quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A Vida e Morte de Blake Edwards (1922-2010)


Um ator indiano fracassado que vai parar numa festa dos maiorais de Hollywood por engano. O romance entre um playboy e uma garota de programa que adora passar as manhãs em frente à loja Tiffany's, em Nova York. As desventuras de um atrapalhado detetive francês que deve encontrar um diamante rosa com uma falha semelhante a uma pantera. Uma cantora lírica desempregada que se faz passar por um homem para conseguir o emprego que queria. Para levar tramas absurdas e hilárias como essas para as telas, era necessário talento nato para a comédia. E isso, sem dúvida, Blake Edwards tinha.

Antes que perguntem "Mas quem é esse cara?", um filme (ou a cinessérie dele derivada) talvez resumam sua carreira: "A Pantera Cor-de-Rosa". A verdadeira saga do Inspetor Jaques Closeau, eternizado pelo camaleão da comédia Peter Sellers (1925-1980), foi criada pelo diretor em 1964, com o primeiro filme da série, que fez um sucesso estrondoso e alçou o protagonista ao panteão de grandes personagens do cinema. Mas nao foi assim que tudo começou.

Blake Edwards, nascido em 1922 como William Blake Crump, foi de tudo um pouco no cinema americano: diretor, roteirista, produtor e até ator, no início da carreira. Morando em Beverly Hills desde muito jovem, todo seu aprendizado veio de dentro da indústria, começando discretamente na TV, onde ganhou fama ao criar o seriado "Peter Gunn". Logo, percebeu seu talento e facilidade para comédia, que ficou provado em seu primeiro grande sucesso, "Anáguas a Bordo", comédia de guerra feita em 1959 com Cary Grant e Tony Curtis (esse também falecido recentemente).


Após a estréia bem-sucedida, o diretor recebeu carta branca para realizar sua primeira obra-prima. Assumiu então a suavizada adaptação do romance de Truman Capote, "Breakfeast at Tiffany's". Finalizado em 1961, o clássico "Bonequinha de Luxo" não apenas atraiu as atenções para Edwards como também transformou a atriz Audrey Hepburn em um ícone imortal do cinema. Sua ingênua e sofisticada Holly Golightly ficou eternizada pela cena em que ela canta delicadamente em sua janela a linda música "Moon River", composta por Henry Mancini para esse filme.

A parceria com Mancini continuaria no próximo filme, o elogiado "Vício Maldito", em que o magnífico Jack Lemmon rouba cada fotograma para si em atuação antológica. O compositor criaria ainda, sem querer, uma das melodias mais famosas de todos os tempos. Afinal, todos os habitantes do planeta Terra sabem o que pensar quando se cita o "tema da Pantera Cor-de-Rosa". Com esse filme, de 1964, começou a famosa parceria entre o diretor e o ator Peter Sellers, que continuou por todas as seis(!) sequências em que Closeau voltou à ação. O melhor episódio desses hilários filmes é, curiosamente, o que não leva "Pantera Cor-de-Rosa" no nome: "Um Tiro no Escuro", o segundo cronologicamente, no qual o Inspetor investiga um caso de homicídio, não ligado ao diamante. Sem dúvida, uma das produções mais engraçadas já feitas.


No ótimo telefilme "A Vida e Morte de Peter Sellers", feito em 2004, pode-se ver claramente como era a relação entre Sellers e Edwards. Brigas homéricas e egos inflamados tomavam conta dos sets de filmagens diariamente. Apesar disso, a dupla foi uma das mais profílicas da sétima arte, principalmente do humor. A única vez que trabalharam juntos sem o personagem Closeau estar envolvido foi em 1968, com "Um Convidado Bem Trapalhão", onde Sellers carrega todo o filme em sua interpretação minimalista do ator indiano Hrundi Bakshi, em uma das películas mais engraçadas já exibidas. Durante as filmagens, Edwards e Sellers estavam brigados e só se comunicavam por bilhetes entregues a um intermediário. Apesar disso, as cenas e situações hilárias, muitas vezes improvisadas durante as filmagens, não perderam a
graça com o tempo.

Depois da repentina morte de Sellers, vítima de um ataque cardíaco em 1980, Edwards tentou ressucitar a franquia de Closeau em três filmes, em que usava cenas do ator descartadas de filmes anteriores. Em sua empreitada, nao obteve apoio do público nem da crítica. Então seu ritmo de produção começou a cair. Os últimos acertos de sua carreira foram "Mulher Nota 10"(1979) e o hilário "Vitor ou Vitória"(1982), filmes protagonizados por Julie Andrews (eternizada como "A Noviça Rebelde"), com quem o diretor se casou em 1969. Atriz, a quem Edwards chamava de "garota inglesa com incomparável voz de soprano e vocabulário obsceno", ficou viúva no dia 15 de dezembro, quando o craque da comédia faleceu aos 88 anos, deixando órfãos vários fãs ao redor do mundo.


Edwards era um dos poucos diretores que tinham mais prestígio na França do que no prórpio país natal. Apesar de ser esnobado pelos americanos, esses tiveram noção de seu valor recentemente, e o resultado foi um Oscar especial dado ao diretor em 2004, pela carreira. O prêmio foi entregue por Jim Carrey, e na cerimônia, zombando da própria idade, Edwards entrou pela lateral do palco numa caderia de rodas motorizada em alta velocidade, atravessando a parede da extremidade oposta. Um exemplo de irreverência do homem que, se bobear, deve ter cruzado de forma semelhante os portões do céu. Mas sua filmografia, sorte a nossa, é imortal.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

"O Curioso Caso de Mark Zuckerberg" - As origens do Facebook no filme do momento


Diariamente, encontro algum momento para ligar o computador e me atualizar um pouco. De forma inevitável e automática, acabo entrando no Facebook para ver o que dizem meus amigos ou novas fotos e comentários que possam ter publicado. Assim como eu, mais de 500 milhões de pessoas ao redor do mundo realizam os mesmos procedimentos todos os dias, quem sabe agora, nesse exato momento. Isso torna o Facebook o mais famoso site de relacionamentos do mundo, o que tornou seu criador, Mark Zuckerberg, o mais jovem bilionário do planeta.

Quando foi anunciada a produção de um filme sobre a fundação do website, pouco estardalhaço foi feito. Mas quando descobriu-se do envolvimento do diretor David Fincher, as espectativas e atenções se voltaram para o projeto. Realizador de grandes filmes aclamados pela crítica como "Clube da Luta" (1999) e "O Curioso Caso de Benjamin Button"(2008), Fincher, que começou dirigindo clipes musicais, 6 dos quais chegaram ao Top 100 da MTV em recente eleiçao dos 100 melhores do século, sempre imprimiu estilo e agilidade únicos a seus filmes. Os cinéfilos em geral, mesmo desconfiados, sabiam que podiam esperar uma nova jóia do diretor.


E assim chegamos à "A Rede Social", adaptação da história real de Mark Zuckerberg, estudante de Harvard e gênio em programação de computadores. Após criar um site para comparar garotas como meio de liberar a ira contra a ex-namorada que lhe deu um fora, Zuckerberg percebe que o grande índice de visualizações no blog lhe permitiria um empreendimento mais ambicioso. Assim, o que começa em seu quarto logo se torna uma rede social global e uma revolução na comunicação. Mas para concretizar isso, ele acaba traindo a amizade de seu único amigo, o brasileiro Eduardo Saverin, e também roubar parte da idéia dos gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss, idealizadores do Harvard Connection.

O elenco é daqueles que promete renovar a indústria, repleto de novos e promissores talentos. No papel principal, Jesse Eisenberg prova que não está preso ao papel de nerd bobo que fez em "Zumbilândia"(2009) e "Férias Frustradas de Verão"(2007), em uma atuação que pode sim lhe valher ao menos uma indicação ao Oscar. Seu Zuckerberg é frio, direto e genial em seus pequenos detalhes, uma espécie de Charles Foster Kane do novo século, fazendo alusão ao magnata interpretado por Orson Welles no grande clássico "Cidadão Kane" (1941). Ao seu lado, temos Andrew Garfield, o escolhido para viver Peter Parker na nova (e, cá entre nós, desnecessária) versão do "Homem Aranha". Garfield começa tímido e um tanto confuso no papel de Saverin, mas ao longo da trama seu personagem vai evoluindo e tudo culmina na cena em que ele percebe que foi enganado pelo melhor amigo. É simplesmente espetacular sua reação. Quem ainda tem um papel de destaque é Justin Timberlake (sim, o cantor) como Sean Parker, o homem que fundou a Napster aos 19 anos. É um papel irônico, uma vez que um cantor interpreta o homem que ajudou a acabar com parte do prestígio e lucro da indústria fonográfica ao criar um programa de baixar músicas gratuitamente. Mas o jeito malandro e festeiro do personagem combinam com Timberlake, que apesar das inevitáveis críticas voltadas à sua atuação, não faz um mal trabalho.


Outro detalhe interessante do longa é a edição fragmentada que não respeita a ordem cronológica dos fatos. À medida que a história evolui, somos jogados no meio das duas audiências que Zuckerberg teve que enfrentar, resultado dos processos feitos por Saverin e pelos irmãos Winklevoss (que em cena, são resultado de um incrivel efeito especial que insere o rosto do ator Armie Hammer no corpo de outro ator, para que os gemeos possam interagir perfeitamente). É de conhecimento geral que os dois ganharam os processos contra Zuckerberg, o que não diminui muito sua fortuna ou prestígio. Certas passagens do filme só serão entendidas completamente por aqueles que entendem de computação e seus respectivos termos, mas nada que interfira na qualidade do produto final.

Com seu grande sucesso de público e crítica ao redor do mundo, "A Rede Social" já começa a ser indicada como um dos nomes fortes para a próxima cerimônia do Oscar. É exagero apostar nele para o prêmio de "Melhor Filme", mas sem dúvida é um filme surpreendente que fica na cabeça, muito devido à habilidade de Fincher de arquitetar uma história sobre uma rede de amigos mundial onde o foco é exatamente a falta de amigos derivada do poder e da cobiça. O personagem de Eisenberg é exatamente o tipo que nos mostra de forma objetiva do que os humanos são capazes quando querem conseguir algo. É o tipo de personagem com que temos medo de nos identificar, o que invariavelmente acaba acontecendo. Na cena final, uma advogada vira para Zuckerberg e lhe diz: "Você não é um idiota, Mark. Só está tentando ser um". Baseado nessa marcante frase, só posso dizer que aqui David Fincher prova que pode até não ser um gênio, mas que está fazendo de tudo para se tornar um.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Poderoso Chefão: Coppola lança "Tetro" no Brasil


São 21:10 do dia 2 de dezembro, e lá estou eu sentado na sala do Espaço de Cinema, em Botafogo. Um tanto ansioso, diga-se de passagem, pela estréia de "Tetro", novo filme do mestre Francis Ford Coppola, que iria àquela exibição para divulgar o longa. E então, de repente, um amontoado de pessoas indicam que ele estava se aproximando. Preparo a câmera. Quando olho para o lado, lá está ele, diante de mim. O cara que eu conhecia desde criança por ter dirigido meu filme favorito, "O Poderoso Chefão", e que já tinha visto em vários documentários e fotos, estava em pé do meu lado, ao vivo e a cores. Antes que pudesse ter qualquer reação, ele se dirige para a frente da sala. Lá, fala por 5 minutos sobre a importância da família, agradece sua simpática esposa pelo apoio e garante que se dedicará a produções menores (como aquela) a partir de agora. E depois disso, vai logo embora, sem que eu e outros fãs presentes tivéssemos tempo ou chance de trocar umas palavrinhas com ele. Mas enfim, uma noite para ficar na memória. E começa o filme.

Coppola, nascido em 1939 nos Estados Unidos com descendência direta italiana (todos Coppola eram italianos), sempre teve as tradições do país muito presentes em sua vida. A família era um elemento muito importante, o que se evidenciou no seu primeiro grande filme, que logo foi considerado o melhor já realizado, posto que, para muitos (inclusive o que vos escreve), mantém até hoje. Foi com "O Poderoso Chefão", de 1972, que Coppola ficou conhecido em todo o mundo. Mesmo já tendo recebido um Oscar em 1970 pelo roteiro de "Patton - Rebelde ou Herói?", foi com a saga da família Corleone que o diretor se firmou em Hollywood como um dos realizadores mais importantes dos anos 70, no mesmo grupo de ouro do qual fizeram parte Steven Spielberg, Martin Scorsese e George Lucas, entre outros.


E a década de 70 foi, sem dúvida, a mais importante na carreira do diretor. Foi em 1974 que ele lançou o tenso "A Conversação" (filmaço pouco valorizado) e "O Poderoso Chefão - Parte II", que, assim como o primeiro, ganhou o Oscar de Melhor Filme e lhe deu enfim a estatueta de Melhor Diretor. Depois disso, passou 3 anos em uma floresta filmando seu projeto mais ambicioso, o grandioso "Apocalypse Now". A realização do filme foi marcada por inúmeros problemas, desde tempestades, abuso de drogas ( que resultaram no ataque cardíaco de Martin Sheen) até a aparência inchada de Marlon Brando, que Coppola tentou esconder, filmando-o na sombra. Após ser adiado várias vezes, o filme finalmente estreou em 1979, sendo considerado até hoje um dos grandes clássicos do cinema. Mas sua produção quase levou o diretor e sua produtora à falência. O preço de uma obra-prima...

As próximas décadas foram mais difíceis para o diretor, que se envolveu em produções menores que infelizmente não receberam a visibilidade que mereciam. Mas o diretor mostrou que ainda tinha o dom de conduzir boas histórias com "O Selvagem da Motocicleta" (1983) e sua excêntrica e genial versão do "Drácula de Bram Stoker"(1992). Até filmes menores, como a irregular parte final da trilogia dos Corleone, de 1990, se destacaram.

Agora, aos 71 anos, Coppola continua na ativa (em menor atividade, sem dúvida) dirigindo projetos mais pessoais e que ele mesmo escreve e produz. Consegue o dinheiro do negócio de vinhos que fabrica em sua vinícola particular. Se a prioridade recentemente vinha sendo a produção de filmes de sua filha, Sofia Coppola (que recentemente conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza com seu tocante "Somewhere"), aqui ele deu um espaço para se dedicar ao projeto que foca em uma delicada relação entre irmãos.


"Tetro", feito em 2009, tem trama simples: o ingênuo Bennie (Alden Ehreinreich), de 17 anos, chega a Buenos Aires para encontrar seu irmão mais velho, Angelo (Vincent Gallo, visceral em sua perfomance), que resolveu tirar um ano sabático e nunca mais entrou em contato com a família. Logo ele vê que o irmão não é mais a mesma pessoa, e os segredos do passado envolvendo a família vão ficando mais sombrios. Com uma belíssima fotografia em preto-e-branco, que dá ao filme um charme visual (com a boa sacada de botar os flashbacks coloridos, em contraste), e uma história interessante que evolui naturalmente misturando suspense, drama e um pouco de humor, Coppola volta triunfal à boa forma em um filme que merece ser visto.


Talvez pela "aura cult" e os nomes pouco conhecidos envolvidos, "Tetro" não atraia o público merecido. Mas sua última sequência, com os protagonistas no meio dos carros em um intenso trânsito, prova que Coppola ainda é o grande mestre da sétima arte que todos nós temos o prazer de assistir. Afinal, quem é rei não perde a majestade.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Em breve: As Aventuras de Tintin...nos Cinemas!!


Foi na década de 80 que o nome Steven Spielberg ficou ligado à idéia de "cinemão". Desde então, tudo que o diretor toca vira ouro. Talvez por isso, ele tenha trabalhado mais como produtor e menos como diretor nos últimos anos. Mesmo assim, seu último filme, o sucesso "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" provou que ele ainda sabe como fazer um divertido filme de aventura. Já com Peter Jackson, foi diferente. Diretor inicialmente pouco conhecido, ganhou respeito e admiração máxima com sua épica adaptação da trilogia do "Senhor dos Anéis". A fama e consagração o levaram também ao posto de produtor. Mas o que esses dois homens têm agora em comum?

A resposta é, no mínimo, promissora. O projeto de adaptar as aventuras do jovem jornalista Tintin, protagonista dos quadrinhos criados pelo belga Hergé, é um antigo desejo de Spielberg, que adquiriu os direitos pela primeira vez em 1983 (ano de falecimento do autor) e vem renovando-os desde então. Jackson se mostrou interessado na iniciativa em 2005, e os dois permaneceram trabalhando juntos no projeto desde então, mas sem grande alarde. 5 anos depois, decidiu-se que Spielberg ficaria na direção de uma trilogia, enquanto Jackson receberá crédito de produtor.


O personagem é um dos mais queridos na Europa e, se bobear, em todo o mundo. Famoso por seu jeito inquieto, topete característico e pelo companheiro canino, um fox-terrier chamado Milu, ele apareceu em 23 álbuns, escritos e desenhados por Hervé entre 1926 a 1976. As histórias agregam elementos humorísticos que se mesclam com temáticas sérias como a guerra, a escravidão, a amizade, a liberdade e a coragem. Por isso, uma adaptação era esperada há muito tempo para os cinemas, e quando se soube do envolvimento de Spielberg e Jackson, as expectativas só aumentaram.

Após anos trabalhando no projeto, ficou decidido que a trilogia seria filmada com tecnologia de ponta, que a DreamWorks (empresa de Spielberg) criará através de computação gráfica empregando tecnologia de captura de movimentos. O primeiro dos três filmes se chamará "The Adventures of Tintin: Secret of the Unicorn". A trama principal é tirada, como já adianta o título, de "O Segredo do Licorne", mas Jackson afirma que o clímax não vem de nenhuma HQ do repórter belga em particular.


Para viver o destemido reporter, foi escolhido o ator Jamie Bell, para sempre lembrado como "Billie Elliot", e tendo participado também de "Jumper"(2007) e da versão de Peter Jackson de "King Kong" de 2005. Além dele, Jackson indicou também o camaleão Andy Serkis (que deu "vida" para Gollum na trilogia "Senhor dos Anéis") para viver o Capitão Haddock, o pseudo-pirata e fiel companheiro de Tintin em suas aventuras. Outros personagens queridos terão presença confirmada no longa, como é o caso Dupont e Dupond, detetives trapalhões criados como sátira aos policiais ingleses, que ao que tudo indica serão vividos pela dupla de "Todo Mundo Quase Morto" e "Hot Fuzz", Simon Pegg e Nick Frost.


Pelas primeiras imagens timidamente divulgadas pela revista Empire, já se pode ver que o visual é arrebatador e bem fiel aos quadrinhos originais, garantindo a satisfação dos fãs. Mas como são Spielberg e Jackson por trás desse ambicioso projeto, pode-se dizer que está garantido mais um sucesso de publico e crítica. Agora é esperar para ver!!

O Verdadeiro Imperador: Irvin Kershner (1923-2010)

Sabia que muitos fariam cara de interrogação quando eu aqui lamentasse a morte do diretor Irvin Kershner, ocorrida no dia 29 de novembro. Pois também sei que muitos entenderão o motivo de tristeza quando citar o filme pela qual ele ficou famoso e será lembrado: "O Império Contra-Ataca". Sim. Para os que não sabem, o segundo e melhor filme da série Star Wars, lançado em 1980, não foi dirigido por George Lucas, e sim por Kershner, que imprimiu nessa produção todo seu talento para contar uma história envolvendo elementos de ação, suspense e humor sutil. O resultado foi uma das aventuras mais queridas pelos fãs da sétima arte.


Além dessa produção, o carismático Kershner chamou ainda a atenção no comando de "Robocop 2" (1990) e quando dirigiu Sean Connery pela última vez no papel de James Bond em "Nunca mais outra vez" (1983), filme independente que não faz parte da série original do agente secreto 007. O grande mestre se foi aos 87 anos e será sempre lembrado, mesmo que, injustamente, de forma indireta, pela grande obra-prima que deixou.


PS: Sean Connery, aqui citado como eterno intérprete do agente James Bond (foi o primeiro ator a interpretá-lo no cinema) e também ganhador do Oscar de Ator Coadjuvante em 1987 pelo papel de Jim Malone na obra-prima de Brian DePalma "Os Intocáveis", chegou recentemente aos 80 anos. O ator escocês está aposentado desde 2003, onde atuou pela última vez no irregular "A Liga Estraordinária" e garante que não voltará a atuar, tendo recusado até participar do quarto episódio da série Indiana Jones, no qual vivera o pai do personagem em 1989. É, quem pode, pode! Enfim, vida longa a esse grande astro do cinema!!

A Última Risada: Leslie Nielsen (1926-2010)


Desde meus tempos de criança (ok, grande coisa para alguém que tem 18 anos, mas enfim...), um velhinho gente boa volta e meia aparecia na "Sessão da Tarde" para disparar várias piadas de humor negro ou duplo sentido e, assim, alegrar minhas tardes. O senhor em questão era o ator e comediante canadense Leslie Nielsen, e os filmes eram os da série "Corra que a Polícia Vem Aí!", pela qual ele sem dúvida será sempre lembrado. Imortalizado na pele do atrapalhado detetive Frank Drebin, que incorporou na série citada, que teve três filmes (de 1988, 1991 e 1994, respectivamente), ele morreu no dia 28 de novembro, aos 84 anos, para ser sempre lembrado por esse papel tão querido por todos.

Além desse marcante trabalho, o ator participara de inúmeras comédias que evidenciaram seu talento para o humor. Na verdade, ele começou como ator dramático, sem grande destaque na carreira. Fez teste para o papel principal no grande clássico Ben-Hur, de 1959, o primeiro filme a ganhar 11 prêmios Oscar. Mas perdeu o papel para Charlton Heston, que ficou imortalizado por esse filme. Chegou a fazer alguns personagens sérios em alguns filmes famosos, como em "O Planeta Proibido"(1956) e "O Destino de Poseidon"(1972).

Mas seu talento foi mesmo descoberto, tardiamente, em 1980, quando roubou a cena como o médico da revolucionária comédia "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!". Após o grande êxito e reconhecimento conseguido com esse filme e como Drebin, Nielsen garantiu lugar em comédias como "Drácula, Morto mas Feliz"(1995) e "Duro de Espiar"(1996). Mais recentemente, pôde ser visto nos dois últimos filmes da série "Todo Mundo em Pânico", de 2003 e 2006, como o hilário e confuso presidente dos EUA, garantindo as cenas mais engraçadas do filme.


O homem que para nós, fãs, sempre teve cabelos brancos foi visto pela última vez como o avô simpático e doidão de "Super Herói"(2008), uma sátira aos filmes de heróis, em um papel inspirado no Tio Ben da série "Homem Aranha". Muito conservado, não aparentava ter a idade avançada que tinha, até porque estava do mesmo jeito que em 1988, quando incorporou Drebin pela primeira vez. Mesma cara, mesma facilidade para fazer rir.

Nielsen já havia terminado de gravar a animação "The Waterman Movie" há mais de ano, em que ele deu voz a um personagem chamado Ready Espanosa. Bryan Waterman, o diretor, diz que procura doações em troca de agradecimentos especiais no final do filme. O patrocínio seria a única forma de levá-lo aos cinemas.

E assim acaba a carreira do simpático velhinho que animava minhas noites com sua versão de 1997 de "Mr. Magoo", também grande sucesso de público. Uma coisa é certa: muitas gerações irão ainda se divertir e gargalhar com Leslie Nielsen. Fica aqui essa modesta homenagem a um dos homens que me ensinou a rir.

sábado, 20 de novembro de 2010

Além dos Muros da Escola - O começo do fim das aventuras de Harry Potter


Tudo começou em 2001, com a pretensiosa adaptação que Chris Columbus fez do livro de J.K. Rowling, na época febre mundial entre os jovens. E eis que, quase 10 anos depois, chegamos ao penúltimo filme da saga (não por acaso uma das mais lucrativas da história do cinema), adaptação do sétimo e último livro da série. Mas peraí, como assim o penúltimo filme adapta o último livro? Simples: os produtores viram como boa saída separar em duas partes a conclusão da série, para que pudessem explicar direito todos os detalhes da trama e, assim, agradar aos fãs mais radicais e ao público em geral. E, obviamente, ter o dobro de lucratividade nas bilheterias. Assim chegamos a "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1".


Para os que viram os dois últimos filmes, já ficava a certeza de que Harry Potter não é mais coisa de criança. A leveza das primeiras produções foi ficando de lado a partir do terceiro longa, e aqui, no sétimo, o clima sombrio e de trevas prevalece do começo ao fim. Na verdade, sem dúvida, esse é o filme mais violento e assustador até aqui. Nada mais justo, já que os personagens e seus conflitos cresceram junto com os jovens fãs ao redor do mundo, o que se evidencia pela barba no rosto de Daniel Radcliffe (Harry) e Rupert Grint (Rony).


O grande diferencial que pode ser percebido aqui é o fato de nenhuma cena dessa primeira parte se passar na Escola de Bruxaria de Hogwarts ou sequer em seus arredores, o que justifica o título desse artigo. Grande parte dessa aventura se passa no mundo real, na realidade dos "trouxas". Ao longo dos 146 (!) minutos de projeção, acompanhamos Harry, Hermione e Rony em busca de mais horcruxes, para assim destruir o segredo da imortalidade de Voldemort. Só que dessa vez, sem a orientação de seus professores ou a proteção do sábio Dumbledore. Assim, eles têm que confiar uns nos outros mais do que nunca.

Os mais atentos perceberão várias referências aos primeiros filmes, principalmente ao primeiro. Muitos velhos conhecidos, como o elfo Dobby, voltam para esse filme, que sofre de um único mal: o grande número de personagens faz com que alguns atores pareçam desperdiçados em cena, pelo mísero número de falas ou aparição na história. É o caso de Draco Malfoy, Neville Longbottom e do Senhor Olivaras, que mal aparecem. Além disso, tudo acontece muito rápido, afinal, são os roteiristas correndo atrás do que foi excluído dos outros filmes e agora se mostra importante para a conclusão. Mas nada que prejudique a qualidade do produto final.


O clima de romance adolescente que prevaleceu na produção anterior é bastante reduzido aqui, envolvendo apenas o trio principal de amigos, que deverão enfrentar os ciúmes e desejos inerentes a essa idade em seu combate ao mal. A caracterização
dos personagens e até mesmo dos cenários é perfeita. A qualidade do filme se deve ao trabalho minucioso e primoroso do diretor David Yates, que prova aqui ter sido o homem certo para assumir os últimos filmes da saga. Ele fez, no total, quatro filmes, tendo dirigido antes "A Ordem da Fênix"(2007)e "O Enigma do Príncipe"(2009), além de já ter finalizado as filmagens da parte final, que, ao que tudo indica, será lançada em 3D.

Os destaques são os maravilhosos efeitos especiais, que se mostram cada vez melhores, e as várias sequências de ação bem distribuídas no desenrolar da trama. A engraçada e inspirada cena que se passa no Ministério da Magia, sob os efeitos da Poção Polissuco, garante um grau de leveza para aliviar a tensão que se mantém constante até o repentino corte que indica o fim dessa primeira metade.


"Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1" pode até não ser considerado o melhor filme da série, mas é uma adaptação muito fiel à obra original e tem tudo para agradar gregos e troianos, quer dizer, público e crítica, até mesmo aos fãs mais exigentes. O grande número de mortes e ataques já serve de prévia para a parte final, que estreia apenas em julho prometendo intensos combates e a perda de personagens queridos por quem acompanha a série desde o começo. Nos preparamos assim para voltar, uma última vez, para o mundo já não tão maravilhoso e encantador de Harry Potter. Afinal, o Expresso Hogwarts já não é tão seguro.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Intrigas de Estado - "Tropa de Elite 2", a maior bilheteria nacional


Tudo bem que grande parte da polêmica e divulgação que "Tropa de Elite" teve em 2007 se deu pelo filme ter vazado através de cópias piratas, que logo foram vistas por todo o país. Mas, cá entre nós, era de fato um filmaço: uma das melhores produções brasileiras já feitas, imortalizou um anti-herói genuinamente brasileiro, o Capitão Nascimento, caiu no gosto popular e ainda, de quebra, levou o Urso de Ouro de Melhor Filme em Berlim. Isso é pra poucos. Mas eis que o diretor José Padilha e o roteirista Bráulio Mantovani ousaram o mais arriscado: fazer uma continuação. Eles não só a fizeram, como conseguiram fazê-la superior à primeira parte.

Se no primeiro filme o foco estava nos aspirantes a soldados do BOPE, Neto (Caio Junqueira) e Mathias (André Ramiro), aqui é o Capitão Roberto Nascimento que assume as rédeas da história, toda focada em sua pessoa. Nada mais justo, já que o personagem-narrador já roubara todas atenções para seu personagem antes. E aqui, em "Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora É Outro", Mathias é mero coadjuvante. Acompanhamos Nascimento, agora Sub-Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, mais maduro, estratégico e solitário. Separado da mulher e com uma problemática relação com seu filho adolescente, o personagem magistralmente interpretado por Wagner Moura se mostra muito mais humano nesse filme.


A estrutura narrativa desse longa é bem fragmentada, mas acaba formando um eficiente painel de fatos que facilita a compreensão e o envolvimento dos muitos personagens na trama, que dessa vez é focada na ação das milícias nas favelas da cidade. É um assunto polêmico e sério, mostrado de forma crua e fria na tela. Chega a ser brutal a violência mostrada ao longo dos 116 minutos de projeção. Brutal, mas não exagerada ou fictícia. O envolvimento de policiais e políticos denunciados pelo filme é muito próximo da realidade. O grande inimigo, como o título ja adianta, não é mais o tráfico de drogas, e sim o sistema nacional que o permite.

No elenco, quase todos do filme original voltam a fazer seus personagens, como é o caso do já citado Ramiro, com o agora capitão do BOPE Mathias, e de Mihem Cortaz, ainda roubando cenas com seu engraçado e corrupto Fábio. Irandhir Santos desempenha um excelente trabalho como o defensor dos direitos humanos Diogo Fraga, muito bem elaborado para o longa. Mas o destaque absoluto vai para Sandro Rocha, que desempenha o papel do traiçoeiro e violento Russo, responsável pelas milícias. Apesar de já ter feito uma ponta com o mesmo personagem no filme anterior, é aqui que Rocha tem espaço para, com seu misto de cinismo, frieza e agressividade, despertar fúria e ódio em qualquer espectador, em um papel que pode deixá-lo marcado no cinema nacional. André Mattos está hilário no papel do apresentador sensacionalista Fortunato, que logo vira deputado federal, em um personagem muito inspirado na figura do apresentador (e também deputado, olha que coisa) Wagner Montes. Vale ainda lembrar que o cantor Seu Jorge faz uma rápida participação no começo do filme, mas sinceramente, não é nada memorável...


Não faltam cenas e falas memoráveis ao longa, que devia ter sido o indicado brasileiro para concorrer ao Oscar ano que vem. Até porque, cá entre nós, tem muito mais chances de ganhar do que "Lula, o Filho do Brasil", escolhido (por motivos óbvios) pela Secretaria de Cultura para ser o nosso representante. Mas a grande cena que merece ficar latente na memória de todos que assistirem ao filme é aquela em que Nascimento resolve combater o sistema, ao qual agora estava inserido, com as próprias mãos. Não à toa, é o momento em que aplausos rompem a escuridão em plena sala de cinema, uma cena tão urgente e bem executada que por si só já valia um Oscar para Moura e outro para Padilha.

Com menos cenas focadas na ação imediata das forças de ataque do BOPE, temos aqui um redirecionamento do ambiente para os gabinetes políticos dos governadores e chefes de Estado, mostrando sua direta ligação com o tráfico. Ao mostrar esses contatos, o filme faz uma denúncia quase direta do que acontece no Rio e no Brasil, realmente apenas mudando o nome dos envolvidos. É um verdadeiro soco na cara da política brasileira, um ato de imensa coragem do diretor e dos envolvidos na realização. Um filme que deve por isso ser visto por todos, o que tem acontecido até agora, visto que em 2 semanas já tinha passado a barreira dos 2 milhões de expectadores, se tornando recorde de público na Retomada. Quem gostou do primeiro, vai simplesmente amar esse.


Antes de ser a sequência de um filme de grande sucesso, "Tropa de Elite 2" é um verdadeiro manifesto daqueles e para aqueles que acreditam que, com denúncias como essa, o país pode sim reconhecer seus erros e mudar. Ao final da projeção, ao som de "O Calibre", dos Paralamas do Sucesso, a sensação de impotência e impunidade é grande e incômoda. E é exatamente esse sentimento que o diretor e sua equipe buscam despertar em cada um de nós, a fim de promover alguma mudança através de seu cinema. Mais triste, entretanto, é saber que não existe um Capitão Nascimento para nos salvar.