um complicado casal de piratas, com ela servindo de excelente escada para o talento cômico de Depp, liderando o show cada vez mais à vontade na pele do hilário Sparrow. Geoffrey Rush volta a dar as caras no papel do capitão Barbossa, que aqui tem uma participação bem diferente da dos filmes anteriores. Muito caricato na primeira metade do filme, Rush acerta o tom apenas na parte final, quando começa a contracenar mais com Depp. O grande vilão da vez é o famoso e temido Barba Negra, interpretado por Ian McShane de forma exagerada. Enquanto Depp e Rush buscam dar um pouco de humanidade a seus corsários, McShane parece ter em seu pescoço uma placa de "vilão malvado" durante todas suas aparições.

A parte romântica do filme, antes focada em Will e Elizabeth, agora é preenchida por uma sub-trama que não prejudica o resultado final: a atração entre o missionário Philip e a sereia Syrena, vividos pelos novatos Sam Claflin - que passa o filme inteiro se dando mal - e Astrid Berges-Frisbey. As sereias, aliás, representam um dos pontos altos do filme. Muito bem contextualizadas na trama, poucas vezes esses seres místicos foram tratados de maneira tão realista e bela. A sequência de sua aparição no mar é um dos pontos altos do espetáculo, tanto em aspectos narrativos quanto técnicos.


Em maio de 2010, a Disney anunciou que o filme usaria a tecnologia 3-D, mas o processo usado seria o de conversão para manter o orçamento mais baixo. Não é novidade que essa tecnologia vem sendo usada de maneira exaustiva e desnecessária em cada vez mais filmes, mas até que ela funciona muito bem nos deslumbrantes cenários do longa, filmado em locações do Havaí. A produção é muito caprichada, com direito a uma perfeita reconstrução da Londres do início do século passado, em uma inspiradíssima sequência que sozinha é melhor que o terceiro filme inteiro.

Vale a pena ainda citar a mais que especial participação de Keith Richards, lendário guitarrista dos Rolling Stones, que inspirou Depp na criação dos trejeitos de seu personagem. O roqueiro vive o capitão Teague Sparrow, personagem que já tinha feito rapidamente no filme de 2007. Além dele, Judi Dench, famosa como a chefe M dos filmes atuais do agente 007, faz uma meteórica (e hilária) participação na elaborada cena de Londres.

"Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas" é diversão descompromissada ao melhor estilo Indianna Jones: assim como a franquia do arqueólogo, também pega mitos e lendas para inseri-los de forma criativa numa história bem pontuada por ação, comédia e romance, tendo como "regente" um personagem icônico e imortal. Só que Johnny Depp ainda está na flor da idade e no auge do sucesso. Ou seja: não se surpreenda se o irresistível Jack Sparrow aportar novamente nos cinemas. Johnny Depp não se cansa dele e, pelo visto, o público também não.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Fúria de Titãs - Kenneth Branagh se rende ao blockbuster com "Thor"


"Henry V", em 1989 e "Hamlet", em 1996. Esses dois filmes resumem bem a carreira de diretor de Kenneth Charles Branagh, britânico nascido na Irlanda do Norte em 1960. Ator clássico formado na Royal Academy of Dramatic Arts, Branagh é considerado um dos mais importantes intérpretes de William Shakespeare da atualidade, tanto no teatro quanto no cinema. Mais voltado para adaptações e personagens do poeta e dramaturgo inglês, poucas vezes ele se rendeu a filmes comerciais. Raras exceções foram em "Harry Potter e a Câmara Secreta" (2002), onde brilhou como o hilário Gilderoy Lockhart - um dos melhores personagens da saga do bruxo - e no pouco assistido "Operação Valquíria" (2009), onde desempenhava um papel tímido porém importante. Isso justifica a grande surpresa quando seu nome foi confirmado no comando de "Thor", adaptação do super-herói nórdico da Marvel para os cinemas.

Desde que se tornou um estúdio de cinema, a Marvel começou a produzir os filmes de seus próprios personagens, e continua arquitetando o pretensioso projeto iniciado com "Homem de Ferro", de 2008: fazer um filme introduzindo cada um dos heróis e depois juntá-los em "Os Vingadores", sobre a equipe dos quadrinhos formada pelo Homem de Ferro, Hulk, Thor e Capitão América, entre outros. O ciclo está quase completo, e o filme sobre o grupo já está confirmado para 2012. Após "Homem de Ferro" e sua sequência (2010), veio "O Incrível Hulk" (2009) - que não alcançou o sucesso esperado, resultando na saída do ator Edward Norton (que será substituído por Mark Ruffalo) - e agora é a vez de "Thor" despontar nos cinemas. O elo entre os filmes se dá pela presença da organização S.H.I.E.L.D., famosa nos quadrinhos, representada pelo agente Phil Coulson (Clark Gregg, em participações cada vez maiores) e pelo misterioso líder Nick Fury (Samuel L. Jackson, em participações cada vez menores), presentes em todos os filmes.
"Capitão América" já está pronto, e o promissor trailer que circula na internet e nos cinemas indica que ele tem tudo para ser melhor que todos os outros, sendo uma luxuosa produção passada durante a II Guerra Mundial.


Mas voltemos a "Thor", que é o foco da vez. Fanático pelo personagem desde a infância, Branagh (à direita na foto acima) viu algo de shakespeariano na história da luta dos herdeiros do trono de Asgard. Quem entende um pouco de mitoligia nórdica conhece a história do Deus Supremo Odin, que deve deixar o reino para um de seus filhos: Thor (Deus do trovão) ou Loki (Deus do fogo, da trapaça e da travessura). Acaba escolhendo Thor por sua força de bravura, mas um incidente entre reinos inimigos põe em evidência a arrogância e prepotência do herdeiro. Como castigo, Odin retira seus poderes e o exila... na Terra. A partir daí o filme acompanha a adaptação do Deus nórdico em nosso planeta, até que ele se mostre digno de usar novamente o mítico martelo Mjolnir, que lhe dá todos os poderes.

Essa premissa é a desculpa para extrair um pouco de humor da história - a cena do pet shop é de fato engraçada -, além de permitir a atração entre Thor e a cientista que o encontra na Terra, vivida pela cada vez mais linda Natalie Portman. Vencedora do Oscar recentemente por sua brilhante atuação em "Cisne Negro", Portman deixou bem claro em várias entrevistas que apenas aceitou fazer a personagem Jane Foster - que nos quadrinhos é uma mera enfermeira, e aqui foi "promovida" a cientista - pela chance de trabalhar com Branagh, um sonho antigo. Com sua tímida - porém eficiente - atuação, podemos observar que nesse projeto ela procurava não apenas entreter o espectador, mas também se divertir um pouco no serviço. Nada mais justo, depois de todo o sofrimento e clima pesado de seu último e aclamado trabalho.


Imortalizado na história do cinema como a assustadora e brilhante persona do canibal Hannibal Lecter, Anthony Hopkins injeta realismo dramático em cenas que parecem tiradas de obras como Rei Lear ou mesmo Macbeth. A seu lado, como ponto positivo do elenco, está Tom Hiddleston no papel de um introspectivo Loki. Melhor ator em cena, Hiddleston (que até fizera o teste para viver Thor) é o único que consegue transpor o provavél tom shakespeariano procurado pelo diretor, sem parecer exagerado ou teatral como seus outros companheiros das cenas passadas em Asgard. Para completar, Kat Dennings, queridinha do público adolescente americano, justifica sua participação como alívio cômico e a sumida Rene Russo faz uma participação simbólica em um papel com menos de dez falas, num exemplo de talento desperdiçado cada vez mais evidente em Hollywood. Vale a pena destacar a meteórica participação de Jeremy Renner (mais conhecido por "Guerra ao Terror", onde foi indicado ao Oscar) como o Gavião Arqueiro, outro herói da Marvel que faz (ou melhor, fará) parte dos Vingadores.

A (infeliz) verdade inconveniente é que Thor não é um personagem carismático, e a atuação de Chris Hemsworth só comprova isso. Não que o australiano tenha feito algo errado - ele inclusive, ironicamente, já tinha experiência prévia em usar um martelo, tendo trabalhado como empreiteiro na Austrália por alguns anos. O ator se esforça e dá o melhor de si, mas mesmo assim ainda falta ao personagem empatia com o público. Thor não é Peter Parker com seus problemas amorosos nem Bruce Wayne com seus problemas emocionais. A ausência do seu alter ego das HQs, o dr. Donald Blake - vetada pelo diretor - faz falta aqui. A preparação do ator, que se dedicou por seis meses a uma rotina de idas frequentes à academia e dieta controlada, resultam em boas sequências de ação. Mas o personagem parece (literalmente) perdido nas cenas dramáticas passadas na Terra.


Apesar da direção segura de Branagh, que consegue inserir seu estilo pessoal em um gênero fechado - sua câmera inclinada é uma presença constante em quase todo o filme - os cenários grandiosos, o figurino exagerado e a trilha sonora triunfante passam a incômoda impressão de que o filme tenta a todo momento ser mais do que de fato é. O intenso uso de efeitos especiais chega até a cansar os olhos, algo imperdoável nesse tipo de produção. A única cena de fato memorável é uma frenética luta no planeta de gelo, que em si não é nada mais do que bem executada, provando que pouco há a ser destacado. A sub-trama envolvendo o embate com Gigantes de Gelo é resolvida de forma corrida, levando a um desfecho repentino que é retomado na cena após os créditos finais, que usa uma desculpa pouco inspirada para forçar uma continuação. E assim, a marca "Marvel" de qualidade se sobrepôe à marca "Branagh".

Assim como a maioria dos filmes de super heróis mais recentes, "Thor" tem uma trama burocrática, pequena dose de romance (que de tão pífia parece obrigatória) e bons efeitos especiais - além da ponta de Stan Lee, criador do personagem, como é de praxe em todos os filmes da Marvel. O grande pecado é não ter um protagonista que consiga sustentar um longa sozinho e suas possíveis continuações, como é o claro exemplo do Tony Stark perfeitamente encarnado por Robert Downey Jr. na franquia "Homem de Ferro". Agora resta saber se Branagh, que provavelmente assumirá a sequência, será mais original em sua próxima abordagem ou cairá (novamente) nos clichês do gênero. O famoso "Ser ou não ser, eis a questão".

domingo, 1 de maio de 2011

Mais Clichê é Impossível - Paul Rudd salva o fraco "Como Você Sabe"


O auge da carreira do diretor James Lawrence Brooks ocorreu no ano de 1983, quando dirigiu, produziu e escreveu o filme "Laços de Ternura", ganhando o Oscar nas três categorias e sendo o Melhor Filme daquele ano. Foi lá também que começou a parceria com Jack Nicholson, que viria a se repetir em 1997 com o excelente "Melhor é Impossível". Nicholson, inclusive, ganhou dois de seus três Oscars nesses dois filmes, no primeiro como coadjuvante e no segundo como ator principal - o outro Oscar foi pelo filmaço "Um Estranho do Ninho" (1975) -, o que o tornou o ator mais premiado pela Academia. Anos depois do prestígio confirmado por sucessos como "Nos Bastidores da Notícia"(1987) e "Jerry Maguire"(1996), Brooks volta ao cinema com "Como Você Sabe" (How Do You Know), seu sexto filme, onde volta a trabalhar com Nicholson.

A princípio, a reunião Brooks-Nicholson animou críticos e cinéfilos, e automaticamente previsões de uma possível nova indicação ao Oscar para Nicholson surgiram na mídia. Mas à medida que o projeto atrasava e novas informações - como o insosso trailer - eram lançadas, as expectativas iam diminuindo. E ao assistir o resultado final, fica comprovado que o filme não parece ter sido feito pelo mesmo diretor que deu ao cinema as pérolas já citadas.


A trama pouco inspirada foca no triângulo amoroso formado entre uma ex-jogadora de softball, um mulherengo sem-noção e um advgado envolvido em uma investigação federal, vividos respectivamente por Reese Whiterspoon, Owen Wilson e Paul Rudd. Whiterspoon, vencedora do Oscar em 2006 por "Johnny & June", tem pouco carisma no papel da complexada Lisa Jorgenson, uma personagem confusa e sem apelo para ser protagonista de uma comédia romântica. Wilson retorna ao papel que parece fazer em quase todos seus filmes: o cara bobo (e pegador) que não faz ideia do quão chato é. Quem se salva - e salva o filme da completa perdição - é Paul Stephen Rudd. Revelado ao grande público na última temporada do seriado F.R.I.E.N.D.S., no qual vivia o namorado da personagem Phoebe (a sumida Lisa Kudrow), Rudd logo garantiu seu espaço na tela grande, roubando a cena em "O Virgem de 40 Anos" (2005) e "Ligeiramente Grávidos"(2006). Provou seu talento cômico acima da média como protagonista do hilário "Eu Te Amo, Cara"(2009), mostrando que podia levar um filme nas costas. Aqui, ele consegue adequar o personagem George Madison ao seu tipo de humor, sendo o ponto alto do filme. Mesmo não querendo dizer muita coisa, é injusto que seu nome não seja o primeiro do elenco, pois é um dos melhores comediantes da atual safra americana, muito superior ao próprio Wilson.


Um caso à parte é a participação de Jack Nicholson. Uma das poucas lendas ainda vivas do cinema, o ator é adorado mundo afora não só por atuações marcantes em obras-primas como "Chinatown"(1974) e "O Iluminado"(1980), mas também pelo seu inegável carisma. Seu último papel marcante, em "Os Infiltrados"(2006), deixava claro que seu talento ainda estava lá, à espera do diretor certo para usá-lo. E metade do mundo acreditava que o diretor certo para isso era James L. Brooks, por motivos já esclarecidos no início do texto. Mas o ator, com 74 anos completados no último dia 22 de abril, não se mostra na melhor fase da carreira. Visivelmente acima do peso, seu papel nesse filme muito lembra a derradeira atuação do monstro Marlon Brando no filme "A Cartada Final" (2001), onde se via o triste fim de um dos maiores atores do cinema, em um papel muito pequeno para seu talento. O mesmo se sente aqui, onde Nicholson atua de forma afetada em um papel pouco elaborado, muito aquém das expectativas. Apesar disso, certas falas proferidas por ele dão um rápido brilho à tela, principalmente quando se forma em seu rosto aquele sorriso irônico que virou sinônimo de cinismo, com as famosas sombrancelhas arqueadas que nenhum outro ator tem. Juntamente com Dustin Hoffman (que inclusive é citado no filme), é um dos maiores atores que já deram as caras em Hollywood, mas devia marcar presença em mais produções ao invés de estar cada vez mais sumido ou deixado para papéis menores - como esse.

Os diálogos inspirados repletos de referências culturais que eram ponto positivo na filmografia de Brooks dão espaço a piadas fracas em situações forçadas. Chega a ser estranho acreditar que é o mesmo criativo Brooks o realizador desse projeto, repleto de clichês do início ao fim. Sem falar que a investigação a que o personagem de Rudd é submetido é abordada de maneira muito confusa no longa, que evita se aprofundar nos problemas dos personagens para buscar um humor raso. O resultado final acaba ficando com a cara de um filme menor de Woddy Allen.


O único momento que o nome Brooks marca presença na tela e envolve de fato os espectadores é a cena que se passa no hospital, após o nascimento do bebê da assistente de George. É a única cena em que Whiterspoon, Rudd e Nicholson realmente dão o melhor de si, e a declaração filmada pelo personagem de Rudd entre dois apaixonados realmente emociona a plateia.

Mas qualquer boa impressão causada ao longo do filme é enfraquecida depois do fraquíssimo final, onde só dá para acreditar que o filme foi encerrado daquele jeito quando os créditos sobem timidamente pela tela. Mais clichê, impossível. "Como Você Sabe", no final das contas, é uma comédia bobinha e totalmente esquecível que serve apenas para mostrar duas coisas: que o talentoso Paul Rudd merece papéis em filmes melhores; e que Brooks já não é o mesmo diretor que era, algo que pode ser consertado com um projeto melhor escolhido e realizado. Mas não é nada que abale muito a carreira consolidada e brilhante de um astro do calibre de Jack Nicholson. Um sorriso irônico com sombrancelhas arqueadas a isso!