quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Smile - O Doce Eterno Sorriso de Josephine Chaplin



Existe o curioso caso dos artistas que se envolvem com as filhas de seus ídolos. Alguns mais notórios, como o Rei do Pop Michael Jackson e o casamento entre realezas com Lisa Marie Presley, filha do Rei do Rock - sim, o Elvis. Outros casos mais cults, como um jovem Martin Scorsese em romance intenso com Isabella Rossellini, filha do lendário Roberto. Um quase remake no namoro entre Quentin Tarantino e Sofia Coppola, filha do chefão Francis. Apenas duas vezes minha imaginação fértil flertou com tal risco. Mais recentemente na figura de Lily Collins - que aliás puxou apenas o carisma do maroto papai Phil, e nadica de seu visual. Porém há cerca de 15 anos, essa minha curiosidade atendia pelo nome de Josephine. O sobrenome, de fato intimidador: Chaplin. Terceira criança das oito (!!) que Chaplin teve com Oona, o amor de sua vida, "Josie" era sempre descrita como a mais doce e apegada ao pai. E também muitas vezes apontada como a mais bela da trupe. As fotos ilustravam muito bem, sempre um "vish" a cada sorriso. 

Falando em sorriso, pausa pra foto. Esse é um registro raro e valioso, milagrosamente sobrevivente ao tempo. Nele há um senhor de cabelos brancos, chapéu e óculos, bem sorridente. Sim, a própria lenda. Charles Chaplin, então com 77 anos, dirigia o que seria seu último filme: "A Condessa de Hong Kong". Seu primeiro filme colorido, o primeiro longa sem sua presença no elenco e estrelado por grandes astros - no caso, Sophia Loren e Marlon Brando. Seria também um grande fracasso, mas não é esse o foco aqui. E sim a foto em questão. O homem de costas é Mr. Brando, já Oscarizado e levemente decadente. Diante dele, o tal sorriso. A jovem Josephine se preparava para sua simbólica aparição em cena, com a bênção do pai. E por mais que existisse uma Loren presente na produção, sempre imaginei a emoção de ser apresentado a esse gentil e quase tímido sorriso. Doce resumo do prazer que ela descobria sentir num set de filmagem, já acostumada aos gigantes. 



A moça nasceu 43 anos antes do meu surgimento, mas a Magia da Fotografia me permitia esquecer tal detalhe numérico-temporal. Apegadíssima ao famoso pai, Josephine ousou se permitir ser dirigida por outros nomes famosos do Cinema mundial. É inegável a força de sua presença em "Os Contos de Canterbury", sob o olhar "vai com tudo" de Pasolini. Ou sob a batuta sofisticada de Claude Chabrol em "Um Tira Amargo". Por mais papéis que pudesse ter feito, o sobrenome naturalmente seria sempre um peso. E não só: em batismo consta como Josephine Hannah - o segundo nome em tributo à avó, que Charlie tanto amou. Não era pouco. Uma verdadeira princesa de traços hipnóticos, naquele reinado da Comédia. É esquisitíssimo ler tantas manchetes anunciando sua morte aos 74 anos, a primeira entre os herdeiros diretos de Charles & Oona. Aconteceu 13 de Julho, enquanto eu ingenuamente ouvia Stones para celebrar o Dia do Rock. 


Por mais que eu não consiga projetar a imagem de um grande pátio celeste, há Beleza em imaginar seu reencontro com um Chaplin já grisalho e imediatamente pimpão ao rever sua eterna criança se aproximar. Aquele Espaço-Tempo de melódica suspensão onde não se envelhece, onde não se termina, onde cores e tons do realismo são cristalizadas no poético preto e branco da Memória. Onde as Luzes da Ribalta nunca se apagam

Doce Josephine, jovem paixão que permanece.