domingo, 1 de maio de 2011

Mais Clichê é Impossível - Paul Rudd salva o fraco "Como Você Sabe"


O auge da carreira do diretor James Lawrence Brooks ocorreu no ano de 1983, quando dirigiu, produziu e escreveu o filme "Laços de Ternura", ganhando o Oscar nas três categorias e sendo o Melhor Filme daquele ano. Foi lá também que começou a parceria com Jack Nicholson, que viria a se repetir em 1997 com o excelente "Melhor é Impossível". Nicholson, inclusive, ganhou dois de seus três Oscars nesses dois filmes, no primeiro como coadjuvante e no segundo como ator principal - o outro Oscar foi pelo filmaço "Um Estranho do Ninho" (1975) -, o que o tornou o ator mais premiado pela Academia. Anos depois do prestígio confirmado por sucessos como "Nos Bastidores da Notícia"(1987) e "Jerry Maguire"(1996), Brooks volta ao cinema com "Como Você Sabe" (How Do You Know), seu sexto filme, onde volta a trabalhar com Nicholson.

A princípio, a reunião Brooks-Nicholson animou críticos e cinéfilos, e automaticamente previsões de uma possível nova indicação ao Oscar para Nicholson surgiram na mídia. Mas à medida que o projeto atrasava e novas informações - como o insosso trailer - eram lançadas, as expectativas iam diminuindo. E ao assistir o resultado final, fica comprovado que o filme não parece ter sido feito pelo mesmo diretor que deu ao cinema as pérolas já citadas.


A trama pouco inspirada foca no triângulo amoroso formado entre uma ex-jogadora de softball, um mulherengo sem-noção e um advgado envolvido em uma investigação federal, vividos respectivamente por Reese Whiterspoon, Owen Wilson e Paul Rudd. Whiterspoon, vencedora do Oscar em 2006 por "Johnny & June", tem pouco carisma no papel da complexada Lisa Jorgenson, uma personagem confusa e sem apelo para ser protagonista de uma comédia romântica. Wilson retorna ao papel que parece fazer em quase todos seus filmes: o cara bobo (e pegador) que não faz ideia do quão chato é. Quem se salva - e salva o filme da completa perdição - é Paul Stephen Rudd. Revelado ao grande público na última temporada do seriado F.R.I.E.N.D.S., no qual vivia o namorado da personagem Phoebe (a sumida Lisa Kudrow), Rudd logo garantiu seu espaço na tela grande, roubando a cena em "O Virgem de 40 Anos" (2005) e "Ligeiramente Grávidos"(2006). Provou seu talento cômico acima da média como protagonista do hilário "Eu Te Amo, Cara"(2009), mostrando que podia levar um filme nas costas. Aqui, ele consegue adequar o personagem George Madison ao seu tipo de humor, sendo o ponto alto do filme. Mesmo não querendo dizer muita coisa, é injusto que seu nome não seja o primeiro do elenco, pois é um dos melhores comediantes da atual safra americana, muito superior ao próprio Wilson.


Um caso à parte é a participação de Jack Nicholson. Uma das poucas lendas ainda vivas do cinema, o ator é adorado mundo afora não só por atuações marcantes em obras-primas como "Chinatown"(1974) e "O Iluminado"(1980), mas também pelo seu inegável carisma. Seu último papel marcante, em "Os Infiltrados"(2006), deixava claro que seu talento ainda estava lá, à espera do diretor certo para usá-lo. E metade do mundo acreditava que o diretor certo para isso era James L. Brooks, por motivos já esclarecidos no início do texto. Mas o ator, com 74 anos completados no último dia 22 de abril, não se mostra na melhor fase da carreira. Visivelmente acima do peso, seu papel nesse filme muito lembra a derradeira atuação do monstro Marlon Brando no filme "A Cartada Final" (2001), onde se via o triste fim de um dos maiores atores do cinema, em um papel muito pequeno para seu talento. O mesmo se sente aqui, onde Nicholson atua de forma afetada em um papel pouco elaborado, muito aquém das expectativas. Apesar disso, certas falas proferidas por ele dão um rápido brilho à tela, principalmente quando se forma em seu rosto aquele sorriso irônico que virou sinônimo de cinismo, com as famosas sombrancelhas arqueadas que nenhum outro ator tem. Juntamente com Dustin Hoffman (que inclusive é citado no filme), é um dos maiores atores que já deram as caras em Hollywood, mas devia marcar presença em mais produções ao invés de estar cada vez mais sumido ou deixado para papéis menores - como esse.

Os diálogos inspirados repletos de referências culturais que eram ponto positivo na filmografia de Brooks dão espaço a piadas fracas em situações forçadas. Chega a ser estranho acreditar que é o mesmo criativo Brooks o realizador desse projeto, repleto de clichês do início ao fim. Sem falar que a investigação a que o personagem de Rudd é submetido é abordada de maneira muito confusa no longa, que evita se aprofundar nos problemas dos personagens para buscar um humor raso. O resultado final acaba ficando com a cara de um filme menor de Woddy Allen.


O único momento que o nome Brooks marca presença na tela e envolve de fato os espectadores é a cena que se passa no hospital, após o nascimento do bebê da assistente de George. É a única cena em que Whiterspoon, Rudd e Nicholson realmente dão o melhor de si, e a declaração filmada pelo personagem de Rudd entre dois apaixonados realmente emociona a plateia.

Mas qualquer boa impressão causada ao longo do filme é enfraquecida depois do fraquíssimo final, onde só dá para acreditar que o filme foi encerrado daquele jeito quando os créditos sobem timidamente pela tela. Mais clichê, impossível. "Como Você Sabe", no final das contas, é uma comédia bobinha e totalmente esquecível que serve apenas para mostrar duas coisas: que o talentoso Paul Rudd merece papéis em filmes melhores; e que Brooks já não é o mesmo diretor que era, algo que pode ser consertado com um projeto melhor escolhido e realizado. Mas não é nada que abale muito a carreira consolidada e brilhante de um astro do calibre de Jack Nicholson. Um sorriso irônico com sombrancelhas arqueadas a isso!