domingo, 3 de junho de 2012

Eclipse - Visual Sombrio e Hipnótico é o Destaque de "Branca de Neve e o Caçador"


Em tempos de intensa crise criativa, Hollywood tem se debruçado em sequências de franquias ou remakes de histórias já adaptadas para o cinema. No universo dos remakes, é crescente o interesse em fazer "releituras" de contos de fadas da infância de todos nós - com muitos efeitos especiais e rostinhos bonitos no elenco, como não podia deixar de ser. E pode-se dizer que "Branca de Neve e o Caçador" foi muito bem-sucedido nesse quesito, pelo menos em comparação a outras produções semelhantes, como "A Menina da Capa Vermelha"(vulgo "Chapeuzinho Vermelho Adolescente") ou até mesmo o "Alice no País das Maravilhas" de Tim Burton. Mas vamos aos fatos.

A história todo mundo conhece, graças ao titio Walt Disney - que a imortalizou em 1937, no primeiro filme de animação da história. Mas não é preciso pensar muito para saber que conto original dos irmãos Grimm era muito mais violento e sombrio. E é esse o clima dessa produção, a estréia do ex-publicitário Rupert Sanders na direção. Não bastasse a responsabilidade de comandar uma superprodução repleta de nomes famosos, a pressão em Sanders foi ainda maior pela concorrência com "Espelho, Espelho Meu". O filme de  Tarsem Singh foi lançado poucos meses antes desse, sendo também baseado na história da Branca de Neve, com direito a anões, bruxas, etc. Só que a abordagem do outro era muito bobinha e a egotrip de Julia Roberts (como a Rainha Má) prejudicava o resultado. Um clima mais pesado caía bem à história, e por isso a expectativa para esse lançamento.


É bom deixar claro: se a produção agrada por algumas características, também tem seus pontos negativos. E o principal deles é a protagonista. Vinda da franquia de sucesso (acontece...) "Crepúsculo", Kristen Stewart sempre foi alvo de críticas por manter uma única expressão facial durante toda a saga vampiresca. Isso até ela encarnar Joan Jett em "The Runaways", deixando claro que conseguia atuar bem quando preciso. Por isso, ainda restava alguma esperança de que ela faria jus à famosa Branca de Neve. Afinal, o visual para isso ela tinha. Mas é só o visual mesmo. Além de ter poucas falas (como isso?!?), a atriz atua como se  fosse, mais uma vez, Bella Swan. Ou seja, falta carisma e emoção à personagem. O que não teria tanto problema... se ela não fosse o foco de todo o filme. Melhor se saiu Chris Hemsworth, que conseguiu dar ao Caçador todo o carisma que faltou ao seu Thor. Mereceu ter substituído os anões no título.

Falando nos anões, por mais voltas ou abordagens que a trama pudesse ter, não conseguiria deixar eles de lado. Mas para quem espera ver os felizes Mestre, Zangado, Dunga & Cia do desenho... Bem, pra começar eles são 8 agora, e tem nomes de imperadores romanos. Ainda são a válvula de escape cômico do filme, mas dessa vez aparecem mais desbocados, imorais agressivos. Fiquem relaxados: o modo de inserir eles na história foi o melhor possível. O diretor teve também uma sabia decisão: ao invés de colocar anões reais para interpretá-los, chamou respeitados atores ingleses. Muitos inclusive os reconhecerão de rosto, mesmo não lembrando os nomes. Bob Hoskins, Ray Winstone, Ian McShane, Nick Frost e Toby Jones são rostos familiares por terem participado de inúmeros filmes, mesmo não sendo reconhecidos de primeira pelos expectadores. Sua escolha para o elenco dá imensa personalidade à cada um deles. Completando a galeria de personagens, temos a sempre bela Charlize Theron dando vida à uma personagem que - não à toa - convive com a ideia de beleza eterna. Apesar de alguns momentos de pura afetação, Theron se sai bem como a representação visual da Rainha Má que tanto nos amedrontou na infância. Ela perde o tom em alguns momentos, mas o visual e a postura compensam.


Inclusive, se tem uma coisa que faz desse filme um bom entretenimento, é o seu visual. Mais do que a abordagem ou os atores, é o visual que salta aos olhos e encanta em cada cena. A Direção de Arte é inspiradíssima. Apesar da licença poética gerar alguns equívocos - como o Espelho mágico que vira uma espécie de "gongo fantasmagórico"-, ela também gera cenas belíssimas que só ganham mais força com o bom uso dos efeitos especiais. Não está curtindo a história? Ignore tudo e aproveite o visual. Dá certo nesse tipo de filme. Nesse aspecto, ele é impecável. A "Floresta das Fadas" e a "Floresta Negra", por exemplo, são tudo que o "Alice" do Tim Burton queria - e deveria - ter sido.

No final da sessão, ninguém vai pensar que viu o filme de sua vida - muito graças à sequência final, patética em todos os sentidos. Alguns vão pensar que os estúdios tentaram jogar todos os elementos da história no roteiro - o espelho, a maça, o beijo do príncipe, o castelo que é IGUAL ao de Hogwarts... - só para justificar as cenas de ação entre cada uma delas. De fato, a cena de guerra do final é um tanto desnecessária, assim como muitas outras. Mas "Branca de Neve e o Caçador" vale por ser exatamente o que se propõe a ser: uma releitura diferente e visualmente interessante de uma história que todos conhecem de cor e salteado. E vem mais por aí, já que logo será lançado um "João e Maria" à la "Sr. e Sra. Smith" e um "João e o Pé de Feijão" com a mesma pegada dark. O fato é que entre todas feitas até agora, essa versão da Branca de Neve é a que conseguiu chegar mais perto dessa proposta. E é esse seu mérito, mesmo que único. Agora, se você quer se envolver com a história e com os personagens, prefira a versão atemporal da Disney.