quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Rainha - Merryl Streep encarna Margareth Tatcher à perfeição em "A Dama de Ferro"


De todas categorias de indicados ao Oscar de 2012, a de Melhor Atriz é a mais díficil de definir um favoritismo. Temos a interessante encarnação do ícone Marilyn Monroe por Michelle Williams ("Sete Dias com Marilyn"), uma atuação corajosa e marcante de Viola Davis ("Histórias Cruzadas") e completas transformações físicas por parte de Glenn Close ("Albert Nobbs") e Rooney Mara ("Millenium"). Mas nenhuma dessas atuações toma as proporções do "tour de force" promovido por Mary Louise Streep. Já uma das mais queridas atrizes de todos os tempos e recordista de indicações ao Oscar - foram 17 -, Merryl Streep aceitou o desafio de encarnar a ex-Primeira Ministra britânica Margareth Tatcher. E, como não podia deixar de ser, o cumpriu com louvor.

Essa foi a segunda vez que a diretora Phyllida Lloyd e a atriz Meryl Streep trabalharam juntas, depois do grande sucesso de público e crítica "Mamma Mia!" em 2008. Mas "A Dama de Ferro" tem uma estrutura convencional de biografia, acompanhando os momentos mais importantes da vida e carreira da primeira mulher a ser eleita Primeira-Ministra do Reino Unido. Em certos momentos, chega até mesmo a ser um pouco confuso ao abranger tantos acontecimentos de forma muito corrida. Então, o que faz dessa produção um filme acima da média? Nada mais nada menos do que a assustadora interpretação de Streep, que basicamente se tornou Tatcher no jeito de andar, falar, olhar, se virar e respirar. Algo bem semelhante ao que Helen Mirren fez com Elizabeth II em "A Rainha" - que, veja bem, lhe deu o Oscar de Melhor Atriz.


Ter o filme completamente voltado para a mulher por trás da figura política justifica o reduzido enfoque dado a fatos históricos importantes. É compreensível, uma vez que o importante não são os acontecimentos marcantes, e sim a reação e atitudes de Tatcher diante deles. Ataques do IRA, Guerra Fria, Reagan, Guerra das Malvinas, está tudo lá, em uma resumida radiografia do período de 11 anos (1979-1990) em que ela governou o Reino Unido - alternando com o período atual, com 86 anos e reclusa em sua casa pelos sinais de demência que a assombram desde 2000.

A real razão para conferir essa produção é se deliciar com o trabalho de Streep, uma verdadeira aula de atuação. Em nenhum momento a carismática atriz parece estar em cena. Principalmente nos trechos em que uma envelhecida Margareth Tatcher portadora de demência aparece. Qualquer um pode acreditar que é a própria. A transformação física é surpreendente, algo que Streep já tinha feito com Julia Child em "Julie e Julia". Ou seja, mais uma prova de que a norte-americana merece mais do que apenas um Oscar de Coadjuvante por "Kramer VS. Kramer" (1979) e outro de Melhor Atriz por "A Escolha de Sofia"(1982). Se ganhasse o terceiro Oscar, ficaria atrás apenas do mito Katherine Hepburn, vencedora de 4 prêmios da Academia e cuja encarnação rendeu um outro de Coadjuvante para Kate Blanchet em "O Aviador" (2004). E dos 105 minutos de duração, duas cenas sozinhas justificariam a vitória de Streep: o momento em que ela demonstra o porquê de sua alcunha de "Dama de Ferro" durante uma reunião de seu comitê e a cena final, eficiente pelos pequenos gestos.


Jim Broadbent está carismático como o marido brincalhão que ajuda a esposa a se manter firme na profissão, mas todo o elenco é ofuscado pelo carisma de Streep. Se por acaso ocorrer uma zebra e o Oscar do dia 26 acabar indo para Viola Davis - amiga pessoal de Streep e com a qual ela atuou (maravilhosamente, pra variar) em "Dúvida"(2008)-, "A Dama de Ferro" será apenas mais uma prova do talento extraordinário de uma das melhores atrizes da história do cinema. O filme é completamente ancorado nela, uma estrela que tem calibre para carregá-lo sozinho e que sabe disso. Como Tatcher sabia ao manter suas decisões diante das crises pelas quais passou. Ou seja, uma personagem perfeita para uma atriz perfeita.