terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Um Estranho No Ninho - Johnny Depp é "O Turista" em filme confuso e irregular


2006. O diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck conquista o mundo com "A Vida dos Outros", filmaço estrelado por Ulrich Mühe (que infelizmente morreu pouco depois da estreia do filme, em 2007). A produção que narra a história de um agente da polícia política da Alemanha Oriental envolvido num serviço de escutas clandestinas do apartamento de um casal da cena cultural de Berlim se mostrou um dos melhores filmes da década e abocanhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para Alemanha.

2010. O mesmo diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck, depois de chamar a atenção de Hollywood por seu trabalho de estréia, comanda as filmagens de "O Turista", thriller que junta as estrelas Johnny Depp e Angelia Jolie, causando por isso grande espectativa. O problema básico é que esse filme, ao contrário do antes citado, não empolga nem envolve o espectador.


Nessa trama acompanhamos Elise Clifton-Ward, personagem de Jolie, sendo perseguida pela equipe chefiada pelo inspetor John Acheson (Paul Bettany), que acredita que ela o levará ao misterioso e procurado ladrão Alexander Pearce, seu amante. E recebendo ordens dele, ela entra em um trem, onde deve escolher algum indivíduo fisicamente semelhante a ele para despistar os agentes. Mas calma, tudo isso é mostrado no trailer. E é a partir daí que a história se desenrola, quando ela (obviamente) escolhe a persona de Depp.

O problema é que tudo isso que foi descrito acima ocorre de maneira muito inverossímel e forçada, quase didática. Dessa forma, fica difícil (muito difícil) acreditar no que está sendo visto, o que faz o filme perder força logo de cara. Donnersmarck, sabe-se lá por quê, dirige o longa sem paixão ou originalidade (exatamente elementos que faziam a diferença em "A Vida dos Outros"), deixando ele cair em uma espiral de clichês. Assim, dá-lhe cenas exageradas e diálogos pouco inspirados, que aproveitam mal a pequena (quase imperceptível) química que chega a acontecer entre os protagonistas. A trilha sonora forçada até tenta ajudar, mas pouco muda ou melhora.

Angelina Jolie é uma das mulheres mais belas do mundo, ok. E ela sabe disso. Mas precisa saber que não é por isso que não precisa atuar em seus filmes. Apesar de se entregar a bons trabalhos como "A Troca" (2008) e "O Preço da Coragem" (2007), a atriz normalmente deixa o piloto automático guiá-la em filmes de ação como "O Procurado" (2008) e "Salt"(2010). Já aqui, ela simplesmente desfila em cena, como se estivesse sempre pensando "Eu sou a Angelina Jolie, olhem para mim." E os figurantes bizarramente olham. Assim, temos um desempenho digno das estrelas dos anos 40, cuja presença bastava, e não o talento. Mas, nesse caso, a presença dela não basta. O papel era originalmente endereçado à Charlize Theron, que sem dúvida o faria melhor.


Johnny Depp, ator que premiou o cinema com seu inspirado Jack Sparrow, um dos melhores personagens de todos os tempos, mostra que vem perdendo o controle de sua atuação desde então. Em "Alice no País das Maravilhas" ele já mostrava que estava virando uma caricatura de si mesmo. Não que o ator esteja ruim nesse filme. O problema é que seu personagem (que originalmente seria feito por Tom Cruise) é de humor, e o filme é um thriller. Logo, ele, com suas piadas, está um tanto deslocado em cena. Um "estranho no ninho", verdadeiro "turista" dentro do confuso roteiro, que não resolve que gênero adotar. Assim, Paul Bettany acaba sendo o melhor ator em cena, no papel do inspetor que tenta manter a seriedade nessa trama que atira para todos os lados e não acerta em nenhum deles. Vale citar a participação de Timothy Dalton, ator que foi o quarto a viver o agente 007 (em "Marcado para a Morte"(1987) e "Permissão para matar"(1989), e por coincidência(ou não), trabalha neste filme também como um agente especial do governo.

No final das contas, essa refilmagem do filme francês "Anthony Zimmer - A Caçada", de 2005, até diverte, mas fica muito abaixo das espectativas. Apesar dos dois nomes de peso que lideram o elenco, o resultado é um filme completamente esquecível. Espera-se que o talentoso diretor Florian Henckel von Donnersmarck tenha mais sorte nas futuras escolhas a serem feitas em Hollywood. Senão, é preferível que ele seja apenas mais um turista na cidade.