sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Poderoso Chefão: Coppola lança "Tetro" no Brasil


São 21:10 do dia 2 de dezembro, e lá estou eu sentado na sala do Espaço de Cinema, em Botafogo. Um tanto ansioso, diga-se de passagem, pela estréia de "Tetro", novo filme do mestre Francis Ford Coppola, que iria àquela exibição para divulgar o longa. E então, de repente, um amontoado de pessoas indicam que ele estava se aproximando. Preparo a câmera. Quando olho para o lado, lá está ele, diante de mim. O cara que eu conhecia desde criança por ter dirigido meu filme favorito, "O Poderoso Chefão", e que já tinha visto em vários documentários e fotos, estava em pé do meu lado, ao vivo e a cores. Antes que pudesse ter qualquer reação, ele se dirige para a frente da sala. Lá, fala por 5 minutos sobre a importância da família, agradece sua simpática esposa pelo apoio e garante que se dedicará a produções menores (como aquela) a partir de agora. E depois disso, vai logo embora, sem que eu e outros fãs presentes tivéssemos tempo ou chance de trocar umas palavrinhas com ele. Mas enfim, uma noite para ficar na memória. E começa o filme.

Coppola, nascido em 1939 nos Estados Unidos com descendência direta italiana (todos Coppola eram italianos), sempre teve as tradições do país muito presentes em sua vida. A família era um elemento muito importante, o que se evidenciou no seu primeiro grande filme, que logo foi considerado o melhor já realizado, posto que, para muitos (inclusive o que vos escreve), mantém até hoje. Foi com "O Poderoso Chefão", de 1972, que Coppola ficou conhecido em todo o mundo. Mesmo já tendo recebido um Oscar em 1970 pelo roteiro de "Patton - Rebelde ou Herói?", foi com a saga da família Corleone que o diretor se firmou em Hollywood como um dos realizadores mais importantes dos anos 70, no mesmo grupo de ouro do qual fizeram parte Steven Spielberg, Martin Scorsese e George Lucas, entre outros.


E a década de 70 foi, sem dúvida, a mais importante na carreira do diretor. Foi em 1974 que ele lançou o tenso "A Conversação" (filmaço pouco valorizado) e "O Poderoso Chefão - Parte II", que, assim como o primeiro, ganhou o Oscar de Melhor Filme e lhe deu enfim a estatueta de Melhor Diretor. Depois disso, passou 3 anos em uma floresta filmando seu projeto mais ambicioso, o grandioso "Apocalypse Now". A realização do filme foi marcada por inúmeros problemas, desde tempestades, abuso de drogas ( que resultaram no ataque cardíaco de Martin Sheen) até a aparência inchada de Marlon Brando, que Coppola tentou esconder, filmando-o na sombra. Após ser adiado várias vezes, o filme finalmente estreou em 1979, sendo considerado até hoje um dos grandes clássicos do cinema. Mas sua produção quase levou o diretor e sua produtora à falência. O preço de uma obra-prima...

As próximas décadas foram mais difíceis para o diretor, que se envolveu em produções menores que infelizmente não receberam a visibilidade que mereciam. Mas o diretor mostrou que ainda tinha o dom de conduzir boas histórias com "O Selvagem da Motocicleta" (1983) e sua excêntrica e genial versão do "Drácula de Bram Stoker"(1992). Até filmes menores, como a irregular parte final da trilogia dos Corleone, de 1990, se destacaram.

Agora, aos 71 anos, Coppola continua na ativa (em menor atividade, sem dúvida) dirigindo projetos mais pessoais e que ele mesmo escreve e produz. Consegue o dinheiro do negócio de vinhos que fabrica em sua vinícola particular. Se a prioridade recentemente vinha sendo a produção de filmes de sua filha, Sofia Coppola (que recentemente conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza com seu tocante "Somewhere"), aqui ele deu um espaço para se dedicar ao projeto que foca em uma delicada relação entre irmãos.


"Tetro", feito em 2009, tem trama simples: o ingênuo Bennie (Alden Ehreinreich), de 17 anos, chega a Buenos Aires para encontrar seu irmão mais velho, Angelo (Vincent Gallo, visceral em sua perfomance), que resolveu tirar um ano sabático e nunca mais entrou em contato com a família. Logo ele vê que o irmão não é mais a mesma pessoa, e os segredos do passado envolvendo a família vão ficando mais sombrios. Com uma belíssima fotografia em preto-e-branco, que dá ao filme um charme visual (com a boa sacada de botar os flashbacks coloridos, em contraste), e uma história interessante que evolui naturalmente misturando suspense, drama e um pouco de humor, Coppola volta triunfal à boa forma em um filme que merece ser visto.


Talvez pela "aura cult" e os nomes pouco conhecidos envolvidos, "Tetro" não atraia o público merecido. Mas sua última sequência, com os protagonistas no meio dos carros em um intenso trânsito, prova que Coppola ainda é o grande mestre da sétima arte que todos nós temos o prazer de assistir. Afinal, quem é rei não perde a majestade.