quinta-feira, 4 de abril de 2013

Ao Mestre, Com Carinho: Roger Ebert (1942-2013)


Minha grande paixão pelo Cinema começou no final de 2005, no momento em que acabei de assistir "Em Busca do Ouro"(1925), de Charlie Chaplin. Quando decidi que viveria desse amor pela arte de fazer filmes, mergulhei de cabeça nos clássicos do cinema. Foi apenas em 2008 que tive acesso ao nome de Roger Ebert. Principais motivadores da minha carreira, meus pais me deram um livro que "poderia ser interessante". O nome era "A Magia do Cinema": se tratava de uma seleção dos 100 filmes mais marcantes da história na opinião do crítico em questão. O nome de Ebert já me era familiar, mas depois da leitura de seu livro, se tornaria bem próximo.

A "magia do cinema" do título realmente aconteceu. Aqueles textos eram diferentes de tudo que eu já tinha lido sobre filmes. Aquele crítico que escrevia semanalmente no Chicago Sun-Times tinha me ensinado como envolver as pessoas através de um texto sincero e apaixonado. Falava de cinema de uma maneira acessível, sem termos rebuscados ou técnicos que pudessem afastar os mais leigos. Suas palavras fluiam, exalavam paixão e criavam ansiedade e curiosidade para assistir cada uma daquelas obras - mais de uma vez, se necessário. Ebert me apresentou a filmes que eu nunca descobriria por conta própria, e fez isso da maneira mais agradável possível. Tanto que me despertou a vontade de fazer o mesmo com outras pessoas que não teriam acesso a certos clássicos menos conhecidos da sétima arte. Era um modo de escrever, antes de tudo, inspirador.


Após ler seu segundo livro, "Grandes Filmes", veio a coragem para falar sobre filmes. E assim nasceu o "Kaio No Cinema". Eu posso afirmar seguramente que nunca me atreveria a escrever minhas opiniões sobre filmes se não fosse a inspiração literalmente cinematográfica desse homem - que passou a ser um dos meus escritores favoritos. E por isso a imensa tristeza quando soube de sua morte. Roger Ebert se foi no dia 4 de abril de 2013, depois de lutar contra um câncer por mais de dez anos. Ele tinha 70 anos. Eu sabia que a luta tinha sido dura: para tratar o tumor na tireóide, passou por complicações de uma cirurgia feita em 2006 que deixaram-no incapaz de falar e se alimentar com comidas sólidas. Desde então, se comunicava através de um computador. Mas continuava a escrever sobre filmes em seu blog, sempre fiel ao público.

Roger Ebert era mais do que um mero crítico de cinema. Ele começou a escrever resenhas de filmes no jornal Chicago Sun-Times em 1967, e manteve essa atividade por 46 anos. Ficou extremamente popular nos Estados Unidos ao apresentar, junto com o também crítico Gene Siskel (1946-1999), o programa "Ebert & Siskel At The Movies", onde debatiam e opinavam sobre lançamentos e clássicos. Foi lá que popularizou sua marca registrada: classificava filmes bons ou ruins usando o polegar da mão para cima ou para baixo - muito antes da opção "Curtir" do Facebook.


Ebert costumava dizer que, para os cinéfilos, os diretores eram considerados quase amigos próximos. E acabou ficando realmente amigo de alguns, tamanho seu carisma e fama. Adorado pelos profissionais da área e cinéfilos em geral, Ebert foi o primeiro crítico de cinema a conquistar o prêmio Pulitzer e a receber uma estrela na Calçada da Fama, em Hollywood. Não é pouco. Foi um dos maiores críticos de cinema do século, talvez comparado apenas à Pauline Kael.

Antes de qualquer coisa, Roger Ebert foi um grande mestre inspirador. Nunca soube da minha existência e, infelizmente, nunca terei o prazer de agradecer pessoalmente por tudo que ele despertou em mim. Uma pequena homenagem seria inevitável, até porque só tive coragem de criar esse espaço de reflexão graças aos textos inspiradores que esse homem escreveu. Mais do que uma relação de carinho, tinha verdadeira gratidão pelo seu trabalho. E assim como ele divulgava e apresentava às novas gerações - através de cineclubes e livros - obras de mestres do passado que já se foram, espalharei suas referências e palavras por aqueles que quiserem conhecer mais sobre a arte pela qual nós dois nutríamos paixão. Roger Ebert não foi apenas um dos homens que me apresentou à real Magia do Cinema: ele foi, definitivamente, o homem que me ensinou a escrever sobre ela. E hoje é o "Kaio No Cinema" - e todos os cinéfilos do mundo - que levantam os polegares em sua homenagem.
Ao mestre, com carinho.