sábado, 29 de setembro de 2018

O Trágico Sorriso de Larry Semon



Esse moço simpático da foto se chama Larry Semon e é provável que você nunca tenha lido sobre sua existência. Pois Semon foi um grande destaque na fase muda do Cinema, lá pelo início dos anos 20. Como os grandes artistas do período, herdou a profissão da família: era filho do mágico Zera The Great e de sua assistente, e cresceu em espetáculos de vaudeville. Foi cartunista do The New York Sun antes de assinar roteiros para a então jovem Sétima Arte. Logo passou a dirigir e estrelar curtas próprios, sempre repletos de efeitos especiais e desafios técnicos. Sem demora, se tornou rosto conhecido em diversos lugares do mundo: na França era conhecido como Zigoto, na Itália muito popular como Ridolini, na Espanha era o Jaimito! Vale lembrar que essa "multi-personalidade" era normal na época - Chaplin era "Charlot" na Europa e "Carlitos" aqui no Brasil. 



Voltemos ao moço Semon, que gostava de produções mirabolantes e orçamentos caprichados. Inclusive, ele foi o responsável por uma adaptação de "O Mágico de Oz" em 1925 (!), onde fazia o espantalho e outros dois papéis. O Homem de Lata, na ocasião, era vivido por Oliver Hardy - que pouco mais tarde ficaria mundialmente famoso como a rechonchuda metade de "O Gordo e o Magro". Cruel pensar que Semon acabaria lembrado apenas por pequenos papéis secundários nos curtas estrelados pelo amigo. Os produtores desconfiaram dos gastos excessivos e o abandonaram, obrigando-o a assumir a produção de seus projetos. Não sobrou muito dinheiro. Larry Semon saiu do topo dos créditos para se tornar um coadjuvante ocasional sem muito destaque. Ele acompanhou seus amigos explodirem em popularidade, enquanto seus filmes não conseguiam ser finalizados. Declarou falência em 1928 e tentou retornar ao vaudeville em companhias viajantes. Frustrado e sem público, teve um surto psicológico e foi internado num sanatório da Califórnia. E assim morreu, esquecido e abandonado, aos 39 anos. 

Pesado, né? A História do Cinema enterrou a carreira de Larry Semon e de muitos artistas brilhantes fundamentais para a evolução e popularidade dessa Arte. Esse texto não é uma homenagem à altura, mas um convite à descoberta. Os nossos tempos modernos permitem que pôsteres do período e trechos de filmes possam recuperar o valor imenso que foi retirado de nomes como Semon. Sua valiosa versão de Wizard of Oz, por exemplo, pode ser encontrada na íntegra no youtube! Nunca é tarde para descobrir novas figuras fascinantes e ser contagiado pelas faíscas que elas deixaram. Essas faíscas, e seus eventuais sorrisos, são o verdadeiro legado de figuras trágicas como Larry Semon. Keep Smiling.