sábado, 16 de julho de 2011

Feitiço do Tempo - A saga de Harry Potter (e a era marcada por ela) chega ao fim


Pois é, acabou. Exatos dez anos após a estreia de "Harry Potter e a Pedra Filosofal", a saga do bruxo com cicatriz em formato de raio chega ao fim. Como era de se esperar, grande ansiedade e uma certa porção de tristeza tomam de assalto o coração dos milhares de fãs ao redor do mundo. O clímax dessa expectativa pôde ser sentido na pré-estreia do longa, ocorrida na madrugada do dia 14 de julho de 2011: gritos, palmas e lágrimas enchiam a sala durante os 130 minutos de exibição.

Continuação direta da primeira parte lançada em novembro passado, "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2" entrega exatamente o que prometia: o grande confronto final, uma épica conclusão para a saga - reforçado ainda pela tecnologia 3D. Mais que isso, prova que o ousado plano dos estúdios Warner deu certo: produzir 8 superproduções em 10 anos, mantendo os mesmos atores nos papéis durante todos os filmes - o que só não foi possível com Richard Harris, que fez Dumbledore nos dois primeiros filmes mas morreu ao terminar o segundo, sendo substituído por Michael Gambon - e marcando a vida de milhares de jovens ao redor do mundo. Leitores dos livros originais de J.K. Rowling ou não, não era muito difícil ser conquistado pelos filmes, que mesmo mudando certos detalhes de adaptação (como não podia deixar de ser) conseguiram transpor toda a magia das páginas para as telas.


E para os que vinham acompanhando as aventuras do bruxo desde o início, esse filme tem uma proposta ainda maior. Ao mesmo tempo em que mostra a maturidade dos personagens principais, reforçada até pelo tom mais sombrio e violento da série, essa conclusão é uma mensagem direta de que a infância daqueles que a tudo assistiam - no caso, os jovens espectadores, como eu e você - acabou. Todo aquele mundo mágico é revisitado: o banco de Gringotes, repleto de duendes assustadores que nos encantou no primeiro filme está lá, assim como a câmara secreta do segundo. Até mesmo a estação do Trem Expresso de Hogwarts dá as caras novamente. É a última visita àqueles lugares tão familiares, uma verdadeira despedida de um universo único que não visitaremos mais - quer dizer, agora, só no parque da Disney. Ver esses lugares destruídos dá um aperto no coração dos fãs mais fervorosos, e a imagem do castelo de Hogwarts destruído não é nada menos que impactante.

Além do show visual - os efeitos nunca estiveram melhores -, o filme é o auge das atuações de seu elenco, o clímax dramático. O trio principal, que acompanhamos crescer nas telas ano a ano, como raramente antes no cinema, transborda emoção. Não poderia ser diferente, afinal, são os próprios atores se despedindo dos personagens que marcaram suas vidas de uma maneira inexplicável e os acompanharão sempre no imaginário popular. O mais incrível é reconhecer todas as caras presentes: todos os alunos e professores que aparecem em cena são vividos pelos mesmos atores que os interpretaram desde o primeiro filme.


Personagens que andavam sumidos têm aqui seu devido valor revisto, e o caso de maior destaque é Neville Longbottom, vivido pelo antes gordinho Matthew Lewis, que era apenas o amigo atrapalhado e engraçadinho de Potter e aqui mostra sua importância crucial para a história. A dama inglesa Maggie Smith , que ainda dá vida à tão importante Minerva McGonagall aos 76 anos - e só vinha fazendo pontas nos últimos filmes -, tem agora participação maior e mais destacada, sendo merecidamente uma das personagens mais queridas pelo público. Julie Walters, que vive a matriarca da família Weasley, e David Thewlis, como o adorado professor Lupin, são outros destaques merecidos.

Como não podia deixar de ser, o desfecho de alguns personagens causa grande comoção, assim como importantes segredos são revelados, mudando completamente a perspectiva de toda a história. Claro que não teria a menor graça contá-los aqui, pois recebe-los como um grande feitiço em nossas mentes é um dos baratos dessa parte final, que é feita de grandes momentos. A grande cena do encontro entre Harry Potter, o garoto que sobreviveu, com Voldemort, o Lorde das Trevas, há tanto tempo esperada, não poderia ter sido feita de forma melhor. A esperada cena entre Hermione e Rony. Todos os personagens lutando por suas vidas. O ataque em massa ao castelo, misturando todos os seres que se pode imaginar. Está tudo lá, por uma última vez. Os mais emotivos sem dúvida derramarão lágrimas ao ver imagens tão belas e momentos tão decisivos.


Fazendo-se um grande balanço geral da série, pode-se afirmar que Michael Gambon, na pele do sábio Alvo Dumbledore, e - principalmente - Alan Rickman, na pele do impagável e detestado Severo Snape, foram os melhores atores em cena. Essa ideia se reforça nesse último filme, que ainda comprova que o inglês David Yates foi o homem certo para comandar os últimos 4 filmes da série, que marcou intensamente a primeira década desse século e foi a franquia mais lucrativa dos cinemas - pelo menos, até agora. Yates injetou ritmo extra aos filmes, lembrando-se que esse último se passa basicamente em um dia.

Juntando-se as duas partes de "As Relíquias da Morte", é possível que tenhamos o melhor capítulo da saga, mas pouco importa delimitar qual foi o melhor. O fato é que quando os créditos aparecem após o nostálgico e emocionante epílogo, a sensação de satisfação é logo transformada em um vazio interior. Assim como aconteceu antes com a franquia "Star Wars", em 2005, é a ultima vez que os fãs assistem aqueles personagens, ouvem aquela música, são transportados para aquele mundo. Para quem acompanha desde o início, é muito mais do que apenas um filme. E não há feitiço que cure esse vazio. Pelo menos, não mais.