domingo, 8 de outubro de 2017

De Volta Para o Futuro com "Blade Runner 2049"




Os fãs de Star Wars aguardaram 10 anos entre o lançamento de "A Vingança dos Sith" e "O Despertar da Força". Indiana Jones levou 19 anos até pegar seu chicote para uma quarta aventura. Já os amigos de "Trainspotting" só se reencontraram na inusitada continuação 21 anos depois. Aqui o caso é bem diferente. São exatos 35 anos desde o lançamento do "Blade Runner" original, uma das obras(-primas) mais influentes e cultuadas da segunda metade do século XX. Ao injetar doses elevadas de filosofia na ficção científica, conquistou diferentes gerações de fãs com suas pontas soltas e diferentes interpretações - existem três versões alternativas no mercado, aliás. E pensar que o filme só ganhou status cult com a "versão do diretor" de 1992, após ser esnobado e criticado no lançamento original. Daquelas safras que, como o melhor dos vinhos, apenas melhora com o passar da décadas. Até que, nesses tempos modernos em que a nostalgia coletiva resulta numa "fábrica de remakes", anunciaram uma sequência oficial. O terror de qualquer fã. O diretor Ridley Scott assumiu a cadeira de produção, passando a batuta para o canadense Denis Villeneuve. O desafio não era pequeno. Tratava-se de uma das pedras de rubi mais preciosas e perfeitamente lapidadas da cinematografia moderna. 

Pausa. Suspiro. Ok. Os fãs podem ficar aliviados. Um dos nomes mais relevantes no "grande cinema" atual, com "Incêndios" (2010) e "A Chegada" (2016) no currículo, Villeneuve orquestra esse "próximo passo" como respeitoso tributo ao original - mas ciente de que é uma obra à parte. E que funcionaria plenamente como tal. São muitos os ecos e arrepios involuntários, mas assim como o novo Star Wars, são personagens inéditos que realmente movem a trama. Um ponto ótimo. Ainda que figuras carismáticas e icônicas como Roy, Pris e J.F. Sebastian façam muita falta, o roteiro aborda novas camadas fascinantes através da personagem Joi, que ganha "corpo e alma" na cubana Ana de Armas (esse é realmente o nome dela). São dela alguns dos momentos mais marcantes do filme, daqueles que merecem entrar para o imaginário popular das próximas gerações. Ryan Gosling assume o rosto da franquia com garra, sem se intimidar diante do Deckard de Harrison Ford. Se esteticamente a nova produção não arrisca tanto (quanto poderia), ganha em outras vertentes do inquietante conteúdo. 

Junto a "Mad Max - Estrada da Fúria" - que revisitou a franquia após 30 anos de hiato -, é o mais caprichado retorno de um clássico ao mercado. Só o tempo evidenciará o real impacto e relevância desse novo capítulo, mas é reconfortante que tenha sido feito com tanto cuidado e respeito. Sem ignorar ou exatamente responder aos questionamentos do anterior, traz novas perguntas relevantes para a roda. E, assim, renova os ecos do original para as futuras gerações. Quando a trilha de Vangelis toma o ambiente, o brilho nos olhos não permite indiferença: "Blade Runner 2049" também é Arte com maiúsculo.