Eis que, meio século depois, chegamos à estreia de "Operação Skyfall", a 23ª missão do agente - encarnado pela terceira vez no inglês Daniel Craig. Antes dele, o espião que todos amam foi interpretado (oficialmente) por cinco diferentes atores: Sean Connery (em seis filmes oficiais e um independente), George Lazenby (em um filme), Roger Moore (sete filmes), Timothy Dalton (dois filmes) e Pierce Brosnan (quatro filmes). E para comemorar os 50 anos de 007 nos cinemas em grande estilo, o "Kaio No Cinema" fez uma seleção com os seis filmes mais marcantes protagonizados por cada ator que já teve a sorte de se apresentar como o personagem.
Vamos aos filmes!
Daniel Craig - "Cassino Royale", 2006.
Verdade
seja dita: TODO MUNDO estranhou e reclamou quando anunciaram um cara
loiro, de olhos azuis e visual truculento como a nova encarnação de
James Bond - principalmente a geração acostumada ao charme do galã
Pierce Brosnan. Mas Daniel Craig superou as críticas iniciais,
excedeu as expectativas e provou ser a escolha certa, adaptando seu
agente para o século XXI da melhor maneira possível. Seu 007 erra,
sangra, se precipita, se apaixona... Ou seja, é um heroi de
carne-e-osso. O filme também ajudou: "Cassino Royale" tem um dos
roteiros mais amarrados e redondos de toda a série, contando ainda com a
estonteante Eva Green como uma das melhores Bond Girls e com um vilão
crível, que só quer salvar sua pele e não dominar o mundo. Tudo isso
pontuado com cenas de ação espetaculares - a perseguição inicial está,
sem sombra de dúvida, entre as melhores feitas no cinema
nessa última década.
Pierce Brosnan - "Um Novo Dia Para Morrer", 2002.
Quando
Brosnan assumiu o papel do agente secreto, em "GoldenEye"(1995),
pareceu cair como uma luva no universo de Bond. Caiu nas graças do
público com seu terno sempre impecável e ar debochado. Só que seu
"reinado" durou menos do que o esperado, protagonizando apenas quatro
filmes. Embora tenha sido a cara de 007 na década de 90, foi nessa
última missão como o agente que ele melhor juntou os ingredientes de sua
"fase". Missões absurdas que resultariam no colapso mundial, apetrechos
tecnológicos que só os efeitos especiais poderiam tornar possíveis,
cenas de ação explosivas/exageradas que só reforçavam a ideia de "super-homem" e
ainda uma tirada cômica ao final de cada golpe dado em um inimigo...
Está tudo lá. (Muitos) Exageros à parte, comprovou o sucesso de Brosnan
como o personagem e fechou bem sua participação na franquia.
Timothy Dalton - "Permissão Para Matar", 1989.
Quase
vinte anos antes de Daniel Craig injetar mais realismo
na franquia 007 com seu "reboot", o diretor John Glenn e Timothy Dalton já arriscavam uma
aventura de James Bond mais "pé no chão". O resultado foi esse filme,
possivelmente o mais violento da série. A ideia era arriscada:
apresentar um James Bond em busca de vingança por um amigo que tinha
sido torturado e morto. Para piorar, ele perdia sua licença para matar e o apoio do MI6, tendo que agir por conta própria. O resultado foi uma
certa descaracterização do personagem, deixando o filme com cara
daqueles clássicos de ação que passam no "Domingo Maior", bem anos 80.
Mas é aqui que fica claro o estilo durão do agente de Dalton -
desaprovado pelos fãs mais fervorosos. E nada de magnatas querendo
dominar o mundo: aqui o vilão era um violento traficante de drogas, cujo
capanga foi o primeiro papel de um certo Benicio Del Toro. Ame ou odeie, vale uma conferida.
Esse pode até não ser o melhor filme da fase Moore - muitos berrarão "O ESPIÃO QUE ME AMAVA!!"-, mas é aqui que melhor aparecem as características marcantes desse período. O irônico Moore encarnou Bond nas aventuras mais fantasiosas e exuberantes - e, por vezes, mais divertidas - do agente. Não apenas o visual, mas o próprio tom dos filmes tinha mudado. Nesse, o primeiro filme apresentando Moore, os anos 70 - com toda sua moda, música, estilo, ideiais - pulsam na tela da primeira à última cena. Tudo com direito a trilha sonora original de Paul McCartney, cenas em Nova York, vilão com um "mortal" braço mecânico, jacarés, perseguição de lancha, cartas de tarô, cobras, vudu e rituais satânicos. É, deu para sentir o clima.
George Lazenby - "A Serviço Secreto de Sua Majestade", 1969.
Temos aqui o filme mais criticado e renegado de toda a franquia, muito devido à presença do então modelo George Lazenby como o primeiro "novo Bond" da saga de 007 nos cinemas. Apesar da fama e do preconceito geral, acredite: Lazenby não manda tão mal assim. Seu agente tem menos personalidade que os demais, é verdade, mas ele consegue segurar as rédeas. Até porque essa é uma das tramas mais interessantes adaptadas dos romances originais de Ian Fleming. Para se ter uma ideia, além de ser uma das aventuras mais realistas, conta ainda com o casamento (sim, casamento!) de James Bond - o que, por si só, já é motivo de sobra para ver o filme. O elenco de rostos marcantes - do qual fazem parte Telly Savalas e Diana Rigg - dá um estilo visual bem marcante ao filme, que ainda tem um dos cenários mais misteriosos e exóticos já visitados por 007: Piz Gloria, uma instalação bem no meio dos Alpes Suíços. Isso sem falar na trilha sonora composta por John Barry especialmente para o "novo Bond" que entrava em ação. Ajuda muito o resultado, pode ter certeza. Definitivamente, um filme que merece uma chance.
Sean Connery - "Golfinger", 1964.
É bom deixar claro que esses filmes aqui citados não são necessariamente "os favoritos" do cinéfilo que vos escreve. O objetivo desse artigo não é fazer uma lista com "os melhores filmes da franquia", e sim apontar os que melhor definem a fase de cada ator que já deu rosto a James Bond. Muitas vezes é inevitável apontar um filme como predileto ou "número 1", mas isso sempre gera polêmica e discussões. É impossível alcançar unanimidade nesse quesito, e é até melhor que assim seja. Se tivesse que apontar um favorito, o posto ficaria com a segunda aventura do agente. "Moscou Contra 007", lançado em 1963, ainda era uma espécie de "filme teste", sem as marcas da série. O famoso "Bond, James Bond" nem é falado nele, para se ter noção. Talvez até por isso a produção funcione tão bem sozinha. Mais do que uma aventura de 007, "From Russia With Love" (no original) é um dos melhores filmes de espionagem já feitos. A trama, feita no período da Guerra Fria e a abordando de forma bem direta, é calcada no realismo. Nada de exageros. As locações na Rússia transbordam um clima absurdo de suspense, encarnados na figura de Robert Shaw, um matador silencioso que merece estar no ranking de melhores vilões do agente secreto. Tudo funciona maravilhosamente nesse filme dirigido por Terence Young. Fica a dica.
E assim chegamos à "Operação Skyfall" com as expectativas nas alturas. Depois do fraco "Quantum Of Solace", tudo indica que a nova produção com Craig botará a franquia novamente nos trilhos com uma trama que, de tão arriscada e ousada, vem sendo escondida a sete chaves pelo estúdio. Sem falar que é a primeira vez que um filme de Bond é comandado por um diretor vencedor do Oscar. No caso, o excepcional Sam Mendes, diretor de obras-primas modernas como "Beleza Americana" e "Estrada Para a Perdição". Adicione o ator - também ganhador do Oscar - Javier Bardem como um visceral vilão e o consagrado Ralph Fiennes como um misterioso personagem e fica realmente difícil imaginar o que pode dar errado nessa mistura.
O britânico Ian Fleming criou Bond há 60 anos, enquanto aproveitava o verão de 1952 em sua casa na Jamaica - curiosamente, batizada por ele de "Golden Eye". Quando lançou o romance "Cassino Royale" em 1953, não tinha noção de como mudaria a cultura pop mundial. Morreria dez anos depois, em 1963, durante as filmagens de "Goldfinger", exatamente o filme que daria início à "bondmania". Fleming não chegou a ver o grande sucesso que seu personagem alcançou pelo mundo. Mas ele, definitivamente, pode descansar em paz. Ao impedir que inúmeros inimigos pudessem realizar seus planos, 007 ironicamente conseguiu, ele mesmo, dominar o mundo. E enquanto há uma bala a ser atirada, alguma missão a ser cumprida, uma dama a ser cortejada e alguma taça de Martini (batido, não mexido) a ser bebida, o fascínio continua - todo resumido em um só nome. Bond. James Bond.