quinta-feira, 23 de novembro de 2017

As Faces do Passado em "O Gabinete das Figuras de Cera", 1924.






Obscura pérola da fase muda do Cinema, "Das Wachsfigurenkabinett" - é o título original, juro! - era basicamente um veículo para seu trio de estrelas. Emil Jannings, Conrad Veidt e Werner Krauss eram então considerados os três maiores atores da Alemanha - e como o Expressionismo Alemão estava em seu auge, era o mesmo que dizer "os maiores atores do mundo". A trama é um fiapo: um jovem escritor aceita o desafio de escrever biografias para três personagens históricos em um museu de cera. Cada um inspira uma breve narrativa, permitindo aventuras por diferentes eras históricas e gêneros. Há espaço para doses de ação, romance, comédia e, inevitavelmente, terror. 

O primeiro é o califa iraniano Harun al-Rashid, vivido pelo bonachão Jannings em rara aparição cômica. O próximo cenário exótico é a Rússia do implacável Ivan, o Terrível, que ganha os assustadores traços do robótico Conrad Veidt. O potencial do personagem é desperdiçado em uma trama boba envolvendo uma "ampulheta da morte", mas as imagens são icônicas e memoráveis. Já a figura de Jack, o Estripador, encarnada pelo sinistro Werner Krauss, ganha menos tempo em cena. Ao invés de uma trama própria, o personagem aparece em uma espécie de pesadelo vivido pelo já sonolento escritor. E de pesadelos o Expressionismo Alemão entendia muito bem, como fica evidente. 


Veidt e Krauss, aliás, já tinham se encontrado em outro gabinete: o pesadelo inicial do período, a merecidamente cultuada obra-prima "O Gabinete do Dr. Caligari" (1920). Para evitar comparações óbvias, o filme foi distribuído nos Estados Unidos como "Waxworks". O roteiro ainda traria um trecho com William Dieterle vivendo o personagem literário Rinaldo Rinaldini. Ele pode ser visto ao fundo no filme  (e nessa foto de divulgação), porém acabou cortado da montagem final por não ser um personagem tão famoso - nem um ator tão reconhecido. Como tudo que os estúdios UFA distribuiam e produziam, "O Gabinete das Figuras de Cera" representava muito da Magia do Cinema dos anos 20. Ainda que não seja comparável às obras de Fritz Lang ou Murnau, esse último filme alemão de Paul Leni merece ser revisitado como mais uma ode aos sonhos da fase muda dessa tão hipnótica Arte.