terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Um Estranho No Ninho - Johnny Depp é "O Turista" em filme confuso e irregular


2006. O diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck conquista o mundo com "A Vida dos Outros", filmaço estrelado por Ulrich Mühe (que infelizmente morreu pouco depois da estreia do filme, em 2007). A produção que narra a história de um agente da polícia política da Alemanha Oriental envolvido num serviço de escutas clandestinas do apartamento de um casal da cena cultural de Berlim se mostrou um dos melhores filmes da década e abocanhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para Alemanha.

2010. O mesmo diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck, depois de chamar a atenção de Hollywood por seu trabalho de estréia, comanda as filmagens de "O Turista", thriller que junta as estrelas Johnny Depp e Angelia Jolie, causando por isso grande espectativa. O problema básico é que esse filme, ao contrário do antes citado, não empolga nem envolve o espectador.


Nessa trama acompanhamos Elise Clifton-Ward, personagem de Jolie, sendo perseguida pela equipe chefiada pelo inspetor John Acheson (Paul Bettany), que acredita que ela o levará ao misterioso e procurado ladrão Alexander Pearce, seu amante. E recebendo ordens dele, ela entra em um trem, onde deve escolher algum indivíduo fisicamente semelhante a ele para despistar os agentes. Mas calma, tudo isso é mostrado no trailer. E é a partir daí que a história se desenrola, quando ela (obviamente) escolhe a persona de Depp.

O problema é que tudo isso que foi descrito acima ocorre de maneira muito inverossímel e forçada, quase didática. Dessa forma, fica difícil (muito difícil) acreditar no que está sendo visto, o que faz o filme perder força logo de cara. Donnersmarck, sabe-se lá por quê, dirige o longa sem paixão ou originalidade (exatamente elementos que faziam a diferença em "A Vida dos Outros"), deixando ele cair em uma espiral de clichês. Assim, dá-lhe cenas exageradas e diálogos pouco inspirados, que aproveitam mal a pequena (quase imperceptível) química que chega a acontecer entre os protagonistas. A trilha sonora forçada até tenta ajudar, mas pouco muda ou melhora.

Angelina Jolie é uma das mulheres mais belas do mundo, ok. E ela sabe disso. Mas precisa saber que não é por isso que não precisa atuar em seus filmes. Apesar de se entregar a bons trabalhos como "A Troca" (2008) e "O Preço da Coragem" (2007), a atriz normalmente deixa o piloto automático guiá-la em filmes de ação como "O Procurado" (2008) e "Salt"(2010). Já aqui, ela simplesmente desfila em cena, como se estivesse sempre pensando "Eu sou a Angelina Jolie, olhem para mim." E os figurantes bizarramente olham. Assim, temos um desempenho digno das estrelas dos anos 40, cuja presença bastava, e não o talento. Mas, nesse caso, a presença dela não basta. O papel era originalmente endereçado à Charlize Theron, que sem dúvida o faria melhor.


Johnny Depp, ator que premiou o cinema com seu inspirado Jack Sparrow, um dos melhores personagens de todos os tempos, mostra que vem perdendo o controle de sua atuação desde então. Em "Alice no País das Maravilhas" ele já mostrava que estava virando uma caricatura de si mesmo. Não que o ator esteja ruim nesse filme. O problema é que seu personagem (que originalmente seria feito por Tom Cruise) é de humor, e o filme é um thriller. Logo, ele, com suas piadas, está um tanto deslocado em cena. Um "estranho no ninho", verdadeiro "turista" dentro do confuso roteiro, que não resolve que gênero adotar. Assim, Paul Bettany acaba sendo o melhor ator em cena, no papel do inspetor que tenta manter a seriedade nessa trama que atira para todos os lados e não acerta em nenhum deles. Vale citar a participação de Timothy Dalton, ator que foi o quarto a viver o agente 007 (em "Marcado para a Morte"(1987) e "Permissão para matar"(1989), e por coincidência(ou não), trabalha neste filme também como um agente especial do governo.

No final das contas, essa refilmagem do filme francês "Anthony Zimmer - A Caçada", de 2005, até diverte, mas fica muito abaixo das espectativas. Apesar dos dois nomes de peso que lideram o elenco, o resultado é um filme completamente esquecível. Espera-se que o talentoso diretor Florian Henckel von Donnersmarck tenha mais sorte nas futuras escolhas a serem feitas em Hollywood. Senão, é preferível que ele seja apenas mais um turista na cidade.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

"Brazilian Pie" - Novo filme brasileiro "Desenrola" os dilemas da adolescência


"Filme brasileiro? Tô fora!" Essa é, infelizmente, a reação da grande maioria dos adolescentes em relação a estreias do cinema nacional, tendo sido os dois "Tropa de Elite" raras exceções. Por isso, é arriscado fazer um filme voltado exatamente para esse público, o que ficou bem claro com a morna recepção do competente "As Melhores Coisas do Mundo", de Laís Bodanzky. Mas "Desenrola" tenta a sorte mostrando que é possível fazer um filme sobre adolescentes que os agrade, sendo feito, nesse caso, por eles mesmos.

O projeto da diretora Rosane Svartman, nascida em Memphis, EUA, era de fazer um filme derivado da série de TV "Quando Éramos Virgens", que foi criada por ela mesma em 2006. A partir daquela ideia, Rosane visou desenvolver o roteiro escrito por ela e Juliana Lins. Mas isso só poderia ser feito com a ajuda do público alvo em questão. Assim, o roteiro foi submetido a jovens de escolas do Rio de Janeiro e São Paulo, que, através das suas observações e sujestões, ajudaram a diretora a chegar ao resultado final que pode ser visto nas telas.

A perda da virgindade, assunto tratado várias vezes no cinema, como na famosa cinessérie "American Pie"(que depois do terceiro capítulo, virou um besteirol sem sentido) e "Superbad - É Hoje!", é aqui mostrada de forma inteligente e delicada. O ponto de vista feminino pode até afastar os garotos menos avisados, mas o longa agrada aos dois sexos, de maneira equilibrada. Não é um "filme para garotas" ou "filme para garotos", e sim um "filme para jovens".


O elenco foi selecionado depois de inúmeros testes, sendo a maioria de novatos no cinema. O papel da protagonista Priscila ficou com a linda Olívia Torres, que já participou de "Malhação" e é cantora. Com sua beleza e ingenuidade, mostra ser a melhor atriz em cena e tem tudo para ter uma grande carreira no ofício. Apesar do "destaque" da produção ser a participação de Kayky Brito, que faz a paixão platônica da personagem, seu personagem só está ali para aparecer sem camisa (o que deve atrair o público feminino) e o ator sempre parece estar bêbado em cena, encarnando a clássica imagem de "playboy".

Apesar de o filme ser, sem dúvida, de Olívia, quem rouba a cena é a dupla vivida por Lucas Salles e Vitor Thiré. O primeiro faz o sarcástico Boca, o "gordinho palhaço" que todo mundo conheceu um dia, que no meio de tantas gozações e piadas, acaba se encantando pela timidez e pureza de Priscila. Já Thiré faz Amaral, o clássico "amigo bobo" que existe em todas as salas de aula, estando sempre lá para...fazer alguma piada de mal gosto. Os dois protagonizam as cenas mais engraçadas do filme, que garantirão a alegria da ala masculina do público, com suas conversas francas sobre garotas, sexo...enfim, sobre o dia-a-dia. E atire a primeira pedra aquele que não se identificar com os sinceros diálogos que ocorrem entre os dois, que roubam tantas cenas que já garantiram uma série própria no canal Multishow, chamada "Desenrola Aí".


Como se trata de um filme brasileiro, as participações especiais de famosos não poderiam ficar de fora. Mas as únicas que têm sentido são as de Cláudia Ohana e Marcelo Novaes, que fazem os divertidos (e realistas, afinal MUITOS irão se identificar com o jeito dos dois) pais divorciados da personagem principal. Pedro Bial faz uma tímida participação como o professor que propõe o trabalho que "desenrola" a trama, mas Juliana Paes é totalmente dispensável em sua participação de 30 segundos (e duas falas) como a tia de Amaral. Assim como o comediante Smigol, que se não fosse a menção nos créditos finais, sequer seria reconhecido no papel de um vizinho do Boca. Mas sem dúvida, é bem melhor do que "Muita Calma Nessa Hora", que, pela história e número de "aparições especiais", parecia mais um especial da Globo ou da MTV, sendo um "projeto de filme".

Não bastando a leve e realista abordagem, montagem dinâmica ou personagens interessantes, o filme pode ainda agradar pela trilha sonora que, ainda que perdida em "sucessos" recentes e pouco inspirados, teve a idéia de voltar com hits dos anos 80, pela boa sacada do roteiro. Assim, o público pode entrar na história ao som de Paralamas do Sucesso, Legião Urbana (numa inspirada versão da belíssima "Quase Sem Querer") e, principalmente, Simple Minds, com a maravilhosa e atemporal "Don't You Forget About Me", que já embalou e ainda pode embalar muitos romances. Jimmy Kerr, vocalista da banda, faz ainda uma especialíssima participação no final da película.


Apesar de algumas cenas desnecessárias e da duração (afinal, estamos falando de apenas 88 minutos), "Desenrola" é um filme que mistura ficção e realidade divertindo na maior parte do tempo. Visto por adolescentes, pode abrir a visão desses em relação a temas decorrentes do cotidiano, como o uso de camisinha e gravidez na adolescência (não exatamente nessa ordem), além de tratar do inevitável clima de romance que as vezes rola entre amigos. Poucas vezes a tela de um cinema parece tanto o espelho de uma geração, ainda mais em uma produção nacional. Resumindo a história: "Desenrola" é um filme que, antes de ser adorado ou odiado, merece ser visto. Não é uma obra-prima, mas prova que há um futuro promissor para o cinema brasileiro, que depende do interesse desses jovens para poder, junto a eles, desenrolar e crescer.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Um Passo da Eternidade - Eastwood volta a focar na morte em "Além da Vida"


Ao assistir "Gran Torino", em 2008, não só eu, mas muitos outros cinéfilos concordaram que aquele tinha tudo para ser o último filme de Clint Eastwood. Era a chave de ouro que encerraria de forma perfeita a filmografia do grande ator e diretor, encarnação do durão Dirty Harry, o "Perseguidor Implacável". Mas pelo que se viu até agora, aquela foi apenas a despedida da frente das câmeras, pois o trabalho atrás delas continua a todo vapor. E depois de lançar o pouco inspirado "Invictus" em 2009, Eastwood volta a falar sobre a morte e a consequência dela na vida das pessoas, temas antes vistos em "Gran Torino" e no filmaço de 2003 "Sobre Meninos e Lobos", no belo "Além da Vida" (Hereafter, no original).

A trama evolui através de três segmentos distintos: o primeiro é focado na vida de uma jornalista francesa que sofre uma experiência de "quase morte", que a faz ter uma visão do que haveria no pós-vida. A segunda história é a dos irmãos gêmeos, filhos de mãe alcoólatra, que são tragicamente separados por um acidente. E a terceira, mais trabalhada e envolvente, é focada no ex-vidente que tenta levar uma vida normal apesar do seu dom (ou, segundo o próprio, maldição) de se comunicar com os mortos ao tocar nas mãos de algum parente do falecido. Obviamente que o roteiro encontra um modo de cruzar os três personagens lá pro final da projeção.


A comparação e relação com o "cinema espiritual", que tomou o Brasil com sucessos como "Bezerra de Menezes", "Chico Xavier" e "Nosso Lar", é inevitável. Mas ao contrário do que muitos possam pensar, o espiritismo não conquistou Hollywood. Aqui, a abordagem é outra, e em nenhum momento há panfletagem ou defesa de valores de determinada religião. O filme de Eastwood é, mais uma vez, sobre pessoas e experiências de vida (extraordinárias ou trágicas) pelas quais passam. Tudo com o olhar sereno e tranquilo de alguém que deixa a câmera simplesmente captar a emoção dos atores.

E dá-lhe emoção. Com esse filme, Matt Damon prova definitivamente que é um dos atores mais talentosos de sua geração, o que já podia ser deduzido depois de seus elogiados trabalhos em produções como "O Talentoso Ripley"(1999) e "Os Infiltrados"(2006). Seu amargurado e contraído personagem, George Lonegan, é um dos mais interessantes de sua carreira, provando a facilidade do ator em viver indivíduos com segredos no passado, sendo o maior exemplo disso o protagonista da "Trilogia Bourne", o grande papel de sua carreira.

Cécile De France, o outro grande nome do elenco, se apresenta bem à vontade em uma produção americana. As cenas que envolvem a atriz francesa (e que se passam na França), são faladas em francês, o que pode surpreender aqueles que forem esperando um produto clássico de Hollywood, onde europeus e asiáticos falam inglês normalmente. A língua original do país retratado é um detalhe que Eastwood sempre respeita em seus filmes, como visto anteriormente no ótimo "Cartas de Ivo Jima"(2006), todo falado em japonês. Um detalhe que faz toda a diferença e dá maior credibilidade à história. Os gêmeos Georgie e Frankie McLaren fazem os irmãos citados. No papel de Marcus, que tem mais tempo em cena, eles por vezes parecem bonecos, pela falta de expressão e falas. Mas nas cenas que exigem maior carga emocional, eles convencem de maneira tão eficiente que podem levar muitos às lágrimas.


A sempre linda Bryce Dallas Howard, filha do premiado diretor Ron Howard (de "Uma Mente Brilhante" e "Frost/Nixon"), engrandece a tela por alguns minutos com sua beleza no papel da animada jovem que é atraída pelo ar misterioso do personagem de Damon. Steve Schirripa, mais conhecido pelo papel de Bobby Baccalieri na genial série "Família Soprano", faz uma divertida participação especial como o professor do curso de culinária que acaba aproximando os dois. Mas o que deve surpreender parte do público mais velho é a presença de Jay Mohr, eterno coadjuvante galãzinho que aparece aqui bem envelhecido no papel do irmão interesseiro e aproveitador.


A mídia internacional fez questão de destacar uma cena do filme, com toda a razão. Logo no início da película, a personagem de De France é surpreendida por um Tsunami gigantesco na Tailândia, onde passava suas férias. As águas destroem todo o lugar, e daí vem a situação de "quase-morte" vivida pela personagem. As imagens são aterrorizantes e absurdamente realistas. O desespero toma conta das salas de cinema nos cerca de cinco minutos de cena. E esses cinco minutos conseguem ser melhores do que o filme "2012" inteiro, com suas quase três horas de duração. É Eastwood mostrando que os efeitos visuais podem ser (muito bem) usados para contar uma história, sem fazê-la dependente deles. E claro, tem muito a ver com a presença de um certo Steven Spielberg na produção...

No topo de seus 81 anos, Clint Eastwood prova que, junto com Martin Scorsese, é um dos melhores diretores americanos em atividade. Costura sua história de maneira simples e eficiente, sem permitir que o espectador perca o interesse em seus personagens, alternando pequenas cenas de humor com situações extremamente dramáticas. Isso tudo sem demonstrar cansaço, uma vez que já está envolvido em um novo projeto cinematográfico: a história do excêntrico fundador do FBI, J. Edgar, a ser vivido pelo astro Leonardo DiCaprio. Tem tudo pra ser mais um filmaço dirigido pelo homem que já foi escavador de piscinas e frentista antes de ser descoberto pelo diretor Sergio Leone (que lhe deu o papel de pistoleiro sem nome dos westerns que marcaram sua carreira), que prova cada vez mais que seu amor pelo cinema vai além da vida.

sábado, 8 de janeiro de 2011

"Essa família é muito unida..." - Os Fockers estão de volta em "Entrando Em Um Fria Maior Ainda Com a Família"


Quando "Entrando Numa Fria" (Meet the Parents) estreou em 2000, muitos foram os elogios à química entre Ben Stiller e Robert De Niro, que apresentava uma veia cômica até então desconhecida, brincando com sua clássica imagem de durão. Com "Entrando Numa Fria Maior Ainda" (Meet the Fockers), de 2004, a receita ficou ainda melhor com a adesão dos pesos pesados Dustin Hoffman e Barbra Streisand, impagáveis como os pais liberais do personagem de Stiller. E agora, seis anos depois, estréia a terceira parte da franquia, "Entrando Numa Fria Maior Ainda Com a Família" (Little Fockers).

Na trama bem simples, Greg (Ben Stiller) e sua esposa (Teri Polo) adicionam à família os irmãos Henry e Ashley Focker, gêmeos de cinco anos do casal. Mas as confusões começam mesmo com a ameaça de infarto que o sogrão, Jack Byrnes (De Niro), sofre. A partir daí, Jack começa a desafiar Greg a provar que pode ser o patriarca do clã caso algo aconteça com ele. E é a partir daí que as piadas se desenvolvem, em um filme que, tendo pouco a adicionar à cronologia da história (ou nenhum membro pra adicionar à família), investe mais no humor físico e em cenas engraçadas que envolvem os personagens já conhecidos apelando um pouco, mas aproveitando ao máximo a química estabelecida entre De Niro e Stiller ao longo desses 10 anos.


Apesar de ser um filme completamente desnecessário para a série, o diretor Paul Weitz (que substitui Jay Roach, o responsável pelos anteriores) consegue mudar o clima de comédia comportada tornando esse o exemplar mais divertido da trilogia, o que levam muitos a considerá-la a melhor parte. E dá-lhe cenas apoiadas em piadas com vômito, viagra, acidentes envolvendo facas e "O Poderoso Chefão". O destaque inquestionável vai àquela em que Greg, sendo enfermeiro, tem que resolver um problema ocasionado por um remédio tomado acidentalmente pelo sogro. Quem já viu, sabe que é um dos pontos altos do longa. É de fato impagável ver o sempre sério e tenso De Niro passando pelas situações mostradas (quem diria que ELE tinha medo de lagartos?).

No elenco liderado pela dupla já citada, são adicionados personagens que só têm como objetivo proporcionar mais situações engraçadas ao roteiro. É o caso da personagem de Jessica Alba. A estonteante atriz desfila toda sua beleza no papel de uma sexy e assanhada representante da indústria farmaceutica que mexe com a cabeça de Greg, despertando a suspeita do sempre atento Jack, ex-agente da CIA, que busca descobrir se o genro está traindo sua filha. Alba está um tanto afetada e caricata no papel, mas isso não parece ser problema para os membros masculinos do elenco (e da platéia). O sempre superestimado Harvey Keitel, faz uma pequena participação como o empreiteiro responsável pela obra na casa dos Fockers ("Fornika", na tradução brasileira). Apontado como destaque da produção, Keitel tem pouco tempo em cena e pouco adiciona ao resultado final. Vale mais para ver o ator contracenando novamente com o velho amigo De Niro, com quem fizera as obra-primas de Martin Scorsese, "Caminhos Perigosos" (1973) e "Taxi Driver"(1976).
Mas a adesão realmente digna de nota é a de Laura Dern, no papel da diretora da escola primária em que os gêmeos Focker vão estudar. As cenas dos testes dos gêmeos são hilárias, e é ela que protagoniza uma pequena grande cena envolvendo a dupla principal do longa, que por um momento são confundidos com um casal gay.


Owen Wilson volta como mais um personagem chato, o sem-noção Kevin. Barbra Streisand novamente esbanja conforto no papel da mãe sincera e hippie de Greg, agora apresentadora de um programa que fala, claro, de sexo (abertamente até demais). Mas quem de fato rouba todas as cenas para si é Dustin Hoffman, o mais engraçado da série. Bernie Focker tem menos tempo em cena que o esperado, porque Hoffman não retornaria ao personagem por problemas de salário. Depois, o estúdio o convenceu de retornar pelo salário proposto. Suas cena foram filmadas e inseridas na história já na pós-produção. É impossível não rir ao vê-lo destilar o talento para a comédia que já fora mostrado em "A Primeira Noite de Um Homem", seu filmaço de estréia, lançado em 1967. O ator é um dos mais talentosos de Hollywood, e infelizmente recebe menos papéis do que merecia. Prova nessa produção que ainda está na ativa e "muito bem, obrigado".


Como se pode ver, o filme vale a pena por seu elenco, e não por seu roteiro, que tem a conclusão repleta dos clássicos clichês Hollywoodianos. Apesar do final em aberto, que indicaria mais uma sequência, o melhor seria que os produtores encerrassem a franquia com essa chave de prata (ouro é exagero), caso contrário, podem acabar...entrando numa fria.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

In My Life - Adolescência de John Lennon é revisitada em "O Garoto de Liverpool"


Quando o nome de John Lennon é citado, é normal vir à cabeça das pessoas a imagem do homem de cabelos longos e óculos escuros com a camisa "New York City", eternizada na fotografia tirada na época do lançamento de seu maior hit, "Imagine". Mas a realidade que poucos conhecem é a sofrida e rebelde adolescência do ex-beatle em Liverpool, antes de fundar a banda que mudaria a história da música - e, de certa forma, do mundo. E é esse o foco do filme "O Garoto de Liverpool"("Nowhere Boy", no original).

Na trama, acompanhamos Lennon na fase em que ele descobre o paradeiro da mãe, de quem fora afastado ainda criança, morando desde então com a fria tia Mimi. E é ao conviver mais com Julia, sua animada e extrovertida mãe, que ele descobre sua paixão pela música. Essa o ensina a tocar banjo e o apresenta à Elvis Presley, que viraria ídolo do aspirante a cantor, inspirando sua postura e visual no início da carreira. Mas esse contato materno logo leva aos conflitos que movem o filme.

O grande triunfo do filme é focar na parte menos conhecida do homem que viraria o mito. Só os fãs dos Beatles notarão as pequenas menções feitas à história da banda, como as rápidas aparições do orfanato Strawberry Field e da rua Penny Lane, que inspirariam músicas do quarteto. A primeira cena do filme, inclusive, é uma menção ao filme "A Hard Day's Night", que os Beatles fizeram em 1964, detalhe que poucos irão notar. Desse modo, o filme não fica com cara de uma filmografia convencional, e isso acaba dando maior credibilidade aos personagens.


Não é exagero falar que o filme tem seu ponto alto nos atores. Aaron Johnson, que já tinha se destacado em "Kick Ass - Quebrando Tudo", surpreende em uma atuação magnética que atrai toda a atenção. Poucos ligarão o pacífico John Lennon à figura arrogante, irresponsável e grossa desempenhada por um topetudo Johnson, que causa grande estranhamento inicial. Mas assim como o Lennon real, o personagem se desenvolve ao longo no filme, e ao final todos acreditam que aquele é o homem por trás do ícone. Johnson se torna Lennon diante de nós, numa transformação que nos faz entender a tênue diferença entre atuar e se tornar. Atenção especial à voz do ator, idêntica à do cantor. Outra atriz que dispensa elogios é a sempre magnífica Kristin Scott Thomas , que arrasa na pele da dura tia Mimi, que cria o garoto. Sua personagem é do tipo que não sabe demonstrar os sentimentos, escondendo o amor pelo garoto atrás da postura rígida. Anne-Marie Duff também faz um belo trabalho na pele de Julia Lennon, que inspiraria a música "Julia" presente no Albúm Branco, uma das melodias mais bonitas escritas por Lennon.


Para dar vida aos jovens Beatles, Paul McCartney e George Harrison (é bom lembrar que Ringo não dá as caras aqui, pois só entrou na banda meses antes de estourarem), a diretora optou por escolher atores que não parecessem fisicamente com os músicos. Afinal, o filme é sobre Lennon, e não sobre a gênese da banda. Mesmo assim, Thomas Sangster, que dá vida ao jovem McCartney, consegue demonstrar a origem da amizade e eterna competição que ocorreria entre os dois músicos no futuro. O verdadeiro Paul, hoje com 68 anos, inclusive desmente o soco que teria levado de Lennon, retratado no filme.

Outra sábia escolha da diretora foi focar a trilha sonora nas músicas que inspiraram Lennon e os jovens membros do grupo Quarrymen, ao invés da escolha óbvia que seria os sucessos iniciais da banda. Assim, dá-lhe Elvis e outros sucessos dos anos 50 que representaram a origem do que se chama de "Rockn'Roll". Atenção especial à música "Maggie Mae", que Lennon aprendeu com a mãe e que seria oficialmente gravada pelos Beatles para o último álbum, "Let It Be", lançado em 1970. A fotografia do filme também é perfeita, e certos quadros parecem verdadeiras pinturas em movimento, graças às belas paisagens inglesas.


A polêmica do filme, dessa vez, ficou do outro lado das câmeras: durante as filmagens, Johnson se apaixonou pela diretora do longa, Sam Taylor Wood, que tem 43 anos. E assim começou o romance que culminou no casamento dela com o ator de 20 anos. A diferença de idade não foi problema, e o casal já tem uma filha que nasceu no final do ano passado.

O filme, de 2009, é lançado aqui em boa hora, no momento em que é comemorado ao redor do mundo os 70 anos que o cantor estaria fazendo se não tivesse sido assassinado há 30 anos a tiros por um "fã". No fim das contas, "Nowhere Boy" é uma pequena grande produção, que agrada mesmo àqueles que não são fãs do quarteto de Liverpool. Afinal, não é a história dos Beatles ali mostrada, e sim a do homem (no caso, garoto) por trás deles. A história do garoto de lugar nenhum.