terça-feira, 6 de março de 2012

O Quarteto Fantástico - Os Beatles e o Psicodelismo de "Yellow Submarine"


Eleitos recentemente pela revista Rolling Stone como "os maiores artistas de todos os tempos", os Beatles eram bem doidos. E, como os artistas completos que foram, deixaram um legado não só na música, mas também no cinema. Os cinco longa-metragens que lançaram - 3 filmes oficiais e 2 especiais para a TV - são prova de seu estilo irreverente e um tanto excêntrico.

Enquanto o magnífico "A Hard Day's Night"(1964) - melhor registro cinematográfico já feito sobre uma banda - e o fraco "Help"(1965) são seus filmes mais divulgados, um terceiro permanece obscuro e perdido no tempo. Trata-se de "Yellow Submarine", uma viajante animação lançada em 1968. Mas não é uma animação para crianças. Todas as mensagens subliminares e doses de ironia só são percebidas por adultos e, principalmente, por fãs da banda.


Em 1966, os Beatles lançaram a música "Yellow Submarine" no álbum Revolver. Em 1967, Lee Minoff escreveu uma história baseada em letras de algumas músicas da banda de Liverpool. Essa história foi transformada em filme pelo produtor Al Brodax, que chamou George Dunning para dirigir as animações. George Martin, produtor musical dos Beatles, também participou com composições próprias que foram adicionadas à trilha sonora.

Durante a finalização do desenho, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr estavam gravando o aclamado "Álbum Branco". A agenda apertada não permitiu que eles participassem da dublagem de seus respectivos personagens. Ou seja, não são suas vozes que ouvimos - e sim, isso tira um pouco da magia. Mas sem meu aviso, esse detalhe passaria despercebido, pois as vozes são muito parecidas. Os hilários desenhos representam bem os músicos, deixando bem clara cada personalidade. John é o bobo, Paul o vaidoso, George o introspectivo e Ringo o azarado. Starr mais uma vez, assim como nos outros filmes, tem maior destaque na trama. Parece uma tentativa de aumentar seu reduzido fã clube.


A trama beira o absurdo: Os Blue Meanies (vilões azuis) atacam o paraíso colorido e musical de Pepperland para acabar com a música. Para salvar o lugar, os Beatles embarcam em uma jornada no submarino amarelo do Sgt. Pepper (ele mesmo, o da música). A trama bobinha vende a ideia de um filme infantil, mas estamos falando do auge do psicodelismo visual. Ao acompanhar as cenas coloridas e alucinantes, não sabemos ao certo o que perguntar: "Qual o sentido disso?" ou "O que eles fumaram?". Piadas à parte, essas sequências deixam claro que NENHUM outro grupo de músicos dosaram tão bem loucura e genialidade.

As animadas sequências musicais são, obviamente, o pontos alto do filme. Um puro deleite para ouvintes de boa música, com sucessos como a faixa-título, "Lucy In The Sky With Diamonds", "Nowhere Man", "Hey Bulldog", "Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band" e "All You Need Is Love". Mas nenhum alcança o trecho ao som de "Eleanor Rigby". Um momento de crítica social e lirismo que transcende o próprio filme e fica na cabeça. Afinal, Beatles não faziam só músicas dançantes e felizes.



E para os beatlemaníacos de plantão, sutilezas e indiretas invadem a tela a todo momento. Momentos como quando Ringo se perde do grupo, e Paul e George comentam:
"- Sabe, não sinto falta do Ringo."
"- Na verdade, ninguém sente."
Ou quando John se apresenta a seu alter-ego: "Eu sou o ego." São os próprios Beatles se declarando através de suas extensões animadas. Mas o diálogo que mais espelha a fama e arrogância da banda é o rápido (quase imperceptível) diálogo entre Paul e John quando eles descobrem que não conseguem quebrar uma bola de vidro gigante:
" - Não quebra, parece que é à prova de Beatles."
" - Ei, nada é à prova de Beatles."
Uma ousadia que só pode ser feita por quem está no topo do mundo. E eles de fato estavam. Ou, segundo a revista Rolling Stone e milhões de fãs ao redor do mundo, ainda estão.