sábado, 21 de janeiro de 2012

Desventuras em Série - Spielberg conquista os fãs com adaptação de "As Aventuras de Tintim"


É com imenso prazer que digo: a espera valeu a pena! Steven Spielberg não decepcionou e fez de "As Aventuras de Tintim" uma agradável e eficiente aventura que lembra as grandes matinês do cinema. E o filme tem tudo para agradar o grande público, principalmente os fãs do astuto repórter criado pelo belga Hergé em 1929.

Famoso por amantes de histórias em quadrinhos que (como eu) o acompanharam em suas 24 aventuras ao redor do mundo, era inevitável que Tintim e seu leal fox terrier Milu fossem parar na tela grande. Mas o receio era grande, afinal era um personagem muito querido e conhecido. Muitos temiam que acontecesse algo semelhante a "Scooby Doo" ou "Speed Racer" - e que na verdade até chegou a acontecer com Tintim, em uma desconhecida e obscura adaptação live action de 1964. O filme tinha que fazer jus à obra de Hergé, e a história a ser adaptada teria que ser muito bem escolhida.


Bem, quase todos relaxaram quando Spielberg foi anunciado como diretor do projeto. De aventura ele entende, vide Indiana Jones, Jurassic Park e tantos outros clássicos. As coisas só melhoraram quando Peter Jackson - ele mesmo, o cara do "Senhor dos Anéis" -, entrou de cabeça como produtor. Aí era só esperar a estreia para ter certeza do sucesso. E ela veio.

Foi arriscada a decisão de não fazer um filme em live action convencional e optar pela captura digital de movimentos - semelhante à usada em "Avatar". Mas quando é visto o resultado final, devemos admitir (maravilhados) que foi a melhor escolha. Os atores que "interpretam" os personagens não são idênticos a eles fisicamente - o que seria quase impossível -, mas têm seu rosto modelado de acordo com os traços originais do desenho. E assim temos o mundo de Hergé adaptado para um visual (muito) mais realista e próximo da realidade. Algo simplesmente perfeito para esse tipo de projeto. Em certos momentos, chegamos a acreditar estar vendo um filme com atores e cenários de verdade. O realismo é surpreendente, vide detalhes dos ambientes e rugas ou pêlos nos personagens. Não à toa levou o Globo de Ouro de Animação, e o Oscar é uma justa certeza.


A escolha de "O Segredo do Licorne" - coincidentemente o primeiro livro do Tintim que ganhei - como aventura a ser adaptada se justifica. Cada personagem é apresentado de maneira eficiente e brilhante. Afinal, apresentar personagens é algo que Spielberg sabe fazer muito bem. A primeira aparição do próprio Tintim é uma grande homenagem a seu criador. E homenagens à ele não faltam no filme, que tem várias citações a outras aventuras do repórter - algumas só os fãs vão identificar. Spielberg mesmo, muito esperto, faz hilárias "indiretas" a seus próprios filmes, como a "Caçadores da Arca Perdida" e "Tubarão". Coisa de mestre.

O dedutivo Tintim de Jamie Bell é muito próximo do original, mas são os coadjuvantes que roubam a cena. O carismático Capitão Haddock ganha o olhar profundo de Andy Serkis, o homem por trás do Gollum/Smeagol de "O Senhor dos Anéis" e do novo "King Kong". Transposição perfeita do rabugento e beberrão pirata que não suporta ficar sóbrio, Serkis consegue mais uma vez ser o ponto alto do filme, sem muito esforço. Alívio cômico da série, os atrapalhados agentes gêmeos Dupond e Dupont (vividos pela dupla Simon Pegg e Nick Frost, de "Chumbo Grosso") têm merecida participação e garantem boas risadas. Até personagens secundários dão as caras, como a exêntrica cantora lírica Castafiore, uma grande surpresa. Mas é o cãozinho Milu o grande destaque do filme. Fazendo as vezes de herói em cenas decisivas e muito realista, é difícil sair do cinema sem querer ter um em casa.


Spielberg e Jackson orquestraram um pequeno milagre desde os estilosos créditos iniciais. O uso de animação em todas as cenas do filme permitiu que as cenas fossem elaboradas sem as limitações da captação por câmeras. Ou seja: as cenas de ação são riquíssimas em detalhes e muito bem executadas. As pequenas mudanças feitas na história original se justificam e não ofendem os fãs mais ardorosos. Uma continuação é inevitável e Spielberg já anunciou que planeja uma trilogia. Nossa parte é curtir a nostalgia de voltar aos personagens de nossas infâncias com o luxuoso tratamento que só Hollywood poderia dar. Astérix e Obélix devem estar morrendo de inveja.