quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Percy Jackson e o “Padrão Harry Potter de Produção”


Dois filmes. É isso que falta para o fim de uma das maiores franquias cinematográficas dos últimos anos, focada nas aventuras de um certo bruxo adolescente. Mas desde 2005, com “As Crônicas de Nárnia: O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa”, os estúdios buscam novos personagens que consigam se tornar os sucessores de Harry Potter e sua turma na bilheteria mundial e no imaginário dos adolescentes. “Percy Jackson e o Ladrão de Raios”, novo longa de Chris Columbus ( que por acaso, ou não, foi o diretor dos dois primeiros filmes de Potter) é mais um filme que aposta na mistura de aventura+efeitos especiais para conquistar o público infanto-juvenil.

“O Ladrão de Raios” é a adaptação do primeiro de uma série de cinco livros juvenis de Rick Riordan, lançado em 2005 nos Estados Unidos. O desenvolvimento da trama é bem previsível, mas a novidade aqui é a interessante atualização que é feita dos elementos e personagens da mitologia grega, sendo que todos deuses e monstros estão lá, de uma maneira ou de outra. Trata-se então de uma excelente maneira de apresentar esses maravilhosos mitos para as crianças ou àqueles que ainda não os conhecem.

Descobrimos durante a sessão que os deuses gregos, por vezes, descem à Terra misturando-se entre nós e “ficam”(relacionam-se) com pessoas normais, voltando logo depois por ordem de Zeus, soberano do Monte Olimpo. Assim, nascem os semi-deuses, como é o caso do herói do filme, Percy Jackson (Logan Lerman), no caso, filho de Poseidon. Depois de descobrir seus poderes, é informado que está sendo acusado de roubar o raio de Zeus e precisa encontrá-lo antes que uma guerra aconteça. A partir daí, segue-se a regra dos roteiros desse tipo de filme: apresentação dos personagens, problemas ao longo do trajeto e vitória para os mocinhos no final. Mas de maneira dinâmica e divertida.

O trio principal configura-se de forma semelhante (até demais, diga-se de passagem) ao da saga de J.K.Rowling. Temos um jovem herói surpreendido por um segredo do passado e confuso em relação a seu futuro e aos seus poderes (interpretado pelo seguro Lergman); uma amiga bonita, leal e independente (a bela Alexandra Daddario ) e o amigo engraçado/atrapalhado, mas sempre disposto a ajudar, dessa vez um Sátiro (meio homem, meio bode) vivido pelo hilário Brandon T. Jackson, o destaque do elenco.

Encontramos entre os atores vários rostos ilustres, como Uma Thurman em uma pequena participação como a Medusa e Pierce Brosnan deixando de lado o inesquecível visual de James Bond para viver um personagem “à la Dumbledore”. Os ótimos Sean Bean (O Senhor dos Anéis) e Catherine Keener (Capote) são desperdiçados em papéis pequenos demais para seus talentos, como Zeus e a mãe de Percy, respectivamente.


Columbus, especialista em filmes do gênero, injeta ritmo na história, que apresenta efeitos especiais muito bem feitos e que sozinhos já agradarão a grande parte do público. Mas não deixa de ser estranho acreditar que o Olimpo, morada dos Doze Deuses, virou o Empire State Building, em Nova Iorque, e que a entrada para o Inferno, controlado por Hades, fica escondida em Hollywood, num lugar bem improvável. Toda cultura clássica é modernizada em tiradas por vezes espertas ou óbvias demais. O filme em si diverte, mas o pecado é não trazer nada de novo para o gênero, sendo, cá entre nós, apenas um filme para se ver com amigos, numa tarde no shopping.

Obviamente, os outros livros da série serão adaptados para as telas em breve, e considerando o relativo sucesso do filme nas bilheterias, pode ser que esse personagem seja o candidato mais óbvio a substituto do bruxo mais famoso do mundo. Mas não esqueçamos que antes dele vieram "Eragon" (2006),que fracassou, "Crônicas de Nárnia"(2005 e 2008), que criou certa legião de fãs e até mesmo o recente sucesso mundial de "Crepúsculo" (2008 e 2009). No fim das contas, sinceramente, ficamos com a incômoda sensação de que o melhor nessa temporada de busca por um novo Harry Potter acabará sendo o próprio Harry Potter...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Ao Cair Da Noite – A volta do Lobisomem ao cinema


Ao analisarmos a história dos monstros no cinema, rapidamente podemos ver que o Lobisomem nunca recebeu a mesma atenção dada ao Drácula ou ao Frankenstein, sendo sempre um monstro secundário na galeria de aberrações da sétima arte. Parece que isso vai mudar um pouco, ou pelo menos merecia mudar, com a estréia do ótimo O Lobisomem nos cinemas mundiais.

Já passava da hora de trazer o homem-lobo para o novo milênio com efeitos especiais que ele merece, uma vez que os longas anteriores não eram tão bem feitos, muito em vista da época em que foram realizados. O melhor exemplar antes apresentado fora "Um Lobisomem Americano em Londres", de 1981, dirigido e escrito por John Landis (o diretor do clipe de “Thriller”, de Michael Jackson), que trouxe para as telas efeitos incríveis para a época e até ganhou o Oscar de Melhor Maquiagem, feita por Rick Baker. O próprio Baker foi chamado novamente para criar parte das maquiagens a serem usadas nessa nova versão.

A história é bem parecida com a do filme original de 1941, onde Lawrence Talbot (Benicio Del Toro, visto recentemente nas telas como Che Guevara) retorna ao castelo de seu pai, Sir John Talbot (Anthony Hopkins, o eterno Hannibal Lecter), onde se apaixona pela bela Gwen Conliffe (Emily Blunt, de O Diabo Veste Prada), mulher de seu falecido irmão, que fora morto por uma fera das redondezas. Mas, após ser mordido por essa fera, Lawrence passa a viver a terrível maldição.

O melhor do filme é seu elenco, sem dúvida. Del Toro foi uma escolha perfeita, mostrando de forma convincente todos os sentimentos que cercariam alguém que estivesse nessa situação. Hopkins, como sempre, rouba todas as cenas em que aparece como o misterioso pai ausente. Os ângulos e ritmo adotados pelo diretor Joe Johnston têm o estilo clássico de
Hollywood, que estava ausente já há algum tempo, com direito a muitos closes nos atores e bom uso da trilha sonora, do grande Danny Elfman (criador da trilha de quase todos os filmes de Tim Burton). Do ponto de vista técnico, o filme é impecável, com ótimos efeitos especiais, edição rápida (que garante bons sustos) e cenários por vezes envolventes, intimidadores ou deslumbrantes. O Lobisomem em si é muito bem feito e assustador. Só a cena da transformação já vale o preço do ingresso.

O filme é violento e ágil na medida certa, tendo tudo para agradar quem gosta não apenas de filmes de terror, mas também de bom entretenimento. Considero o melhor já feito sobre o monstro em questão, abordando todos elementos de sua mitologia de forma eficiente. Tomara que dessa vez o Lobisomem, sempre subestimado, tenha maior sorte no cinema. Pelo menos o suficiente para nos fazer pensar duas vezes antes de sair numa noite de lua cheia...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Aqui está o vídeo que eu fiz com os personagens e cenas mais marcantes dos filmes de Máfia, para ilustrar meu último texto. Espero que gostem!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sindicato de Ladrões



Armas; assaltos a bancos; lavagem de dinheiro; envolvimento com drogas; tiros e mortes. Não, não é uma descrição da situação do tráfico no Rio de Janeiro, e sim características de um dos gêneros mais tradicionais do cinema americano: os filmes de gângster.

Esse gênero de filme teve origem na década de 1930, quando os mafiosos dominavam algumas cidades dos EUA (Chicago principalmente) e a violência estampava os jornais diários. O primeiro filme a retratar a situação com fidelidade foi “Scarface – A Vergonha de uma Nação” (1932), baseado ligeiramente na vida do mafioso Al Capone, que tinha esse apelido na vida real devido a uma cicatriz no rosto – o mafioso, aliás, adorou o filme. O longa levantou polêmicas devido ao excesso de violência apresentado, sendo que essa era ainda leve comparada à que se veria depois. O sucesso com o público gerou a intensa realização de produções semelhantes, principalmente com o ator James Cagney. Na década de 1940, o gênero já estava batido.

Tudo mudou em 1972. Naquele ano era lançada uma superprodução dirigida por Francis Ford Coppola, que adaptava a obra do italiano Mario Puzo. “O Poderoso Chefão” mostrava a vida dos membros da família Corleone e como eles controlavam parte da Máfia na Nova York da década de 1930. Contava com um dos mais famosos personagens da história do cinema, Don Vito Corleone, o patriarca da família de mafiosos, brilhantemente interpretado por um inesquecível Marlon Brando, que chegou a ganhar o Oscar pelo papel. A produção tinha um dos melhores elencos já reunidos em um filme (contando com Robert Duvall, Diane Keaton, James Caan e um novato que faria história no gênero, Al Pacino) e é ainda considerada por muitos cinéfilos como o melhor filme já feito, sendo que nesse grupo está incluído este que vos escreve. Sucesso de público e crítica, ganhou ainda o Oscar de Melhor Filme e de Melhor Roteiro Adaptado para Puzo, autor original da obra. Teve uma igualmente excelente seqüência (“O Poderoso Chefão-parte II”, de 1974) que foi a única a também levar o Oscar de melhor filme; e uma terceira parte (“O Poderoso Chefão-parte III”, de 1990), que embora inferior às anteriores, é também um ótimo filme. Muitos dos que reclamam das traduções feitas para títulos de filmes no Brasil devem admitir que essa foi a melhor já criada, pois soa muito melhor que “O Padrinho”, que seria a tradução literal da obra (The Godfather).

Pouco mais de 50 anos após o lançamento da versão original, o aclamado diretor Brian De Palma lançou a refilmagem “Scarface” (1983), imensamente melhor (e mais violenta) que a original. A origem do personagem foi mudada, sendo ele agora um cubano exilado por seu comportamento explosivo, que é revelado da pior maneira em sua busca pelo poder em Miami. O personagem foi interpretado dessa vez por um inspirado Al Pacino, num roteiro que rendeu algumas cenas antológicas para os fãs do gênero.
O mesmo De Palma lançou quatro anos depois “Os Intocáveis”(1987) adaptação de uma série de TV homônima dos anos de 1960. Totalmente diferente da série, o filme mostrava a saga do grupo de Eliott Ness (Kevin Costner) para prender o grande mafioso Al Capone em Chicago e trazia Sean Connery no papel que lhe daria o Oscar de coadjuvante e Robert De Niro roubando todas as cenas com sua perfeita personificação de Capone.

No ano de 1990, um diretor de descendência italiana retorna às origens nos pequenos bairros italianos em Nova York que eram dominados por gangues de mafiosos no realista “Os Bons Companheiros”. O filme de Martin Scorsese se destacou por mostrar de maneira nua e crua a frieza e violência presentes nesse mundo, longe do romantismo adotado em “O Poderoso Chefão” e outros filmes do gênero. Ali, traições, mentiras, tudo estava em jogo. O filme foi mais um ponto alto na carreira de Scorsese - diretor de obras-primas como “Táxi Driver”(1976) e “Touro Indomável”(1980) - e dos atores Robert De Niro, Joe Pesci ( que ganhou o Oscar de coadjuvante pelo seu papel) e do então estreante Ray Liotta.

A Máfia entraria nas telas no século XXI através da aclamada e premiada série da HBO “Família Soprano”(1998-2006), que retratava a realidade de Tony Soprano (o incrível James Gandolfini), chefão da Máfia de Nova Jersey nos tempos atuais. Uma espécie de “Poderoso Chefão contemporâneo”, e com qualidade comparável, tendo ganhado vários Emmy’s, o Oscar da TV americana.

Na última década, poucos foram os filmes que representaram o gênero, sendo destaques os seguintes filmes: “Estrada para Perdição”(2002), belíssimo filme de Sam Mendes protagonizado por Tom Hanks e passado na fase de ouro da Máfia nos EUA, contando ainda com a última aparição do mito Paul Newman(1925-2008) nas telas; o maravilhoso “O Gângster”(2007), filme de Ridler Scott que traz um interessante duelo de interpretações entre Denzel Washington e Russel Crowe na Nova York da década de 1970 (onde as drogas começavam a marcar presença) e injustamente ignorado pela Academia de Cinema em premiações; e o mais famoso dos três: “Os Infiltrados”(2006), um retorno de Scorsese ao tema, dessa vez focado na ação da máfia irlandesa e vencedor dos Oscar de Melhor Filme e Diretor, entre outros.

O filme mais recente do gênero, “Inimigos Públicos”, de Michael Mann (diretor dos ótimos “O Informante” (1999) e “Colateral” (2004)), traz Johnny Depp no papel de John Dillinger, mafioso que realmente viveu e ameaçou a Chicago da década de 1930 e se tornou uma celebridade por seus roubos e fugas. Muita coisa que é mostrada no filme pode parecer mentira, mas de fato aconteceu. Johnny Depp está à vontade no papel, diferente de Christian Bale, que às vezes parece um pouco forçado como o investigador que o persegue. O filme traz muita ação e é eficaz, embora se esperasse mais de uma produção com tantos bons nomes envolvidos.

O contrário pode se falar do quase homônimo “Inimigo Publico Nº1”, um filme francês de Jean-François Richet com distribuição reduzida no circuito nacional. O filme narra a primeira parte da vida de Jacques Mesrine, mafioso muito famoso na França, que atuou na década de 1970. Vincent Cassel, ator francês que pode ser visto atualmente em “À Deriva”(do brasileiro Hector Dhalia) está assustadoramente convincente na pele do bandido, em uma daquelas atuações que costuma destinar muitos prêmios a quem a realiza. O filme, alias, chega a ser mais interessante (e mais violento) do que a produção de Michael Mann, o que não deve tirar o mérito dela. Mas é um filme a ser procurado, pois é uma pequena pérola a ser descoberta.

Que fique claro que todos os títulos em negrito na matéria acima são indicações de filmes para quem quiser conhecer mais esse tradicionalíssimo gênero do cinema. Além desses, recomendo também o obrigatório “Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas”(1967), o premiado “Um golpe de Mestre”(1973) e ainda o belíssimo e lírico “Era uma Vez na América”(1984), épico do grande diretor de faroestes Sergio Leone.

Embora seja um estilo de filme marcado pela violência e brutalidade, gerou verdadeiras obras-primas da sétima arte, que são referencia para muitos iniciantes e merecem ser assistidas por muitas gerações. São filmes que, por algumas horas de projeção, nos fazem ter simpatia pelos “bad boys”, torcendo para que eles consigam sobreviver às rajadas de balas que vem das armas dos policiais. Eles matam gente, mas não queremos que eles morram. E causar esse tipo de emoção em todos que assistem é de fato um “golpe de mestre”. Afinal, para nós, eles não são nada mais que “bons companheiros”.



* Só para quem quiser saber, o título dessa matéria é o mesmo do filme “On the Waterfront”(1954), de Elia Kazan, que apresenta algumas características do gênero, embora não seja considerado um filme de máfia. O filme é um dos melhores já feitos, tendo ganhado a estatueta de Melhor Filme e dado a Marlon Brando o primeiro Oscar de sua carreira (o segundo viria com “O Poderoso Chefão”).