domingo, 30 de maio de 2010

Born To Be Wild: Dennis Hopper (1936-2010)


Dennis Hopper, um dos atores símbolos da geração rebelde que tomou Hollywood na década de 70, teve seu nome imortalizado na Calçada da Fama em março desse ano. Presente na cerimônia, apresentava um visual extremamente debilitado devido ao tratamento do câncer de próstata que vinha fazendo desde setembro do ano passado. Quem via o antes viril ator daquele jeito, sabia que seu fim estava próximo. E ele chegou no último dia 29 de maio, encerrando a carreira do ator aos 74 anos.

Ao longo de mais de 50 anos de trabalho, o ator, explosivo por natureza, se envolveu em vários escândalos. Começou a ter fama de encrenqueiro logo em seu primeiro filme de destaque, “Juventude Transviada”, de 1955, produção que imortalizou James Dean no imaginário cinematográfico. Na época, Hopper namorava Natalie Wood, protagonista do longa. Eles muito brigavam e logo ela passou a namorar o diretor da produção, Nicholas Ray. O clima no set de filmagem rapidamente ficou pesado demais, e a consequência foi a redução da participação de Hopper. Antes com um papel importante na trama, ele passou a ser apenas mais um calado membro da gangue principal.


Continuou com participações discretas em diversos filmes, mas o ponto alto de sua carreira viria no final dos anos 60. Incentivado pelo amigo e ator Peter Fonda, resolveu, além de estrelar, dirigir a história de dois amigos hippies que cruzam os Estados Unidos com suas motos em busca de liberdade. Dessa simples idéia, surgiu “Sem Destino”, filme-marco dos anos 60, que escancarou todo o ideal daquela geração movida a sexo, drogas e Rockn’ Roll, além de evidenciar o preconceito que sofriam por parte dos conservadores no país. Apesar do filme ser roubado pela rápida participação de Jack Nicholson (em seu primeiro papel marcante no cinema) como o advogado alcoólatra que se junta a eles no meio do caminho, Hopper se destaca com sua inspirada e engraçada atuação, talvez o hippie doidão mais autêntico do cinema.

O sucesso do filme, lançado em 1969, foi estrondoso, transformou os protagonistas em ícones, e imortalizou a trilha sonora, principalmente com a canção que dá título a este texto, que se tornou instantaneamente uma espécie de hino para os motoqueiros do mundo inteiro. Apesar da adoração, o filme não envelheceu tão bem e hoje pode até ser considerado meio chato, mas sem dúvida é um indispensável documento histórico que muito ajuda a entender aquele período da cultura americana. Claro que nem tudo foi agradável: amigos (como Fonda) e membros da equipe logo declararam que filmar com o ator era insuportável, pois ele era extremamente violento, agressivo e arrogante. Essa fama o acompanhou por muito tempo nos bastidores.


Hopper logo incorporou ao seu jeito de atuar o estilo maluco, deslocado e desbocado pelo qual era conhecido. Repetiu esse tipo de personagem em sua rápida e marcante atuação em Apocalypse Now, de 1979. Seu jeito de ser irritou tanto o então astro Marlon Brando (em participação ainda mais rápida) que esse se recusou a gravar com ele. Se no filme eles têm rápidas cenas juntos, é graças ao grande trabalho de edição.

O ator ainda teria grandes atuações em “O Selvagem Da Motocicleta”, filme (infelizmente) pouco conhecido que Francis Ford Coppola fez em 1983,em "Veludo Azul"(1986), e em “Amor À Queima-Roupa”(1993), que teve o roteiro de um ainda pouco conhecido cineasta chamado Quentin Tarantino, em fase “pré-Pulp Fiction”.

Desde a década de 90, com seus vilões excêntricos em “Velocidade Máxima”(1994) e em “Waterworld-O Segredo Das Águas”(1995), Hopper escolheu papéis menos relevantes em filmes de baixo orçamento, alcançando seu brilho antigo apenas mais recentemente com a série “Crash – Destinos Cruzados”, baseada no filme homônimo de 2005. Este ano, ele continuou a atuar na série com grande esforço, mesmo depois do intenso tratamento a que foi submetido.

E assim se vai mais um símbolo de uma era, exemplo clássico da rebeldia deixada nos anos 70. Apesar de ter sido rotulado de louco, perverso, vingativo, entre outros adjetivos nada agradáveis, sem dúvida este ator causou grande mudança estética, moral e ética no cinema americano, e a história lhe dará o reconhecimento devido no tempo certo.

sábado, 22 de maio de 2010

Há 30 anos, Em Uma Galáxia Não Muito Distante...


Ao fazer uma análise dos 115 anos em que o cinema existe, podemos ver que poucos são os filmes que envelhecem bem a ponto de ter suas datas de estreia comemoradas ao redor do planeta. Isso, obviamente, acontece apenas quando a produção tem um grande apelo junto ao público, e um exemplo desse fenômeno é a magia e nostalgia despertada pelos fãs de uma certa série de ficção cientifica criada em 1977 por George Lucas.

"Star Wars Episódio V: O Império Contra-Ataca", segundo filme e quinto capítulo da série, foi originalmente lançado em 21 de maio de 1980, conquistando público e crítica e formando definitivamente uma enorme legião de fãs cujo número ainda hoje continua aumentando, apesar do fim oficial da saga em 2005. Considerado por muitos como o melhor filme entre os seis, foi nesse episódio em que a história realmente começou a tomar caminhos dramáticos que a diferenciavam da tradicional aventura apresentada no "Episódio IV: Uma Nova Esperança". Aqui, o personagem de Darth Vader se consagrou como um dos maiores vilões da história da sétima arte; e o Mestre Yoda, outro ícone do cinema e da franquia, surgiu roubando toda a metade do filme para si.


Com mais ação, mais romance, mais (e melhores) efeitos especiais e uma história melhor trabalhada, o filme se tornou uma das mais bem sucedidas continuações já feitas e um dos filmes mais cultuados de todos os tempos, preparando o terreno para a parte final, “O Retorno de Jedi”, quer viria em 1983. A frase “Eu sou seu pai”, que é dita por Vader para seu filho e então inimigo, Luke Skywalker, é uma das mais famosas já proferidas (sendo até hoje “homenageada” e parodiada) e várias cenas entraram para o imaginário popular, como Han Solo (Harrison Ford, inesquecível como o personagem) sendo congelado em carbonita, a batalha inicial no gelado planeta de Hoth e a emocionante luta entre pai e filho no final do filme. Os cenários e planetas criados para o longa são também deslumbrantes e muito ajudam para nos fazer embarcar na viagem intergalática proposta, como é o caso da cidade de Bespin, construída no meio das nuvens, e do planeta pantanoso de Dagobah, onde vive Yoda.

Mas se estamos comemorando o aniversário de 30 anos dessa produção inesquecível, não podemos ignorar outras obras-primas também realizadas no mesmo ano. É o caso de uma produção de terror nascida do desejo que o já então consagrado diretor Stanley Kubrick tinha em adaptar um livro escrito por Stephen King. Dessa vontade surgiu “O Iluminado”, obra que é considerada, junto com “O Exorcista”, um dos filme mais assustadores já feitos.


Kubrick, que já tinha realizado filmes aclamados e singulares como “2001: Uma Odisséia no Espaço” e “Laranja Mecânica”, apresentou aqui um terror psicológico que envolve a plateia de forma intimidadora e garante que depois de assisti-lo nenhum expectador veja um corredor (aparentemente) vazio da mesma forma. Isso para contar a história de uma família isolada em um hotel, cujo pai, escritor, começa a apresentar comportamento homicida por viver muito tempo enclausurado no local. Jack Nicholson tem aqui uma das atuações mais brilhantes e festejadas de sua marcante carreira, admitindo ainda hoje que nunca conseguiu livrar-se dos trejeitos do personagem. E dá-lhe cenas traumáticas e horripilantes na tela.

Para finalizar, vale a pena ainda relembrar que foi em 1980 que Martin Scorsese, lenda viva do cinema, resolveu filmar a história real de Jake LaMotta, um filho de imigrantes italianos que se tornou pugilista da categoria peso-médio e ficou conhecido como "o touro do Bronx". Com “Touro Indomável”, Scorsese realizou aquele que muitos consideram (inclusive o que aqui escreve) seu melhor filme. A fotografia em preto-e-branco e a inspirada edição tornam o filme obrigatório para qualquer um que se considere cinéfilo.


Apesar de ser um filme focado na vida de um boxeador, o esporte aparece pouco em cena, pois o importante são os aspectos da vida do complexo e violento personagem, vivido de forma brilhante por Robert De Niro, que aqui tem a melhor atuação de sua carreira, juntamente com o Travis Bickle de “Taxi Driver”, também dirigido por Scorsese. Para convencer o diretor de que poderia interpretar o pugilista, De Niro treinou boxe durante um ano com o próprio La Motta e ainda engordou 25 quilos para interpretar o pugilista aposentado. As filmagens foram interrompidas durante duas semanas para que De Niro engordasse. Essa dedicação lhe valeu o Oscar de Melhor Ator, um dos dois recebidos pelo filme. O outro foi o de Melhor Edição.

O ironico é pensar que outros filmes focados em boxeadores, como “Rocky, o lutador” e “Menina de Ouro”, levaram o Oscar de Melhor Filme em 1977 e em 2005, respectivamente, apesar de esse ser considerado pelos criticos o melhor filme sobre o assunto e o melhor trabalho de Scorsese, que também não levou a estatueta nesse ano, perdendo para Robert Redford e seu pouco conhecido “Gente como a Gente”. Sem dúvida, uma das grandes injustiças já cometidas pela Academia de Cinema, mas algo que não tira o brilho dessa inesquecível e inigualável obra de arte em forma de película.

Enfim, vida longa a esses filmes!!!

sábado, 1 de maio de 2010

Supermáquina em Ação – A Volta do Homem de Ferro às Telonas


Há três anos atrás, qualquer estúdio ou diretor pensaria duas vezes antes de investir em um filme baseado nas aventuras do Homem de Ferro, um herói da galeria da Marvel com menor apelo popular junto ao grande público. Mas dois anos após a primeira bem sucedida produção, o personagem volta com força total em “Homem de Ferro 2”, prometendo ser o grande blockbuster do ano.

A sequência, feita em um tempo consideravelmente reduzido para os padrões normais, tinha tudo para ser um clássico exemplo onde a história é esquecida e o público é presenteado com muitos efeitos especiais e ação, como a exemplo de “Transformers” e “Quarteto Fantástico 2”. Bem, não é o que acontece aqui. O roteiro é muito mais elaborado do que o da primeira produção, e o resultado é um filme muito superior e melhor. Não que isso seja grande coisa, pois nada se compara a “Homem Aranha 2” ou “Cavaleiro das Trevas". Mas é um grande avanço, que será percebido pelo público.


Aqui também fica comprovado que Robert Downey Jr. nasceu para o papel do bilionário problemático Tony Stark, alter ego do herói. Ele nem precisa atuar, pois é o espelho do personagem, que, apesar de ter sido inventado por Stan Lee (que tem rápida aparição em cena) em 1963, parece ter sido escrito especialmente para ele. Além de se divertir no papel, o ator, que já mostrou seu enorme talento personificando Chaplin no filme homônimo de 1992 e com uma participação brilhante em “Trovão Tropical”(2008), tem todo o filme na sua mão. O personagem, sem dúvida, é o auge de sua volta ao topo do sucesso, depois de anos afundado em problemas com drogas.

História de vida semelhante à sua tem Mickey Rourke, que depois de retornar triunfal em “O Lutador”(2009), aparece aqui como o vilão Chicote Negro. Apesar do grande estardalhaço criado acerca de seu personagem, quem rouba a cena mesmo é Sam Rockwell, eterno coadjuvante de filmes como "Os Vigaristas"(2003) e "À Espera de um Milagre"(1999), aqui divertido no papel do dono da empresa rival de Stark. Rourke acaba tendo uma participação menos expressiva, apesar de seu personagem ser melhor que o de Jeff Bridges no filme anterior.

Gwyneth Paltrow retorna como par do protagonista, tendo dessa vez mais importância na trama, o que é justo para uma atriz com o seu talento. Com a saída do ator Terrence Howard, Don Cheadle assume o papel do melhor amigo James Rhodes, se saindo melhor nele que seu antecessor. Jon Favreau, que também dirigiu os dois filmes, também ganha mais destaque no papel do motorista Happy Hogan. Paul Bettany, ator famoso como o monge de “O Código Da Vinci” participa aqui como a voz do computador geral J.A.R.V.I.S.


E para o delírio dos marmanjos, eis que surge uma irresistível e estonteante Scarlett Johansson no papel da Viúva Negra. Apesar da reduzida participação, sua personagem tem presença marcante na produção. O problema, no caso, é Samuel L. Jackson. Ele é sem dúvida um grande ator, como já provou em “Pulp Fiction”(1994) e em tantas outras produções, mas acabou transformando Nick Fury, líder da agência S.H.I.E.L.D. e um dos personagens mais interessantes do Universo Marvel, em uma caricatura de si mesmo. E ele provavelmente continuará como o personagem nos próximos filmes da Marvel, como o dos Vingadores, que é inclusive anunciado nessa produção.

O destaque, como era de se esperar, fica por conta das cenas de ação, que ocorrem em maior quantidade e de forma mais complexa que no original, até porque dessa vez são vários homens de ferro em ação. Os efeitos especiais são de fato impressionantes. Mas os aspectos técnicos não devem ofuscar o brilho de cenas como a que ocorre em um tribunal federal no início do filme. É uma cena muito bem feita e engraçada, como é o filme em si. Atenção também à inspirada trilha sonora, com clássicos da banda AC/DC, em total sintonia com a trama.


O sentimento geral depois de “Homem de Ferro 2” é de satisfação. Apesar de não ser uma história que exija reflexão, é entretenimento da melhor qualidade, para nos divertir durante 2 horas e nos dar a certeza de que Robert Downey Jr., apesar dos erros do passado, é o cara.