sábado, 20 de novembro de 2010

Além dos Muros da Escola - O começo do fim das aventuras de Harry Potter


Tudo começou em 2001, com a pretensiosa adaptação que Chris Columbus fez do livro de J.K. Rowling, na época febre mundial entre os jovens. E eis que, quase 10 anos depois, chegamos ao penúltimo filme da saga (não por acaso uma das mais lucrativas da história do cinema), adaptação do sétimo e último livro da série. Mas peraí, como assim o penúltimo filme adapta o último livro? Simples: os produtores viram como boa saída separar em duas partes a conclusão da série, para que pudessem explicar direito todos os detalhes da trama e, assim, agradar aos fãs mais radicais e ao público em geral. E, obviamente, ter o dobro de lucratividade nas bilheterias. Assim chegamos a "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1".


Para os que viram os dois últimos filmes, já ficava a certeza de que Harry Potter não é mais coisa de criança. A leveza das primeiras produções foi ficando de lado a partir do terceiro longa, e aqui, no sétimo, o clima sombrio e de trevas prevalece do começo ao fim. Na verdade, sem dúvida, esse é o filme mais violento e assustador até aqui. Nada mais justo, já que os personagens e seus conflitos cresceram junto com os jovens fãs ao redor do mundo, o que se evidencia pela barba no rosto de Daniel Radcliffe (Harry) e Rupert Grint (Rony).


O grande diferencial que pode ser percebido aqui é o fato de nenhuma cena dessa primeira parte se passar na Escola de Bruxaria de Hogwarts ou sequer em seus arredores, o que justifica o título desse artigo. Grande parte dessa aventura se passa no mundo real, na realidade dos "trouxas". Ao longo dos 146 (!) minutos de projeção, acompanhamos Harry, Hermione e Rony em busca de mais horcruxes, para assim destruir o segredo da imortalidade de Voldemort. Só que dessa vez, sem a orientação de seus professores ou a proteção do sábio Dumbledore. Assim, eles têm que confiar uns nos outros mais do que nunca.

Os mais atentos perceberão várias referências aos primeiros filmes, principalmente ao primeiro. Muitos velhos conhecidos, como o elfo Dobby, voltam para esse filme, que sofre de um único mal: o grande número de personagens faz com que alguns atores pareçam desperdiçados em cena, pelo mísero número de falas ou aparição na história. É o caso de Draco Malfoy, Neville Longbottom e do Senhor Olivaras, que mal aparecem. Além disso, tudo acontece muito rápido, afinal, são os roteiristas correndo atrás do que foi excluído dos outros filmes e agora se mostra importante para a conclusão. Mas nada que prejudique a qualidade do produto final.


O clima de romance adolescente que prevaleceu na produção anterior é bastante reduzido aqui, envolvendo apenas o trio principal de amigos, que deverão enfrentar os ciúmes e desejos inerentes a essa idade em seu combate ao mal. A caracterização
dos personagens e até mesmo dos cenários é perfeita. A qualidade do filme se deve ao trabalho minucioso e primoroso do diretor David Yates, que prova aqui ter sido o homem certo para assumir os últimos filmes da saga. Ele fez, no total, quatro filmes, tendo dirigido antes "A Ordem da Fênix"(2007)e "O Enigma do Príncipe"(2009), além de já ter finalizado as filmagens da parte final, que, ao que tudo indica, será lançada em 3D.

Os destaques são os maravilhosos efeitos especiais, que se mostram cada vez melhores, e as várias sequências de ação bem distribuídas no desenrolar da trama. A engraçada e inspirada cena que se passa no Ministério da Magia, sob os efeitos da Poção Polissuco, garante um grau de leveza para aliviar a tensão que se mantém constante até o repentino corte que indica o fim dessa primeira metade.


"Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1" pode até não ser considerado o melhor filme da série, mas é uma adaptação muito fiel à obra original e tem tudo para agradar gregos e troianos, quer dizer, público e crítica, até mesmo aos fãs mais exigentes. O grande número de mortes e ataques já serve de prévia para a parte final, que estreia apenas em julho prometendo intensos combates e a perda de personagens queridos por quem acompanha a série desde o começo. Nos preparamos assim para voltar, uma última vez, para o mundo já não tão maravilhoso e encantador de Harry Potter. Afinal, o Expresso Hogwarts já não é tão seguro.