domingo, 22 de agosto de 2010

Império dos Sonhos - "A Origem", o filme do ano


Christopher Nolan conseguiu. Depois de brindar a sétima arte com verdadeiros filmaços como "Amnésia"(2000), "O Grande Truque" (2006) e com os dois mais recentes filmes do Homem Morcego ("Batman Begins" (2005) e "O Cavaleiro das Trevas" (2008)), ele se supera ao criar uma verdadeira obra-prima moderna. Com um roteiro original escrito por ele mesmo e efeitos incríveis usados de maneira inédita e bem pensada, "A Origem" ("Inception", no original) é sem dúvida o melhor filme do ano, pelo menos até agora.

O trailer mostrava cenas deslumbrantes sem esclarecer muito da complexa trama, que aborda a mente humana e seus sonhos. E é graças à essa complexidade narrativa que o filme se torna uma fascinante e inesquecível experiência. O fio principal é que para roubar uma ideia é preciso fazer uma pessoa sonhar com ela. O sonho tem de ser cuidadosamente planejado e executado, o que exige um arquiteto e um conjunto de profissionais que torne isso possível. E é aí que entra o grupo de Cobb (Leonardo DiCaprio, em um papel muito parecido com o do recente "Ilha do Medo"), especialistas
em extrair idéias do sonho das pessoas, que nesse caso tem o desafio de fazer uma inserção (daí o título) ao invés de uma extração.

Se DiCaprio é a grande estrela da produção, não deve ser o único a levar os elogios, uma vez que todos os atores realizam um grande trabalho. Cillian Murphy marca presença como a vítima do "golpe" em seu terceiro trabalho com o diretor (ele fizera os dois filmes do Batman como o vilão Espantalho), Ellen Page (eternizada como Juno em 2007) prova seu grande talento na pele da novata Ariadne, Joseph Gordon-Levitt (visto em "500 Dias Com Ela") mostra que não é apenas um ator indie e consegue se virar muito bem numa superprodução com seu estiloso Artur e Marion Cotillard dá sua suavidade a uma personagem chave. Mas a grande surpresa e destaque é Tom Hardy, muito à vontade na pele de um tipo de "mestre dos disfarces psicológico", o truculento Eames. A presença da francesa Cotillard no elenco talvez explique o uso insistente da música de Edit Piaf no desenrolar do processo, como uma menção ao papel que deu o Oscar à atriz em 2007.


Nolan mostra que é um dos melhores diretores da atual safra americana ao manter o total controle narrativo de uma complicada história que se desenvolve em diferentes camadas e realidades. O trabalho de edição também merece reconhecimento, pois consegue organizar a aparente desordem psicológica e permite assim a compreensão do espectador sem confundi-lo mais do que o necessário. Um Oscar nesta categoria seria mais que merecido.

O filme, como esperado, tem cenas simplesmente espetaculares, que possuem maior impacto na tela grande do cinema. Os efeitos visuais não ditam o ritmo da produção, mas são usados sabiamente para compor cenas que dificilmente são esquecidas depois do término da projeção. As melhores cenas são as protagonizadas por um Gordon-Levitt em gravidade zero, lutando sozinho contra vários seguranças em um prédio em movimento enquanto um sonho se desmorona (foto abaixo). Algo muito complexo para se explicar por aqui, mas que merece um lugar cativo na memória do público. Uma cena que nasceu para ser antológica.


Com toda a estrutura de filme alternativo, "A Origem" consegue ganhar porte de blockbuster graças aos nomes do elenco e ao grande orçamento. O longa tem tudo para agradar gregos e troianos, com muita ação, suspense e efeitos especiais e até alto grau de reflexão. Ou seja, entretenimento da melhor qualidade.

O objetivo do diretor e do seu longa não é dar respostas, e sim elaborar as perguntas visualmente. Ouso dizer que se o filme tivesse sido feito e lançado 5 anos atrás, causaria uma revolução no cinema semelhante à de "Matrix" no início do século. Afinal, é sempre bom sair do cinema questionando o que é, afinal de contas, real ou fruto de nossa imaginação.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Inimigo Público Nº1 - Vilão rouba o filme em "Meu Malvado Favorito"


Quando o novo estúdio de animação Illumination Entertainment anunciou o projeto de um filme que teria como protagonista um vilão que pretende roubar a Lua, as espectativas em torno de uma produção com toques sombrios e muito humor negro, no estilo Tim Burton, ficaram grandes. Bem, não é exatamente isso que assistimos nesse "Meu Malvado Favorito" (Despicable Me, no original).

Antes de mais nada, é bom deixar claro que o filme não é ruim, longe disso. Mas ao analisarmos o roteiro e o personagem principal, acreditamos que o resultado podia ter sido melhor. O (ironicamente) carismático Gru, com seu visual que remete ao Tio Chico (Uncle Fester) da "Família Addams", é uma ótima síntese de todos os vilões desengonçados e fracassados que conhecemos, podendo com justiça fazer parte do hall de grandes personagens criados pela animação cinematográfica. Ponto para Steve Carell, que o dubla no original, e para Leandro Hassum, que imprime um estilo único ao personagem na versão nacional.

Na história, o vilão tem que lidar com três órfãs, que estão sob os seus cuidados e não podem ser abandonadas. Como essas 3 pequenas são um tanto clicherizadas e apáticas (menos a caçula Agnes, que consegue se destacar bastante), os pequenos e estranhos ajudantes amarelos do malvado, usados fartamente na divulgação do longa, acabam sendo o ponto alto do filme. Mas ao mesmo tempo em que são deles as tiradas mais engraçadas e inspiradas, em alguns momentos eles interrompem a narrativa em partes claramente voltadas para o público mais infantil, acresentando pouco à trama. Mesmo assim, ou talvez por causa disso, será difícil alguém sair das salas de cinema sem ter sido conquistado por eles.


Diferente de outras animações recentes, como "Toy Story 3" e "Shrek para Sempre", essa faz um uso mais evidente e gritante da tecnologia 3D, com direito a muitos objetos jogados e mãos em direção à tela. Isso até garante maior diversão para quem assiste o filme nesse formato, mas enfraquece seu impacto no 2D tradicional.

O problema que pode ser notado já na metade da projeção é que todo charme e carisma se concentram em Gru e seus ajudantes, com personagens secundários pouco memoráveis, como o irritante antagonista Vetor (que acaba desperdiçando uma inspirada dublagem de Marcius Melhem). Assim, o protagonista e os amarelinhos têm que levar o filme sozinhos em suas costas. Talvez por isso o personagem seja um pouco corcunda.
Apesar desses pequenos pontos negativos e do excesso de pieguice na parte final, o filme tem ótimos momentos pelos quais merece ser (e será) lembrado.