quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Duro de Matar - James Bond Faz uma Viagem ao Passado no Nostálgico "Skyfall"


Depois de uma matéria especial em homenagem aos filmes de 007, vamos deixar de lado os "entretanto" e partir para os "finalmente": "Skyfall" é o melhor presente que os fãs poderiam receber na comemoração dos 50 anos da franquia. Depois do fraco "Quantum Of Solace", tudo que James Bond precisava era de um filme como esse para voltar à boa forma. Mais do que isso, temos aqui um filmaço. E isso nos leva à outra afirmação: Sam Mendes é o cara. Diretor da indiscutível obra-prima moderna "Beleza Americana", Mendes nunca fez algo ruim na carreira. Produções como "Estrada Para a Perdição", "Soldado Anônimo" e "Foi Apenas Um Sonho" são provas disso. Quando seu nome foi anunciado no comando do novo capítulo de James Bond, as expectativas foram às alturas. Mas você, caro leitor, pode relaxar na sua cadeira. Mendes deu conta do recado.

Muitas coisas mudaram durante as 22 aventuras oficiais do espião. A mudança mais brusca veio recentemente, em 2006, com o "reboot" do universo do personagem. Saiu o charmoso Pierce Brosnan, entrou o truculento Daniel Craig. Não foi só o ator principal que mudou, mas toda abordagem da série. O clima realista começou a ditar a regra - um reflexo de obras como a trilogia Bourne. Esse realismo prevaleceu nas duas últimas aparições de James Bond nos cinemas. A iniciativa deu certo, mas sempre houve o risco de uma descaracterização do personagem. Afinal, por mais real que quisesse parecer, não bastava ser um mero filme de ação - era preciso ter a "marca" 007. A franquia já sofreu essa descaracterização uma vez, no criticado "Permissão Para Matar", segundo e último filme com Timothy Dalton. Depois desse filme, a franquia ficou parada por seis anos e precisou voltar ao estilo antigo com Brosnan. Deu certo. O estúdio tinha clara noção disso. Então, para comemorar a data especial nos cinemas, a solução era apostar na nostalgia.


A luxuosa música-tema cantada por Adele é um indício claro do que está por vir. A estrutura clássica dos filmes do agente está de volta, para nenhum fã botar defeito. Só que nova trama consegue o feito de misturar a abordagem mais próxima da realidade (envolvendo divulgação de agentes secretos em redes sociais) com a grandiosidade que se espera de uma nova aventura de 007 (cortesia dos cenários exóticos em Xangai e na Turquia). A ação, aliás, é uma grata surpresa: mesmo não estando familiarizado com o gênero, Mendes não decepciona na condução das cenas. A sequência de abertura - que culmina em uma intensa batalha em cima de um trem em movimento - e a perseguição pelo metrô de Londres são dois pontos altos da produção.

O perigo real e imediato está presente da primeira à última cena, algo já anunciado pelo próprio trailer, que deixava um clima de episódio final no ar. Mas acalme-se, não é o caso aqui. Uma coisa fica (positivamente) bem clara: nesse mundo mais realista em que James Bond foi inserido, ninguém é infalível ou imortal - nem mesmo o próprio Bond. Esse estado de espírito permite a entrada de um dos maiores pontos positivos da trama: Javier Bardem. Que o espanhol é um baita ator ninguém mais deveria duvidar, mas o que ele faz aqui é absurdo. A começar pela introdução do personagem. Enquanto os vilões de 007 surgem sempre com explosões ou entradas de efeito, seu Raoul Silva é apresentado em um longo plano sequência, no qual fala um discurso mais que inspirado. É o diferencial de se ter um bom diretor e um bom ator trabalhando juntos. Bardem sofre uma transformação completa, tanto no visual quanto nos trejeitos. Seu vilão tem ecos de Hannibal Lecter e até mesmo do Coringa de Heath Ledger, tudo isso sem deixar de ser fantásticamente original. A genialidade do personagem nos leva a questionar como nunca pensaram em um oponente assim para Bond antes. É para aplaudir em pé, um vilão de respeito que já deixou sua marca na franquia.


 Enquanto o vilão é dos mais inspirados, não se pode dizer o mesmo das badaladas Bond Girls. Aqui, elas são meros detalhes. Mas, sejamos justos, detalhes importantes, que não poderiam faltar no caminho de James Bond. Bérénice Marlohe preenche a tela com sua hipnótica beleza nos poucos momentos em que aparece e Naomie Harris, a princípio deslocada em cena, acaba por cumprir bem seu papel de... Bem, melhor ficar quieto... Veja o filme! O elenco conta ainda com a adesão de figuras de peso. É o caso de Ralph Fiennes, em um papel que ainda vai dar muito o que falar, e o veterano Albert Finney, fazendo uma participação de luxo que provavelmente o agora aposentado ex-Bond Sean Connery recusou.

Para falar a verdade, a grande Bond Girl de "Skyfall" é, quem diria, Dame Judi Dench!! Não que ela seja um par romântico do agente secreto (não pense besteira!), mas sua participação na trama é vital. Encarnando pela sétima vez M, a chefe do Serviço Secreto Britânico, Dench nunca teve tanto tempo e destaque em cena desde sua estreia em "Goldeneye", primeiro filme com Pierce Brosnan, há 17 anos. Para falar a verdade, em nenhuma outra aventura da franquia o chefe de 007 - sempre interpretado por homens antes dela assumir o papel - teve tamanha importância na trama. A química entre Dench e Craig solta faíscas na tela. Aos 77 anos, a atriz ganhadora do Oscar - de Melhor Atriz Coadjuvante por "Shakespeare Apaixonado" - mostra todo seu talento dramático (e, quando necessário, cômico) para a nova geração que a liga diretamente a esse papel. São delas as cenas mais arrepiantes de "Skyfall". Palmas, brindes e fogos para Judi Dench!


Quanto à Daniel Craig, ele nunca esteve tão à vontade como James Bond. É aqui que o ator inglês consegue enfim dosar a marcante brutalidade de seu agente com aquele charme inerente à todos que se apresentam como "Bond, James Bond". Sim, há o momento da apresentação, assim como o da bebida característica e de outros detalhes que os fãs percebem mesmo sem querer. A interpretação de Craig é o reflexo de um homem atordoado pelo seu passado e pela profissão. Seu Bond vive no limite, tendo que voltar às origens para se libertar de vez de seus fantasmas. E é aí que entra o título da nova produção. Não, Skyfall não é o nome de uma Operação, embora os tradutores brasileiros nisso acreditem. O retorno às origens, tanto literal quanto estrutural (dentro da franquia), é mais um ponto positivo do filme, adicionando mais uma interessante camada a um dos maiores ícones do cinema.

Há duas maneiras de se ver "Skyfall": uma como fã e outra como expectador normal.  Os meros expectadores podem considerar "Skyfall" um filme de ação acima da média, um dos melhores protagonizados por James Bond nos últimos tempos. Mas o verdadeiro ponto forte do filme é o desenvolvimento dos personagens, cortesia de Sam Mendes. Apoiados neles, a edição, direção de arte e fotografia casam perfeitamente. Para os fãs da saga de 007 nos cinemas, "Skyfall" vai um pouco além. Além das inúmeras referências e citações à capitulos anteriores, através de falas, piadas ou até mesmo de carros(!), o filme traz de volta velhos conhecidos que vinham fazendo falta na série. A cena final é uma fusão de gerações, com novos e velhos tempos se misturando. Os verdadeiros fãs entenderão, e ficarão arrepiados até a espinha. A franquia 007 vai voltando à sua consagrada fórmula da melhor maneira possível. James Bond completa 50 anos de atividade em plena forma, e quem sai com um sorriso satisfeito no rosto somos nós. Com prazer, posso afirmar: o fascínio continua.