domingo, 4 de março de 2012

A Sombra do Vampiro - Os 90 Anos da Obra-Prima "Nosferatu"


EXATOS 90 anos - mais precisamente no dia 4 de março de 1922 -, estreava na Alemanhha a grande obra-prima de F.W. Murnau e do Expressionismo Alemão: "Nosferatu - Uma Sinfonia do Horror".

Primeiro filme baseado no célebre romance "Drácula" de Bram Stoker, o longa teve que alterar nomes de personagens e lugares, pois os herdeiros do escritor não concederam a Murnau a autorização para realizar este filme. Após a estreia, a Justiça ordenou que se destruíssem todas as cópias finalizadas. E assim foi feito. Mas felizmente algumas delas já tinham sido distribuídas para Londres, e lá permaneceram guardadas e escondidas até a morte da viúva de Bram Stoker. E a sorte é nossa, por ter acesso a um dos maiores clássicos do cinema - que eu inclusive incluí na minha (polêmica) lista dos "20 Filmes Essenciais".

Friedrich Wilhelm Murnau começou a fazer filmes em 1919, ano em que o primeiro filme expressionista ("O Gabinete do Dr. Galigari") foi lançado. E o estilo e visual do Expressionismo Alemão inspirou e influênciou muito seus trabalhos posteriores. Como resultado, "Nosferatu" é a síntese de tudo que esse movimento tinha de mais impressionante: o contraste entre claro escuro, o visual gótico e os seres assustadores. De todos seus filmes, que ainda incluem os clássicos obrigatórios "Fausto" e "Aurora", nenhum alcançou tamanha fama e prestígio.


Ao invés de construir cenários, Murnau resolveu filmar todas as cenas em locação, em uma região isolada da Bulgária - e isso faz toda a diferença na climatização da história. O tom sinistro o transformou no primeiro grande filme de terror, chegando a ser banido da Suécia devido ao horror causado em quem o assistia. O segredo era não usar sustos fáceis, mas sim imagens hipnóticas que não saíam da cabeça.

E o responsável pela maioria dessas cenas assustadoras e hipnóticas era Max Schreck, o primeiro a representar o personagem de Drácula - aqui, no caso, Conde Orlock. Ao invés do charme ligado à imagem dos vampiros no cinema, o sanguessuga de Schreck tem o visual parecido com o de um rato, com os dentes de vampiro semelhantes ao de um roedor. O visual exótico é porque, no filme, seus ataques são uma metáfora da Peste Negra (causada por ratos) que assolou a Europa. E ainda é a maior representação do mal já vista na tela. Sempre que aparece, alguém morre ou algo ruim acontece. Sua composição de personagem foi tão marcante que gerou o boato de que ele era, na verdade, um vampiro real que fora contratado por Murnau para dar maior veracidade à personagem. Tudo reforçado pelo fato de que a palavra alemã "schreck" (seu sobrenome) significa “susto, espanto”. Essa lenda foi a base para o filme "A Sombra do Vampiro", dirigido por E. Elias Merhige. Nele, John Malkovich interpreta um atormentado Murnau, enquanto Willem Dafoe foi indicado ao Oscar de Coadjuvante pela atuação como o vampiro Schreck.


Após assistir ao filme, é normal sentir um clima pesado. E esse é o grande diferencial, que o torna único e inimitável. Mestre alemão do cinema, Werner Herzog tentou refilmá-lo em 1979, com Klaus Kinsky no papel principal. O resultado é bom, mas não se compara ao tom macabro e sinistro do original. Assim como nenhum filme de vampiro feito posteriormente - nem mesmo o famoso Drácula de Bela Lugosi.

Há nove décadas, Murnau e Schreck criaram a melhor representação do mal nas telas do cinema, ainda incomparável. Um dos primeiros filmes mudos a que assisti, "Nosferatu" é uma aula de cinema em sua essência, atemporal e universal. E uma obra que, assim como um vampiro da noite, nunca perderá seu encanto ou magia.

O Criador de Galáxias - Ralph McQuarrie (1929-2012)


Poucos conhecem Ralph McQuarrie de nome. Mas ele foi o designer de produção da saga Star Wars, a grande mente criativa que ajudou na transposição do fantástico mundo criado por George Lucas para as telas do cinema. Ele faleceu ontem, aos 82 anos de idade.

O diretor de cinema, amigo pessoal do artista, publicou uma mensagem em sua homenagem:

"Estou profundamente triste pela morte de um homem tão visionário e tão humilde. Ralph McQuarrie foi a primeira pessoa que contratei para me ajudar a criar Star Wars. A sua contribuição genial, na forma de incomparáveis pinturas de produção, impulsionaram e inspiraram todo o elenco e a equipe na trilogia original de Star Wars. Quando palavras não podiam transmitir minhas ideias, eu sempre podia apontar para as ilustrações de Ralph e dizer, 'Faça assim'.

Além dos filmes, sua arte tem inspirado pelo menos duas gerações de jovens artistas - todos que aprenderam com Ralph que filmes são projetados, desenhados. Como eu, eles ficaram emocionados por seu olho vivo e sua imaginação criativa, que sempre levaram os conceitos ao seu patamar mais ideal. De muitas formas, ele foi o pai generoso de uma revolução na arte conceitual que nasceu do seu trabalho e que tomou a imaginação de milhares e impulsionou-os para a indústria cinematográfica. Nesse sentido, vamos nos beneficiar da sua obra por muitas gerações. Além disso, sempre lembrarei dele como um amigo e colaborador gentil, paciente e incrivelmente talentoso".

Mais um grande artista que se vai, deixando de herança o visual único e revolucionário que saiu de sua brilhante imaginação. Fica aqui uma singela homenagem a um dos homens que criou o universo no qual passei grande parte da minha infância.