segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Os Imperdoáveis - Um Top 10 de Grandes Injustiças da História do Oscar


A data é o dia 2 de Março. Se aproxima mais uma cerimônia de premiação do Oscar. E mais uma vez fazemos apostas e ficamos na expectativa para a festa mais glamourosa do Cinema. Mas vale lembrar, com muita atenção, que o Oscar não é o prêmio mais justo do mundo. Ao longo das 85 premiações realizadas, muitas injustiças foram cometidas e grandes nomes foram esnobados. Basta pegar qualquer lista dos filmes mais importantes da história para conferir que a grande maioria não tem uma estatueta no currículo - e isso serve para os próprios filmes americanos. O mesmo pode ser percebido entre os diretores fundamentais do cinema, muitos deles gênios esnobados pelo Oscar. Por que isso ocorre? Basicamente, é simples: o Oscar é um prêmio extremamente popular, mais voltado para a potencialização do sucesso de algum filme ou celebridade. Isso quer dizer que é um prêmio tendencioso, e quando está no "momento" de certo filme ou ator levar a estatueta dourada, dificilmente esse favoritismo é superado. O que não quer dizer que aquela foi de fato a melhor atuação do ano ou que o filme escolhido é uma obra-prima do cinema. Na maioria das vezes, inclusive, não é.

Mas há a tradição e diversão de acompanhar as cerimônias e homenagens feitas durante a grande festa. E por mais injusto que o Oscar seja, há uma aura irresistível em volta do evento. Não é mal nenhum assistir ou ficar na torcida, mas nada custa ter em mente que o Oscar já cometeu injustiças gravíssimas em sua história - e provavelmente ainda cometerá muitas enquanto existir.
"Kaio No Cinema" preparou uma pequena lista com algumas das injustiças mais gritantes ocorridas ao longo do prêmio. Foram tantas que fica até difícil de listar, ou seja: não é uma lista definitiva - afinal, nenhuma é -, mas sim a seleção de algumas gafes imperdoáveis dos votantes da Academia. Vamos aos casos:


10. Peter O'Toole, o esnobado.

 

Morto recentemente, o ator irlandes Peter Seamus O'Toole foi indicado ao Oscar de Melhor Ator 8 vezes, sem nunca ter sido premiado. Assim, se tornou o recordista em indicações sem nenhuma vitória, uma marca que ele não merecia. Isso, por si só, já seria uma grande injustiça do Oscar, mas chega a ser difícil imaginar que ele não foi premiado pela antológica atuação em "Lawrence da Arábia" (1962). A obra-prima de David Lean foi vencedora em quase todas categorias, incluindo Filme e Diretor, mas O'Toole - exatamente a alma do filme - ficou de mãos vazias. Quem levou a estatueta foi Gregory Peck, pelo trabalho em "O Sol É Para Todos". De fato, Peck é também responsável por uma das grandes atuações do cinema americano, mas isso não torna menos doloroso pensar que O'Toole teve que se contentar com um Oscar Honorário "de consolação" em 2003.


9. Jennifer Lawrence X Emmanuelle Riva



Em 2012, a musa do cinema francês Emmanuelle Riva comoveu o mundo com a intensa entrega no duro filme "Amor", de Michael Haneke. Seu trabalho visceral foi intensamente premiado mundo afora, e era certo que ela merecia qualquer prêmio por atuação feminina daquele ano. E então surgiu a jovem e popular Jennifer Lawrence em seu caminho. Aos 22 anos, a americana já era apontada como um dos grandes talentos de sua geração - e realmente é. Seu trabalho em "Inverno da Alma"(2011) era incrível e realmente só merecia perder para a Natalie Portman de "Cisne Negro", o que aconteceu. Mas no Oscar 2013, era a vez e hora de Riva, que se tornava a mais idosa atriz a ser indicada à categoria. Para piorar a situação, a dama francesa completava 86 anos exatamente na noite em que a cerimônia acontecia. O que poderia ser uma linda homenagem à veterana, acabou se tornando mais uma prova da frieza de Hollywood: o prêmio foi para Lawrence, pelo apenas eficiente papel em "O Lado Bom da Vida". A atriz é carismática em cena e merece mesmo a atenção da indústria, mas não era um papel digno de Oscar. Ela foi premiada cedo demais, e restou a Emmanuelle Riva aplaudir a jovem enquanto essa tropeçava na escadaria à caminho do palco.


8.  Ridley Scott, pela direção de "Gladiador". 


Responsável pelo retorno dos grande épicos à Hollywood, "Gladiador" (2000) ganhou todos os prêmios principais da ocasião - muito merecidamente. E logo quando Ridley Scott finalmente se tornaria um diretor oscarizado pela indústria, eis que surge Steven Soderbergh e rouba seu Oscar. O filme que lhe consagrou, "Traffic", era muito bem realizado e dirigido, mas não barrava o trabalho de Scott na condução da complexa superprodução. Desde então, o veterano diretor inglês de 76 anos segue como um dos nomes mais injustamente esnobados pelo Oscar. Indiferente à isso, continua em alta produtividade, adicionando grandes obras à sua filmografia. Mas que ele merecia mais reconhecimento, merecia!


7. Cate Blanchett como Bob Dylan.


O filme "I'm Not There" (2007) tinha uma proposta bem interessante: colocar 7 atores para interpretar o cantor e compositor Bob Dylan em diferentes fases da vida e da música. Entre todas atuações, o destaque absoluto era para Cate Blanchett, a única mulher do grupo. A australiana encarnava o ícone americano de forma assustadora, seja na voz, no gestual ou no visual. Blanchett realmente entrou na mente do homem e se tornou Dylan diante de todos que viram o filme. Ela era favorita absoluta na categoria Melhor Atriz Coadjuvante, mas quando o envelope foi aberto e o nome de Tilda Swinton anunciado, a própria escolhida ficou surpresa e incrédula. Swinton levou o Oscar pelo discreto papel em "Conduta de Risco", thriller eficiente que ninguém mais lembra muito bem. Já a atuação de Blanchett continua a ser cultuada e admirada por milhares de pessoas que se interessaram a conhecer melhor Dylan através do seu trabalho no filme. Blanchett, vencedora da mesma categoria em 2005 - ao encarnar Katherine Hepburn em "O Aviador" - chega ao Oscar 2014 como favorita ao prêmio principal pela atuação em "Blue Jasmine". Será que vem aí outra zebra?

6. Jack Lemmon, por "Se Meu Apartamento Falasse".


Uma das obras-primas da filmografia de Billy Wilder, "The Apartment" lhe deu seu segundo Oscar de Melhor Diretor e ainda levou os prêmios de Filme, Roteiro Original, Direção de Arte e Edição. Seria uma consagração totalmente justa se contasse também com uma estatueta pela atuação de Jack Lemmon. Afinal, foi através desse filme que ele se tornou definitivamente um dos artistas mais cultuados e queridos da indústria do cinema. Apesar do favoritismo de Lemmon, quem levou a melhor foi o veterano Burt Lancaster, pelo papel em "Elmer Gantry" - um filme bem esquecido no tempo, cá entre nós. Lemmon, vencedor de Coadjuvante por "Mister Roberts" (1955), só viria a ganhar na categoria principal por "Save the Tiger" (1973). A injustiça por "Se Meu Apartamento Falasse" seria abrandada quando Kevin Spacey, ao ganhar o Oscar de Melhor Ator por "Beleza Americana" (1999), dedicou o prêmio ao trabalho de Lemmon nesse imortal clássico. Uma homenagem tardia, mas muito justa.
 

5. O elenco de "O Poderoso Chefão".


O ano de 1972 foi tomado de assalto pelo fenômeno "The Godfather", obra-prima de Francis Ford Coppola. Só que em seu caminho tinha "Cabaret", o musical que representa o ponto alto da carreira do diretor Bob Fosse. O coreógrafo e cineasta ganhou - merecidamente, precisamos admitir - o Oscar de Direção, mas o filme de Coppola conseguiu as estatuetas de Filme, Roteiro Adaptado e Ator para o inesquecível Marlon Brando - que, aliás, recusou o Oscar e mandou uma atriz vestida de índia para buscá-lo. Independente dessa polêmica, a questão é que entre os indicados ao prêmio de Melhor Coadjuvante, o impecável elenco de "O Poderoso Chefão" marcou presença forte: Al Pacino, James Caan e Robert Duvall concorriam pela participação no filme. O favoritismo alternava entre Pacino e Caan, explosivos em cena e até hoje referências pelos seus papéis. E eis que é anunciado o vencedor: Joel Grey, intérprete do demoníaco mestre de cerimônias de "Cabaret". Embora fosse de fato um trabalho marcante, nem se comparava à intensidade dos dois atores anteriormente citados. Sem falar que Grey basicamente se aposentou dos cinemas depois disso, fazendo apenas participações afetivas em alguns filmes como "Dançando no Escuro" (2001). Um resultado até hoje discutido por muitos cinéfilos. 

 

4. Alfred Hitchcock, o mestre esquecido.

  


Ele é considerado o "mestre do suspense" e um dos diretores mais importantes da história do cinema. Apesar de todo prestígio e influência, Alfred Hitchcock - infelizmente - não era tão celebrado em vida. Sucesso de público e esnobado pela crítica, Hitchcock recebeu cinco indicações ao Oscar na carreira, pelo comando dos clássicos "Rebecca - A Mulher Inesquecível" (1940), "Um barco e nove destinos" (1944), "Quando Fala o Coração" (1945), "Janela Indiscreta" (1954) e "Psicose" (1960). Mesmo assim, foi solenemente ignorado todas as vezes e nunca levou a estatueta. Isso mesmo: o homem que ajudou a revolucionar o cinema e fez obras-primas como "Pacto Sinistro" (1951), "Um Corpo Que Cai" (1958) e "Intriga Internacional" (1959) sempre foi ignorado pelo Oscar. Seu único filme premiado foi "Rebecca - A Mulher Inesquecível", eleito o Melhor Filme em 1941 - mas sem o prêmio por sua direção. A Academia só corrigiu o erro em 1968, quando lhe concedeu o Prêmio Honorário Irving G. Thalberg, uma das maiores honrarias de Hollywood. Hitchcock, com seu característico jeitinho inglês, não deu muita bola para a tardia homenagem. E nem precisava.


3. Martin Scorsese e seu prêmio tardio.




Quando Martin Scorsese finalmente recebeu o Oscar de Melhor Diretor por "Os Infiltrados" (2006), todos seus fãs sabiam que era um prêmio tardio e burocrático, ainda que justo. O grande momento do cineasta tinha sido com "Touro Indomável" (1980), obra-prima de sua filmografia. Favorito aos prêmios de Filme e Direção, ele saiu de mãos vazias quando "Gente Como a Gente" ganhou a categoria principal e deu ao galã Robert Redford a estatueta de Direção em seu primeiro trabalho atrás das câmeras. "Touro Indomável" ainda é um dos maiores filmes da história do cinema, presente em qualquer lista de "melhores", enquanto... Quem lembra do filme de Redford? Pois é.
Algo semelhante aconteceu em 1990, quando "Os Bons Companheiros" mais uma vez colocou Scorsese no páreo dos prêmios principais e foi surpreendido pela inesperada vitória de "Dança Com Lobos" e do seu também galã e estreante diretor Kevin Costner. Parecia algo pessoal, não?



2."Cidadão Kane", um caso à parte. 


Volta e meia apontado como "o maior filme de todos os tempos" por diversas listas e críticos, "Citizen Kane" (1941) representa um marco definitivo na linha histórica do cinema. Inovações técnicas e narrativas fazem do filme de estreia do gênio Orson Welles uma das mais relevantes obras de arte do século XX. Apesar de toda essa importância e valor, o filme foi solenemente esnobado no Oscar daquele ano. No caso, é até compreensível: a trama que revisita a vida do magnata Charles Foster Kane - vivido pelo próprio Welles - foi diretamente inspirada na trajetória de William Randolph Hearst, um dos maiores magnatas da imprensa americana. Considerado o "pai" do jornalismo sensacionalista no continente, Hearst percebeu a "homenagem" e promoveu um intenso boicote ao filme, que acabou ignorado por público e crítica. O mesmo aconteceu na cerimônia do Oscar: das 9 indicações, levou apenas uma - a de Roteiro Original, mais direcionada ao co-roteirista Herman J. Mankiewicz do que para Welles, que passou a ser evitado pelos grandes estúdios. Já o prêmio de Melhor Filme ficou com "Como Era Verde o Meu Vale", que deu também o Oscar de Direção para John Ford. O genial Welles, que merecia ganhar em cada categoria a que foi indicado, pagou caro pela ousadia e se viu abandonado pela indústria que ele acreditava estar destinado a dominar.
 

1. Stanley Kubrick, por "2001 - Uma Odisséia no Espaço"



Bastaram 13 filmes para que Stanley Kubrick fosse considerado um dos diretores mais brilhantes do cinema. O título é justo. Em cada nova obra, uma barreira era quebrada em algum aspecto visual, criativo ou estrutural. Mas em 1968, Kubrick se superaria. Com "2001 - Uma Odisséia no Espaço", ele quebrou não só as barreiras da tecnologia, mas também as dos sonhos. Sua viagem sensorial era uma pintura em movimento, uma experiência audiovisual nunca antes realizada e jamais igualada. A partir de então, os efeitos visuais e o gênero ficção científica - até mesmo o próprio cinema - não seriam os mesmos, ainda bebendo de sua fonte. Apesar do grande sucesso e aclamação entre público e crítica, a Academia foi conservadora e premiou o musical "Oliver!" como Melhor Filme do ano. Muitos apontavam Kubrick como favorito ao Oscar de Diretor, pela visão inovadora e inventiva, mas a estatueta acabou com Carol Reed, responsável pela direção do musical premiado. Entre todas as quatro vezes que Kubrick foi indicado ao Oscar - por "Dr. Fantástico" (1964), "Laranja Mecânica" (1971) e "Barry Lyndon" (1975) -, essa foi a oportunidade em que ele chegou mais perto de conquistá-la - e de fato a merecia. Em toda sua brilhante carreira, só teve um Oscar de Efeitos Especiais no currículo, exatamente pelas criações de "2001". No final da vida, Kubrick seria lembrado com prêmios especiais pela sua contribuição ao Cinema - no caso, o Leão de Ouro no Festival de Veneza e o Prêmio D.W. Griffith, maior honraria do Director's Guild of America. Já a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas jamais teve a iniciativa de dar sequer um Oscar Honorário para o diretor. Bem... Basta conferir sua filmografia para perceber que não fez falta.


É claro que ocorreram muitos outros furos e zebras em 85 anos de premiação, e aqui estão apenas alguns exemplos mais gritantes. A entrega do Oscar 2014 será realizada no dia 2 de Março. Certamente, a festa terá aquele charme irresistível e ninguém conseguirá deixar de assisti-la. Nem precisa. O Oscar é uma clássica tradição cinematográfica e é inegavelmente divertido acompanhar as estrelas do cinema homenageando o passado, consagrando o presente e apontando possíveis tendências para o futuro. Mas é importante ter em mente que ganhar um Oscar não faz de um filme uma obra-prima, e que muitas obras fundamentais e grandes atores são anualmente esquecidos pela Academia e seus votantes. Que o digam títulos como "Luzes da Cidade" (1931), "Cantando na Chuva" (1952), "Psicose" (1960), "A Primeira Noite de Um Homem" (1967), "Taxi Driver" (1976), "Apocalypse Now" (1979), "Pulp Fiction" (1994) e muitos outros. Muitos mesmo.

Tendo isso em mente, QUE VENHA O OSCAR 2014!