terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Fúria de Titãs - "Imortais" retoma a Mitologia Grega no cinema


A Mitologia Grega e Hollywood têm uma história tortuosa. Os últimos filmes a tratar o tema com certo respeito e cuidado foram a aventura "Percy Jackson e o Ladrão de Raios"(2009) e a superprodução "Tróia", de um já distante ano de 2003. Seguiu-se então o equivocado remake de "Fúria de Titãs", intensamente inferior ao divertido clássico original de 1981. Para completar, caiu na rede no final de 2011 a notícia de mais uma tentativa de apresentar os deuses do Olimpo à nova geração. O filme em questão é "Imortais", que pelo trailer parecia ser uma ação descerebrada que bebia diretamente da fonte de "300" (2007), com cenários estilizados e muita câmera lenta.

No fim das contas, é basicamente isso mesmo. Mas "Imortais" acaba sendo uma surpresa agradável. Não completamente fiel à Mitologia original, a produção arrebata pelo visual. Isso porque o apuro visual do diretor Tarsem Singh - do bizarro "A Cela"(2000) - chega aqui no ápice, gerando líricas pinturas em movimento. A direção de arte é inspiradíssima e funciona maravilhosamente bem com os efeitos 3D. A nova abordagem dada a passagens mitológicas famosas se equilibra entre erros (deuses não podem sangrar, oras!) e acertos (a bem pensada participação do Minotauro). E o diretor poderá em breve mudar histórias já conhecidas mais uma vez: é dele a direção da versão live action de "A Branca de Neve" intitulada "Mirror, Mirror" e focada na rainha má vivida por Julia Roberts.


Apesar das gélidas e robóticas atuações já esperadas em um filme focado na ação, alguns atores conseguem se destacar. O exemplo maior é Mickey Rourke. Supervalorizado desde que superou as drogas e recuperou sua carreira em Hollywood, Rourke de fato encarna bem o vingativo e violento rei Hipérion. Na busca desenfreada pelo Arco de Épiro, arma capaz de libertar os Titãs e matar deuses, seu personagem exala brutalidade e se mostra um dos piores vilões vistos recentemente nos cinemas. O subestimado e veterano John Hurt também dá o ar da graça em um surpreendente papel. Já a belíssima Isabel Lucas ilumina a tela toda vez que aparece como a deusa Atenas.

Mais do que bom entretenimento, o filme é a prova de fogo do ator Henry Cavill. Muitos torceram o nariz quando ele foi anunciado como o protagonista de "Superman - Man Of Steel", nova versão do Super-Homem dirigida por Zack Snyder. Eu mesmo admito a reprovação inicial. Mas após ver o desempenho de Cavill como a nova versão de Teseu, fui convencido de que o ator tem o porte e a imponência necessários para herdar o papel do kriptoniano. Um ator que não parece o Christopher Reeve (imortalizado no imaginário coletivo como o Super-Homem dos cinemas), mas sim o personagem original dos quadrinhos. Logo, algo muito bem-vindo.


Fica o alerta: o espetáculo visual proposto por "Imortais" funciona muito bem no cinema - com som e imagem (em 3D ou não) de alta qualidade, reforçando os efeitos especiais e sonoros. Já na televisão, o efeito pode ser bem menor, até mesmo decepcionante. Ou seja: o blockbuster é uma boa pedida para uma tarde com amigos regada a muita pipoca e descompromisso. Os professores de História podem não gostar do resultado, mas seus alunos sem dúvida ficarão satisfeitos.