segunda-feira, 30 de abril de 2012

V de Vingadores - O Grande Projeto da Marvel Studios é Diversão Garantida


Para começo de conversa, vamos direto ao ponto: "Os Vingadores" não é o melhor filme de super-heróis já feito. Longe disso. Mas antes que os fãs comecem a ficar verdes de raiva ou a invocar deuses nórdicos contra mim, deixo bem claro que é, de fato, diversão garantida. Também seria muito complicado fazer um filme perfeito que conseguisse dar a atenção merecida a cada personagem envolvido. Afinal, trata-se de Homem-de-Ferro, Hulk, Thor, Capitão América, Viúva Negra, Gavião Arqueiro e Nick Fury (ufa...) em um só filme. Difícil manter um equilíbrio e evitar confusão. Mas até que o diretor Joss Whedon consegue isso muito bem. O problema do filme definitivamente não é esse.

A Marvel, desde que conseguiu se tornar um estúdio independente em Hollywood, começou a arquitetar um grandioso projeto que culminaria em uma missão dos Vingadores, grupo de heróis semelhante à Liga da Justiça - que, por sua vez, é da DC Comics, distribuidora do Batman e do Super-Homem. As primeiras peças dessa jogada foram "Homem-de-Ferro"(2008) e "O Incrível Hulk"(2008) protagonizado por Edward Norton. De lá pra cá, houve uma continuação do primeiro citado e Capitão América e Thor tiveram os clássicos "filmes de origem". Todos eles sempre contavam com a presença discreta de um Nick Fury negro e careca encarnado por Samuel L. Jackson. Ou seja: cinco filmes foram feitos para que esse pudesse funcionar direito. As expectativas estavam nas alturas - com razão.


Depois de muita espera, o "Projeto Vingadores" entrou em ação. E tem tudo para agradar (muito) os fãs das histórias em quadrinhos originais e também de ação em geral. Se tem algo que o filme entrega da melhor maneira, é isso: cenas de ação espetaculares e muito bem feitas. É o tipo de coisa feita para ser vista na tela grande, em 3D e IMAX. Em uma TV pequena o efeito provavelmente será bem menor. A trama em si não é muito importante, mas é de se admirar como as coisas acontecem de forma clara e sem correria. Os pontos são conectados com toda a calma, ao longo dos 142 minutos de projeção.

Além da ação quase onipresente, o filme conta com alta dose de humor. E, à principio, é no humor que se sustenta a relação entre os personagens. Se não fosse pelo show de costume que Robert Downey Jr. dá na pele de Tony Stark/Homem-de-Ferro, é provável que o filme não funcionasse. Os outros heróis não conseguem envolver o público como Stark. Capitão América e Thor não funcionam muito bem sem suas armas (escudo e martelo), a Viúva Negra não tem chance (nem tempo, tadinha) de mostrar a que veio e o Gavião Arqueiro é apenas um bode expiatório para justificar a primeira metade do filme. Enquanto isso, Nick Fury fica aparecendo do nada e falando frases de efeito, como se fosse um mestre Jedi (peraí... Mace Windu, lembra?). Ou seja: o Homem-de-Ferro é o showman que sustentaria todo o filme sozinho.


Já o novo Hulk... Bem, é um caso à parte. Depois de duas tentativas que levar o gigante verde para os cinemas, parece que finalmente a coisa deu certo. O filme que Ang Lee fez em 2003 era muito pretensioso e confuso, enquanto o filme de Louis Leterrier (de 2008) era apenas bom. Devo admitir que desconfiei quando anunciaram Mark Ruffalo como o novo Bruce Banner. Mas ele foi o ator que melhor reproduziu a essência do personagem: um homem brilhante que sabe o fardo que carrega, sempre um pouco incomodado e apreensivo em relação a isso. Seu Banner/Hulk é, de longe, a melhor coisa do filme inteiro. São dele as melhores cenas - transformado em monstro ou não. Há aqui, inclusive, um diferencial muito importante que poucos percebem: enquanto os Hulks antigos viravam um ser de computação gráfica que NADA tinha a ver com os atores que os faziam, esse Hulk tem as expressões facias de Ruffalo. É o rosto dele, só que maior e mais forte. Pode parecer pouco, mas dá muito mais credibilidade ao personagem.

Mas nem tudo é maravilha. Se "Os Vingadores" têm um ponto negativo, são seus vilões. Quer dizer, "vilões". Loki, o malvadão da vez, é novamente interpretado por Tom Hiddleston. Mas toda complexidade e carisma que eram destaque em "Thor" parecem ter sido deixados em algum canto de Äsgard. Aqui, Loki se tornou um vilão digno de "Power Rangers". Dá saudade de gente como Magneto ou Doutor Octopus - para não citar Coringa e Lex Luthor, claro. Como se não bastasse, os vilões interplanetários que invadem a Terra têm visual confuso e zero de carisma. Morrem recebendo um só soco, enquanto os heróis acabam destruindo ainda mais a cidade que deviam proteger. As cenas de conspiração em outra galáxia chegam a ser patéticas, pelo visual e vozes. Nesse sentido, é puro Power Rangers, verdade seja dita.


O filme diverte muito na maior parte do tempo, e vai ser difícil alguém sair reclamando. Só que há uma diferença. Para entendê-la bem, basta dar uma olhada em filmes como "X-Men" e "O Cavaleiro das Trevas". Esses títulos estão em qualquer lista de "melhores adaptações" de quadrinhos, e de lá não devem sair. Isso porque aqueles são filmes que funcionam sozinhos, têm um ar mais realista e se portam como filmes de ficção científica e policiais, respectivamente. Até mesmo o recente "X-Men: Primeira Classe", também da Marvel, conseguiu de maneira bem sucedida inserir os personagens em um contexto histórico, fazendo do filme uma trama de espionagem. Já "Os Vingadores" é puro quadrinho. Tem aquela estrutura muito eficiente em HQs, mas que não funciona perfeitamente como cinema. A Marvel já deixou claro que quer mudar isso. Mas quem não está habituado com tramas paralelas e realidades alternativas vai achar tudo muito confuso e caótico.

Como a cena após os créditos indica - sim, é óbvio que há uma cena após os créditos -, uma continuação será lançada muito em breve. O novo vilão já dá as caras, quem é fã vai identificar fácil, fácil. E vai ser mais um arrasa-quarteirão - em todos os sentidos. Isso porque "Os Vingadores", mesmo com todos seus pequenos erros e exageros, funciona bem e o saldo final é positivo, uma sensação de "quero ver de novo".
Se Downey Jr. e Ruffalo estiverem envolvidos - e agora não tem como eles não estarem -, vai funcionar bem novamente. Assim como a Terra, de acordo com Fury, os cinemas também precisam dos Vingadores de vez em quando, mesmo que apenas para relaxar e ver o mundo ser salvo (de novo) em grande estilo.
Por enquanto, é isso. Que venha a Liga da Justiça.


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Beleza Americana - Ícone Marilyn Monroe é revisitado em "Sete Dias Com Marilyn"


Os grandes ídolos do cinema e da música são fontes inesgotáveis de inspiração e rumores. Como prova, basta ver o número de livros e filmes sobre estrelas como Elvis Presley, Charlie Chaplin, Beatles, James Dean, Michael Jackson e Marlon Brando, entre outros. Mas talvez nenhuma figura do cinema tenha sido alvo de tanta atenção e curiosidade quanto Marilyn Monroe. Encontrada morta de forma misteriosa há exatos 50 anos - no auge da carreira e da beleza -, ela continua sendo o ícone feminino máximo da sétima arte. Não há pessoa nesse planeta que não tenha visto a famosa cena de suas saias esvoaçantes em "O Pecado Mora ao Lado". Depois de ser tema de vários livros e documentários, a intimidade de Marilyn ganha a tela grande, no filme britânico "Sete Dias Com Marilyn".

No verão de 1956, o jovem Colin Clark conseguiu realizar o sonho de trabalhar na indústria do cinema. Ele foi o terceiro assistente de direção nas filmagens de "O Príncipe Encantado", filme que juntava as grandes estrelas Laurence Olivier e Marilyn Monroe. Quase 40 anos depois, o diário de Clark foi publicado como "O Príncipe, a Corista e Eu", um livro focado nos bastidores do filme. Mas faltava uma semana na narrativa, e Clark resolveu divulgar o que acontecera durante essa semana que passou com Marilyn em outro livro, "Minha Semana com Marilyn". E é nesses dois livros que se baseiam o filme independente dirigido por Simon Curtis.


A produção busca conquistar o espectador pelo ritmo acelerado e bem humorado com que se inicia. Sem muita enrolação, já nos joga no meio das gravações do clássico de 1956, que foi protagonizado e dirigido por Sir Laurence Olivier. Olivier era considerado o maior ator do mundo, por suas famosas adaptações da obra de Shakespeare - ele inclusive ganhou o Oscar de Melhor Diretor e Ator por "Hamlet"(1948), que também foi premiado como Melhor Filme. Apesar da fama internacional, Olivier ainda não era querido por todo o público. Por isso resolveu fazer uma comédia leve. Para acompanhá-lo em cena, escolheu a atriz mais bonita e famosa do mundo. E Monroe estava no auge da fama, era o maior desejo de onze entre dez homens. O que ninguém esperava é que a relação entre os dois seria uma verdadeira guerra de egos, porque, como o próprio Clark escreveria, "Olivier era um grande ator que queria ser uma estrela, enquanto Marilyn era uma estrela que queria ser uma grande atriz".

Apesar do real protagonista ser Clark, vivido de forma tímida por Eddie Redmayne, a luz do filme está na figura de Michelle Williams. Basta uma rápida pesquisa no Google para ver que a atriz não lembra muito o vulcão que foi Marilyn Monroe. Não só o físico, mas os traços não são os mesmos. Isso inclusive transparece em certos momentos do filme. Mas o fato é que, em algumas cenas, ela simplesmente VIRA Marilyn Monroe, com um grau de semelhança assustador - como pode ser visto nas fotos. É a mais pura magia do cinema. Só que não foi isso que a fez ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz. Williams encarna não Marilyn, mas sim Norma Jean Mortensen, a pessoa aprisionada pelo ícone que criou. E lá estão todos os anseios e neuroses que fizeram da atriz uma pessoa extremamente infeliz. O público irá se chocar ao ver a mulher amargurada e sofrida que sabia exatamente a hora de botar em ação seu carismático tom infantil e ingênuo.


Mas não seria justo exaltar apenas o show de Williams. Kenneth Branagh, recém saído da direção de "Thor", se diverte encarnando Olivier - seu grande ídolo, e de quem herdou o posto de maior intérprete de Shakespeare. Branagh se transforma tanto fisicamente quanto emocionalmente no personagem, em uma entrega que lhe rendeu uma justa indicação ao Oscar de Coadjuvante. Ele é Olivier em imagem e semelhança. Como brinde, sua relaçao com Paula Strasberg (Zoe Wanamaker), a orientadora que mimava Marilyn e lhe ensinava o famoso "Método" de atuação do Actor`s Studio, é hilária e impagável, rendendo pontos altos ao filme.

Além da cuidadosa reconstituição do visual e do clima da época, o filme conta ainda com Dame Judi Dench  como coadjuvante de luxo. Mais conhecida como a atual chefe M de 007, ela aqui encarna a atriz Dame Sybil Thorndike, iluminando a tela em cada simpática aparição. Quem também marca presença é a atriz Emma Watson. Ela mesma, em seu primeiro papel fora da saga de Harry Potter. O papel não é grande coisa, mas é bom enfim ver a bela atriz em cena sem o uniforme de Hermione Granger.


No fim das contas, "Sete Dias Com Marilyn" é uma caprichada homenagem à memória de Monroe, uma chance de conhecer um pouco mais a pessoa por trás do mito. Tirando a dose de romance que parece ser obrigatória em todos filmes produzidos recentemente, fica um interessante estudo sobre a personagem. Apesar de amada e conhecida em todo o mundo, Marilyn Monroe - ou melhor, Norma Jean - nunca conseguiu preencher o vazio emocional que lhe conduziu à overdose de remédios. E assim Marilyn saiu de sua infeliz vida para entrar na história, eternizada pelos animados fotogramas de "Os Homens Preferem as Loiras" e "Quanto Mais Quente Melhor". Ao delicioso som de "That Old Black Magic", os créditos aparecem e o mito sobrevive.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

The Song Remains The Same - Os Rolling Stones Completam 50 Anos de Carreira e Voltam aos Cinemas!



Os Rolling Stones são uma das bandas de rock mais famosas do mundo - disso, ninguém tem dúvida. No ano de 2012, os ingleses completam 50 anos de existência, em plena atividade. Para comemorar, anunciaram uma turnê mundial - que foi adiada para o ano que vem, por problemas de saúde do guitarrista Keith Richards. Junto a tudo isso, um documentário sobre a banda está atualmente em produção, dirigido por Brett Morgan.

Mas quem é fã da banda sabe que a sua relação com o cinema sempre foi muito próxima. Entre filmes oficiais, documentários e shows, já foram lançados cerca de 18 registros deles em ação. Os Stones já tiveram sua imagem trabalhada por diretores consagrados como Jean-Luc Godard ("Sympathy For The Devil", de 1968) e, mais recentemente, Martin Scorsese ("Shine a Light", de 2008). Não é pra qualquer um. Além disso, a polêmica história da banda rendeu até mesmo um thriller focado na vida - e morte - do guitarrista Brian Jones, o rebelde fundador da banda que foi encontrado morto em sua piscina em 1969. O filme em questão é o eficiente e interessante "Stoned - A História Secreta Dos Rolling Stones", lançado em 2005. Fica a dica.


E é exatamente daqui que começa a parte que nos interessa agora. Após a morte de Jones - que aconteceu pouco depois de sua demissão - a banda escolheu Mick Taylor como seu substituto. E nessa formação - com Mick Jagger no vocal, Richards e Taylor nas guitarras, Bill Wyman no baixo e Charlie Watts na bateria - eles lançaram, em 1972, o álbum duplo Exile On Main Street. O álbum em questão é considerado por muitos, inclusive pelo próprio Jagger, o melhor da banda, pela consistência, versatilidade e grande quantidade de hits, entre os quais "Tumbling Dice", "Rock`s Off" e "All Down The Line", só para citar alguns. Mas o que poucos sabem é a história por trás das gravações do disco.
  
Em 1971, todos os Stones estavam devendo uma fortuna de imposto de renda na Inglaterra. Quando começaram a ser perseguidos, partiram para um período de "exílio" na França. Se instalaram na mansão Villa Nellecote, de Keith Richards, no Sul do país. E lá resolveram compor e gravar um álbum inteiro, para que pudessem arrecadar o dinheiro dos impostos com a turnê. O fato curioso é que eles realmente gravaram tudo no porão e nos corredores da mansão. Encheram a casa de equipamentos, amplificadores e músicos, gravando tudo em locação. O clima caótico e pouco promissor já foi mostrado no maravilhoso documentário "Exile On Main Street" (altamente recomendado a todos). Mas eram os Rolling Stones, e o resultado foi uma obra-prima hoje cultuada.



Pois os bastidores desse maravilhoso episódio da história do rock vai novamente inspirar um filme. Richard Branson, que lançou pela Virgin Records três álbums da banda na década de 90, comprou os direitos do livro de Robert Greenfield, "A Season In Hell With The Rolling Stones". Mas ao contrário de outros filmes relacionados aos Stones, essa adaptação será um drama, e não um documentário. A trama será focada na relação pessoal e profissional entre Mick Jagger e Keith Richards, durante as tensas e improvisadas gravações na França.
 
 
A iniciativa é muito bem vinda, para provar que filmes sobre bandas não precisam ser sempre documentários, o que é cada vez mais comum. As poucas experiências dramáticas foram muito bem sucedidas, como foi o caso de "Johnny e June" (focado no cantor Johnny Cash) e "Não Estou Lá" (sobre o ícone Bob Dylan). Muitas bandas inspirariam dramas inspiradíssimos. Os próprios Beatles que o digam: estrelaram vários filmes semi-documentais até inspirarem indiretamente o ótimo "O Garoto de Liverpool". Só falta mesmo algum diretor arriscar, como fez Anton Corbjin no inspiradíssimo "Control", sobre o vocalista suicida do Joy Division, Ian Curtis.



A ficção baseada em Exile On Main Street ainda não tem previsão de estreia, e ainda não há nomes de atores envolvidos no projeto - o que, com certeza, ainda vai causar polêmica. Mas só imaginar assistir Rolling Stones nos cinemas novamente já anima qualquer ambiente. Atualmente com uma formação que já não conta com Wyman (o baixista se aposentou em 1993) e tem Ron Wood no lugar de Taylor, os Stones continuam sendo sinônimo de rock'n roll, e a prova de que ele não tem idade. O som - além da energia, força e animação - continua o mesmo.