sábado, 1 de junho de 2019

O Homem que Caiu na Terra - "Rocketman", mais um espetáculo de Elton John !




A História do Cinema comprova que cinebiografias de ícones da Música são quase sempre garantia de sucesso na bilheteria e prêmios para os protagonistas. Esse fato foi renovado com o estrondo mundial de "Bohemian Rhapsody", que levou o Queen novamente ao topo das paradas e garantiu o Oscar para o Freddie Mercury de Rami Malek. É quase impossível evitar comparações imediatas com essa cinebiografia do cantor, pianista e ídolo Elton John. As produções até possuem um importante crédito em comum: Dexter Fletcher, diretor de "Rocketman", assumiu as gravações finais de "Bohemian Rhapsody" após a polêmica demissão de Brian Singer - que permaneceu creditado oficialmente, enquanto Fletcher ganhou a simbólica "Produção Executiva". Tirando esse curioso ponto em comum, é bom deixar claro que são projetos muito diferentes. E são três os fatores principais dessa diferença. 

Primeiro: enquanto diversos fatos e datas da vida de Freddie Mercury foram modificados numa "licença poética" para potencializar o peso dramático da narrativa, o próprio Elton John teve participação ativa na concepção e roteiro do que precisava ser abordado no filme. Ele mesmo exigiu que não aliviassem a abordagem de seus vícios (álcool, drogas e sexo) para diminuir a classificação indicativa da produção, afinal "sua vida não foi PG-13". O músico assina a Produção Executiva ao lado de Matthew Vaughn - diretor inglês que revelou o carismático ator Taron Egerton em "Kingsman" (2014). Sua "benção" torna o filme uma obra extremamente corajosa e confessional, garantindo um impacto emocional ainda mais ecoante. Segundo: ao invés de optar por uma mera compilação de hits, "Rocketman" pega o invejável repertório do cantor e o explora de forma sonora e visualmente espetacular. A Música se torna linguagem narrativa em momentos delirantes e fantasiosos que flertam com os grandes musicais e dão maior profundidade ao desenvolvimento dos personagens. Terceiro: a transformação absoluta do protagonista. Rami Malek, o ator, nada tinha a ver com Mercury e realmente conseguiu trazer o vocalista do Queen de volta à vida no visual e gestual impecáveis. O mesmo vale para Taron Egerton, claramente muito galã para encarnar o rechonchudo Elton John. Porém o cuidado com os figurinos e maquiagem é tão certeiro que por vezes precisamos piscar e olhar com atenção: seria uma imagem de arquivo ou o próprio ator? Seu grande diferencial é que Egerton realmente solta a voz em todas as músicas em cena. Em nenhum momento ouvimos os áudios originais do cantor, e sim Egerton dando sua interpretação às canções que movem seu personagem. Um detalhe rico e determinante para o resultado final. 

Evidente que obras distintas não pedem tamanhas comparações, mas essa lista serve apenas para destacar o quanto "Rocketman" é um absoluto triunfo em forma e conteúdo. Um presente caprichado para os fãs e um convite irresistível aos não-convertidos em algumas das baladas mais apaixonantes do século passado. Pulsante, autêntico e orgulhosamente exuberante, "Rocketman" é o espetáculo musical da temporada. Que venham os prêmios.