quarta-feira, 23 de julho de 2014

Os 90 Anos de "Sherlock Jr." !



A figura de Charlie Chaplin é conhecida mundialmente como sinônimo de cinema e comédia. Já o nome de Buster Keaton só é reconhecido pelos cinéfilos de paixão - sendo que alguns chegam a só identificar o nome, e não a obra. Não há palavras para expressar o quanto isso é injusto. Keaton foi um dos gigantes da fase inicial do cinema, único que conseguia disputar de igual pra igual com Chaplin no sucesso de público e crítica. Na verdade, não havia conflito algum entre os dois, mas o "embate" ficou famoso na sétima arte. O fato é que a obra de Keaton é tão pioneira e essencial quanto a de Chaplin. Na eterna questão "quem era o melhor?", a resposta é simples: os dois foram gênios máximos da comédia, cada um em suas contribuições e obras-primas. E para conhecer bem o trabalho do "homem que não sorria", talvez essa seja a obra mais recomendada. Embora seja mais lembrado pelo longa-metragem "A General" (sim, "A" pois se trata de uma locomotiva chamada General), toda relevância e ousadia de Buster Keaton podem ser vistos claramente em "Sherlock Jr." (1924). Lançado na época no Brasil como "Bancando o Águia", esse média-metragem de 45 minutos mostra Keaton como um projecionista de cinema que sonha ser um grande detetive. E nesses sonhos e aventuras, Keaton - como ator e diretor - inova no uso de efeitos especiais e na elaboração de cenas ousadas. Nada de dublês: Keaton fazia suas próprias cenas, mesmo que fosse necessário pular de um prédio, correr em cima de um trem em movimento ou atravessar uma rua movimentada sozinho em uma moto sem ninguém na direção. Essa passagem é, inclusive, a mais famosa do filme e uma das mais aflitivas da história do cinema. Mas tudo sempre acabava em riso sincero, que Keaton roubava de nós sem sequer esboçar um leve sorriso. Notar que "Sherlock Jr." completa 90 anos é entender o quanto esse grande comediante estava a frente de seu tempo. Definitivamente, Buster Keaton é um gênio que não pode ser relegado ao esquecimento.



quarta-feira, 16 de julho de 2014

"Malévola", 2014.


Além dos inquestionáveis "filmes de heróis", as recentes adaptações de contos de fadas vêm se tornando um gênero lucrativo e bem sucedido no cinema. Reinvenções repletas de efeitos especiais, filmes como "João e Maria: Caçadores de Bruxas" (2013) e "Jack, o Caçador de Gigantes" (2013) podem não ser unanimidade de crítica, mas atraem grande público. Agora junta-se a esse time "Maleficent", ancorado no imenso carisma de Angelina Jolie. O especialista em efeitos especiais Robert Stromberg, que trabalhou em obras como "2012" e "As Aventuras de Pi", estreia na direção com essa adaptação do clássico da Disney "A Bela Adormecida" (1959). Obviamente, aqui o foco é direcionado para a vilã Malévola, uma das mais cultuadas do estúdio. Mesmo assim, não se engane: estão lá todos os personagens do desenho original, inclusive o trio de fadas que cuidam da princesa Aurora, amaldiçoada pela personagem principal. O que muda é a motivação de todos os envolvidos. E Jolie claramente se diverte como em nenhum outro papel, principalmente na cena da foto. Funciona que é uma beleza, mesmo que quase todas suas ações sejam observar o que acontece. Juno Temple, Imelda Staunton e Lesley Manville, as fadas citadas, funcionam como escape cômico, mas a graça na maior parte das vezes vem da própria Jolie. De resto, sobra ver Sharlto Copley e Sam Riley pagando mico, fora do tom em seus pequenos papéis. "Malévola" é bem clichê e didático em diversos pontos, mas tem o visual como trunfo. Sendo o diretor um especialista no assunto, os efeitos especiais são incríveis, criam imagens belas e tornam a produção fácil de assistir - em um 3D que explora bem a vastidão do cenário e os vários detalhes em cena. Para os que mantém a expectativa baixa e assistem sem compromisso, é um passatempo agradável. Jolie, que reforça sua popularidade com o grande público, é a que mais tem motivos para sorrir.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

"O Grande Hotel Budapeste", de Wes Anderson, 2014.


 
O novo filme de Wes Anderson é "um filme de Wes Anderson" desde seu primeiríssimo plano. Todos os elementos da estética peculiar do diretor estão lá: cores berrantes, personagens excêntricos, planos abertos e simétricos cuidadosamente arrumados e constantes travellings da câmera. Após o bem-sucedido "Moonrise Kingdom" (2012), o cineasta americano parece conseguir tornar sua aura cult ainda mais popular e acessível. "The Grand Budapest Hotel" é irresistível em sua mistura de aventura, fantasia, ação e comédia. Sem deixar de lado todo o estranhamento e excêntricidade característicos de sua filmografia, Anderson dá um maduro passo em direção ao grande público. A trama se passa na fictícia República de Zubrowka no intervalo entre as duas guerras mundiais. Com clima de livro de fábulas e ritmo de desenho animado, Anderson constrói um humor único e eficiente. Além dos cenários que homenageiam o cinema mudo, o elenco é um desfile de estrelas. Há gente boa veterana (F. Murray Abraham, Harvey Keitel) interagindo com gente boa jovem (Jude Law, Saoirse Ronan), além do destaque inevitável da revelação Tony Revolori. Os parceiros habituais (Bill Murray, Jason Schwartzman, Owen Wilson) dão as caras em aparições rápidas, meio que só para constar - embora seja impossível não dar um sorriso com suas presenças. O maior brilho, porém, vem da figura de Ralph Fiennes. Em seu primeiro trabalho com Anderson, Fiennes capta brilhantemente o estilo do diretor e compõe um personagem genial que certamente é um dos melhores de sua preciosa carreira. "O Grande Hotel Budapeste" tem tudo para ser um dos melhores filmes de 2014, com alta dose de "Magia do Cinema". Após a sessão, uma certeza: mais divertido do que fazer parte do universo de Wes Anderson, é, certamente, poder assistí-lo.