quarta-feira, 31 de maio de 2017

A Casa das Sete Mulheres - Sofia Coppola conquista Cannes com "The Beguiled"


Sofia Coppola fez História no recente Festival de Cannes, ao se tornar a segunda mulher a receber o Prêmio de Direção no evento - a primeira foi a russa Yuliya Solntseva com "A Epopeia dos Anos de Fogo" (1960). A cineasta recebeu o prêmio por esse sofisticado remake do clássico "O Estranho que Nós Amamos", estrelado por Clint Eastwood em 1971. Curiosamente, é a obra que menos tem a já cultuada assinatura da diretora/roteirista. Isso não deixa de ser positivo, ao revelar uma versatilidade e amadurecimento artístico em explorar novas possibilidades. Ela até se reune às velhas conhecidas Kirsten Dunst e Elle Fanning, mas guarda o papel catalizador à esfinge canalizada por Nicole Kidman. 

O ritmo lento e contemplativo garante um espetáculo visual, em imagens que poderiam ser confundidas com pinturas impressionistas. Ainda que expositivo de forma desnecessária em alguns momentos, o roteiro é pontuado por momentos de virada certeiros para o arco narrativo. É quase uma versão norte-americana de "A Casa das Sete Mulheres": sete mulheres (olha só) vivem isoladas em uma mansão durante a Guerra Civil Americana, até que um soldado ferido é encontrado perto do local e invade a privacidade do grupo. Basta saber isso. 

Provavelmente renomeado como "O Estranho que Nós Amávamos" no Brasil (acontece), a obra flerta com o Cinema de Bergman (em conteúdo) e de Kubrick (em forma) - provando que moça Sofia é uma cineasta tão relevante e autoral quanto o pai Francis. Aos fãs fiéis, a chance de ver Coppola deixar de lado o jeitão pop/cult e abraçar o clássico, sem medo de ser levemente careta e até fria na abordagem.