segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

"O Curioso Caso de Mark Zuckerberg" - As origens do Facebook no filme do momento


Diariamente, encontro algum momento para ligar o computador e me atualizar um pouco. De forma inevitável e automática, acabo entrando no Facebook para ver o que dizem meus amigos ou novas fotos e comentários que possam ter publicado. Assim como eu, mais de 500 milhões de pessoas ao redor do mundo realizam os mesmos procedimentos todos os dias, quem sabe agora, nesse exato momento. Isso torna o Facebook o mais famoso site de relacionamentos do mundo, o que tornou seu criador, Mark Zuckerberg, o mais jovem bilionário do planeta.

Quando foi anunciada a produção de um filme sobre a fundação do website, pouco estardalhaço foi feito. Mas quando descobriu-se do envolvimento do diretor David Fincher, as espectativas e atenções se voltaram para o projeto. Realizador de grandes filmes aclamados pela crítica como "Clube da Luta" (1999) e "O Curioso Caso de Benjamin Button"(2008), Fincher, que começou dirigindo clipes musicais, 6 dos quais chegaram ao Top 100 da MTV em recente eleiçao dos 100 melhores do século, sempre imprimiu estilo e agilidade únicos a seus filmes. Os cinéfilos em geral, mesmo desconfiados, sabiam que podiam esperar uma nova jóia do diretor.


E assim chegamos à "A Rede Social", adaptação da história real de Mark Zuckerberg, estudante de Harvard e gênio em programação de computadores. Após criar um site para comparar garotas como meio de liberar a ira contra a ex-namorada que lhe deu um fora, Zuckerberg percebe que o grande índice de visualizações no blog lhe permitiria um empreendimento mais ambicioso. Assim, o que começa em seu quarto logo se torna uma rede social global e uma revolução na comunicação. Mas para concretizar isso, ele acaba traindo a amizade de seu único amigo, o brasileiro Eduardo Saverin, e também roubar parte da idéia dos gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss, idealizadores do Harvard Connection.

O elenco é daqueles que promete renovar a indústria, repleto de novos e promissores talentos. No papel principal, Jesse Eisenberg prova que não está preso ao papel de nerd bobo que fez em "Zumbilândia"(2009) e "Férias Frustradas de Verão"(2007), em uma atuação que pode sim lhe valher ao menos uma indicação ao Oscar. Seu Zuckerberg é frio, direto e genial em seus pequenos detalhes, uma espécie de Charles Foster Kane do novo século, fazendo alusão ao magnata interpretado por Orson Welles no grande clássico "Cidadão Kane" (1941). Ao seu lado, temos Andrew Garfield, o escolhido para viver Peter Parker na nova (e, cá entre nós, desnecessária) versão do "Homem Aranha". Garfield começa tímido e um tanto confuso no papel de Saverin, mas ao longo da trama seu personagem vai evoluindo e tudo culmina na cena em que ele percebe que foi enganado pelo melhor amigo. É simplesmente espetacular sua reação. Quem ainda tem um papel de destaque é Justin Timberlake (sim, o cantor) como Sean Parker, o homem que fundou a Napster aos 19 anos. É um papel irônico, uma vez que um cantor interpreta o homem que ajudou a acabar com parte do prestígio e lucro da indústria fonográfica ao criar um programa de baixar músicas gratuitamente. Mas o jeito malandro e festeiro do personagem combinam com Timberlake, que apesar das inevitáveis críticas voltadas à sua atuação, não faz um mal trabalho.


Outro detalhe interessante do longa é a edição fragmentada que não respeita a ordem cronológica dos fatos. À medida que a história evolui, somos jogados no meio das duas audiências que Zuckerberg teve que enfrentar, resultado dos processos feitos por Saverin e pelos irmãos Winklevoss (que em cena, são resultado de um incrivel efeito especial que insere o rosto do ator Armie Hammer no corpo de outro ator, para que os gemeos possam interagir perfeitamente). É de conhecimento geral que os dois ganharam os processos contra Zuckerberg, o que não diminui muito sua fortuna ou prestígio. Certas passagens do filme só serão entendidas completamente por aqueles que entendem de computação e seus respectivos termos, mas nada que interfira na qualidade do produto final.

Com seu grande sucesso de público e crítica ao redor do mundo, "A Rede Social" já começa a ser indicada como um dos nomes fortes para a próxima cerimônia do Oscar. É exagero apostar nele para o prêmio de "Melhor Filme", mas sem dúvida é um filme surpreendente que fica na cabeça, muito devido à habilidade de Fincher de arquitetar uma história sobre uma rede de amigos mundial onde o foco é exatamente a falta de amigos derivada do poder e da cobiça. O personagem de Eisenberg é exatamente o tipo que nos mostra de forma objetiva do que os humanos são capazes quando querem conseguir algo. É o tipo de personagem com que temos medo de nos identificar, o que invariavelmente acaba acontecendo. Na cena final, uma advogada vira para Zuckerberg e lhe diz: "Você não é um idiota, Mark. Só está tentando ser um". Baseado nessa marcante frase, só posso dizer que aqui David Fincher prova que pode até não ser um gênio, mas que está fazendo de tudo para se tornar um.