quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O Verdadeiro Imperador: Irvin Kershner (1923-2010)

Sabia que muitos fariam cara de interrogação quando eu aqui lamentasse a morte do diretor Irvin Kershner, ocorrida no dia 29 de novembro. Pois também sei que muitos entenderão o motivo de tristeza quando citar o filme pela qual ele ficou famoso e será lembrado: "O Império Contra-Ataca". Sim. Para os que não sabem, o segundo e melhor filme da série Star Wars, lançado em 1980, não foi dirigido por George Lucas, e sim por Kershner, que imprimiu nessa produção todo seu talento para contar uma história envolvendo elementos de ação, suspense e humor sutil. O resultado foi uma das aventuras mais queridas pelos fãs da sétima arte.


Além dessa produção, o carismático Kershner chamou ainda a atenção no comando de "Robocop 2" (1990) e quando dirigiu Sean Connery pela última vez no papel de James Bond em "Nunca mais outra vez" (1983), filme independente que não faz parte da série original do agente secreto 007. O grande mestre se foi aos 87 anos e será sempre lembrado, mesmo que, injustamente, de forma indireta, pela grande obra-prima que deixou.


PS: Sean Connery, aqui citado como eterno intérprete do agente James Bond (foi o primeiro ator a interpretá-lo no cinema) e também ganhador do Oscar de Ator Coadjuvante em 1987 pelo papel de Jim Malone na obra-prima de Brian DePalma "Os Intocáveis", chegou recentemente aos 80 anos. O ator escocês está aposentado desde 2003, onde atuou pela última vez no irregular "A Liga Estraordinária" e garante que não voltará a atuar, tendo recusado até participar do quarto episódio da série Indiana Jones, no qual vivera o pai do personagem em 1989. É, quem pode, pode! Enfim, vida longa a esse grande astro do cinema!!

A Última Risada: Leslie Nielsen (1926-2010)


Desde meus tempos de criança (ok, grande coisa para alguém que tem 18 anos, mas enfim...), um velhinho gente boa volta e meia aparecia na "Sessão da Tarde" para disparar várias piadas de humor negro ou duplo sentido e, assim, alegrar minhas tardes. O senhor em questão era o ator e comediante canadense Leslie Nielsen, e os filmes eram os da série "Corra que a Polícia Vem Aí!", pela qual ele sem dúvida será sempre lembrado. Imortalizado na pele do atrapalhado detetive Frank Drebin, que incorporou na série citada, que teve três filmes (de 1988, 1991 e 1994, respectivamente), ele morreu no dia 28 de novembro, aos 84 anos, para ser sempre lembrado por esse papel tão querido por todos.

Além desse marcante trabalho, o ator participara de inúmeras comédias que evidenciaram seu talento para o humor. Na verdade, ele começou como ator dramático, sem grande destaque na carreira. Fez teste para o papel principal no grande clássico Ben-Hur, de 1959, o primeiro filme a ganhar 11 prêmios Oscar. Mas perdeu o papel para Charlton Heston, que ficou imortalizado por esse filme. Chegou a fazer alguns personagens sérios em alguns filmes famosos, como em "O Planeta Proibido"(1956) e "O Destino de Poseidon"(1972).

Mas seu talento foi mesmo descoberto, tardiamente, em 1980, quando roubou a cena como o médico da revolucionária comédia "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!". Após o grande êxito e reconhecimento conseguido com esse filme e como Drebin, Nielsen garantiu lugar em comédias como "Drácula, Morto mas Feliz"(1995) e "Duro de Espiar"(1996). Mais recentemente, pôde ser visto nos dois últimos filmes da série "Todo Mundo em Pânico", de 2003 e 2006, como o hilário e confuso presidente dos EUA, garantindo as cenas mais engraçadas do filme.


O homem que para nós, fãs, sempre teve cabelos brancos foi visto pela última vez como o avô simpático e doidão de "Super Herói"(2008), uma sátira aos filmes de heróis, em um papel inspirado no Tio Ben da série "Homem Aranha". Muito conservado, não aparentava ter a idade avançada que tinha, até porque estava do mesmo jeito que em 1988, quando incorporou Drebin pela primeira vez. Mesma cara, mesma facilidade para fazer rir.

Nielsen já havia terminado de gravar a animação "The Waterman Movie" há mais de ano, em que ele deu voz a um personagem chamado Ready Espanosa. Bryan Waterman, o diretor, diz que procura doações em troca de agradecimentos especiais no final do filme. O patrocínio seria a única forma de levá-lo aos cinemas.

E assim acaba a carreira do simpático velhinho que animava minhas noites com sua versão de 1997 de "Mr. Magoo", também grande sucesso de público. Uma coisa é certa: muitas gerações irão ainda se divertir e gargalhar com Leslie Nielsen. Fica aqui essa modesta homenagem a um dos homens que me ensinou a rir.

sábado, 20 de novembro de 2010

Além dos Muros da Escola - O começo do fim das aventuras de Harry Potter


Tudo começou em 2001, com a pretensiosa adaptação que Chris Columbus fez do livro de J.K. Rowling, na época febre mundial entre os jovens. E eis que, quase 10 anos depois, chegamos ao penúltimo filme da saga (não por acaso uma das mais lucrativas da história do cinema), adaptação do sétimo e último livro da série. Mas peraí, como assim o penúltimo filme adapta o último livro? Simples: os produtores viram como boa saída separar em duas partes a conclusão da série, para que pudessem explicar direito todos os detalhes da trama e, assim, agradar aos fãs mais radicais e ao público em geral. E, obviamente, ter o dobro de lucratividade nas bilheterias. Assim chegamos a "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1".


Para os que viram os dois últimos filmes, já ficava a certeza de que Harry Potter não é mais coisa de criança. A leveza das primeiras produções foi ficando de lado a partir do terceiro longa, e aqui, no sétimo, o clima sombrio e de trevas prevalece do começo ao fim. Na verdade, sem dúvida, esse é o filme mais violento e assustador até aqui. Nada mais justo, já que os personagens e seus conflitos cresceram junto com os jovens fãs ao redor do mundo, o que se evidencia pela barba no rosto de Daniel Radcliffe (Harry) e Rupert Grint (Rony).


O grande diferencial que pode ser percebido aqui é o fato de nenhuma cena dessa primeira parte se passar na Escola de Bruxaria de Hogwarts ou sequer em seus arredores, o que justifica o título desse artigo. Grande parte dessa aventura se passa no mundo real, na realidade dos "trouxas". Ao longo dos 146 (!) minutos de projeção, acompanhamos Harry, Hermione e Rony em busca de mais horcruxes, para assim destruir o segredo da imortalidade de Voldemort. Só que dessa vez, sem a orientação de seus professores ou a proteção do sábio Dumbledore. Assim, eles têm que confiar uns nos outros mais do que nunca.

Os mais atentos perceberão várias referências aos primeiros filmes, principalmente ao primeiro. Muitos velhos conhecidos, como o elfo Dobby, voltam para esse filme, que sofre de um único mal: o grande número de personagens faz com que alguns atores pareçam desperdiçados em cena, pelo mísero número de falas ou aparição na história. É o caso de Draco Malfoy, Neville Longbottom e do Senhor Olivaras, que mal aparecem. Além disso, tudo acontece muito rápido, afinal, são os roteiristas correndo atrás do que foi excluído dos outros filmes e agora se mostra importante para a conclusão. Mas nada que prejudique a qualidade do produto final.


O clima de romance adolescente que prevaleceu na produção anterior é bastante reduzido aqui, envolvendo apenas o trio principal de amigos, que deverão enfrentar os ciúmes e desejos inerentes a essa idade em seu combate ao mal. A caracterização
dos personagens e até mesmo dos cenários é perfeita. A qualidade do filme se deve ao trabalho minucioso e primoroso do diretor David Yates, que prova aqui ter sido o homem certo para assumir os últimos filmes da saga. Ele fez, no total, quatro filmes, tendo dirigido antes "A Ordem da Fênix"(2007)e "O Enigma do Príncipe"(2009), além de já ter finalizado as filmagens da parte final, que, ao que tudo indica, será lançada em 3D.

Os destaques são os maravilhosos efeitos especiais, que se mostram cada vez melhores, e as várias sequências de ação bem distribuídas no desenrolar da trama. A engraçada e inspirada cena que se passa no Ministério da Magia, sob os efeitos da Poção Polissuco, garante um grau de leveza para aliviar a tensão que se mantém constante até o repentino corte que indica o fim dessa primeira metade.


"Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1" pode até não ser considerado o melhor filme da série, mas é uma adaptação muito fiel à obra original e tem tudo para agradar gregos e troianos, quer dizer, público e crítica, até mesmo aos fãs mais exigentes. O grande número de mortes e ataques já serve de prévia para a parte final, que estreia apenas em julho prometendo intensos combates e a perda de personagens queridos por quem acompanha a série desde o começo. Nos preparamos assim para voltar, uma última vez, para o mundo já não tão maravilhoso e encantador de Harry Potter. Afinal, o Expresso Hogwarts já não é tão seguro.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Intrigas de Estado - "Tropa de Elite 2", a maior bilheteria nacional


Tudo bem que grande parte da polêmica e divulgação que "Tropa de Elite" teve em 2007 se deu pelo filme ter vazado através de cópias piratas, que logo foram vistas por todo o país. Mas, cá entre nós, era de fato um filmaço: uma das melhores produções brasileiras já feitas, imortalizou um anti-herói genuinamente brasileiro, o Capitão Nascimento, caiu no gosto popular e ainda, de quebra, levou o Urso de Ouro de Melhor Filme em Berlim. Isso é pra poucos. Mas eis que o diretor José Padilha e o roteirista Bráulio Mantovani ousaram o mais arriscado: fazer uma continuação. Eles não só a fizeram, como conseguiram fazê-la superior à primeira parte.

Se no primeiro filme o foco estava nos aspirantes a soldados do BOPE, Neto (Caio Junqueira) e Mathias (André Ramiro), aqui é o Capitão Roberto Nascimento que assume as rédeas da história, toda focada em sua pessoa. Nada mais justo, já que o personagem-narrador já roubara todas atenções para seu personagem antes. E aqui, em "Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora É Outro", Mathias é mero coadjuvante. Acompanhamos Nascimento, agora Sub-Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, mais maduro, estratégico e solitário. Separado da mulher e com uma problemática relação com seu filho adolescente, o personagem magistralmente interpretado por Wagner Moura se mostra muito mais humano nesse filme.


A estrutura narrativa desse longa é bem fragmentada, mas acaba formando um eficiente painel de fatos que facilita a compreensão e o envolvimento dos muitos personagens na trama, que dessa vez é focada na ação das milícias nas favelas da cidade. É um assunto polêmico e sério, mostrado de forma crua e fria na tela. Chega a ser brutal a violência mostrada ao longo dos 116 minutos de projeção. Brutal, mas não exagerada ou fictícia. O envolvimento de policiais e políticos denunciados pelo filme é muito próximo da realidade. O grande inimigo, como o título ja adianta, não é mais o tráfico de drogas, e sim o sistema nacional que o permite.

No elenco, quase todos do filme original voltam a fazer seus personagens, como é o caso do já citado Ramiro, com o agora capitão do BOPE Mathias, e de Mihem Cortaz, ainda roubando cenas com seu engraçado e corrupto Fábio. Irandhir Santos desempenha um excelente trabalho como o defensor dos direitos humanos Diogo Fraga, muito bem elaborado para o longa. Mas o destaque absoluto vai para Sandro Rocha, que desempenha o papel do traiçoeiro e violento Russo, responsável pelas milícias. Apesar de já ter feito uma ponta com o mesmo personagem no filme anterior, é aqui que Rocha tem espaço para, com seu misto de cinismo, frieza e agressividade, despertar fúria e ódio em qualquer espectador, em um papel que pode deixá-lo marcado no cinema nacional. André Mattos está hilário no papel do apresentador sensacionalista Fortunato, que logo vira deputado federal, em um personagem muito inspirado na figura do apresentador (e também deputado, olha que coisa) Wagner Montes. Vale ainda lembrar que o cantor Seu Jorge faz uma rápida participação no começo do filme, mas sinceramente, não é nada memorável...


Não faltam cenas e falas memoráveis ao longa, que devia ter sido o indicado brasileiro para concorrer ao Oscar ano que vem. Até porque, cá entre nós, tem muito mais chances de ganhar do que "Lula, o Filho do Brasil", escolhido (por motivos óbvios) pela Secretaria de Cultura para ser o nosso representante. Mas a grande cena que merece ficar latente na memória de todos que assistirem ao filme é aquela em que Nascimento resolve combater o sistema, ao qual agora estava inserido, com as próprias mãos. Não à toa, é o momento em que aplausos rompem a escuridão em plena sala de cinema, uma cena tão urgente e bem executada que por si só já valia um Oscar para Moura e outro para Padilha.

Com menos cenas focadas na ação imediata das forças de ataque do BOPE, temos aqui um redirecionamento do ambiente para os gabinetes políticos dos governadores e chefes de Estado, mostrando sua direta ligação com o tráfico. Ao mostrar esses contatos, o filme faz uma denúncia quase direta do que acontece no Rio e no Brasil, realmente apenas mudando o nome dos envolvidos. É um verdadeiro soco na cara da política brasileira, um ato de imensa coragem do diretor e dos envolvidos na realização. Um filme que deve por isso ser visto por todos, o que tem acontecido até agora, visto que em 2 semanas já tinha passado a barreira dos 2 milhões de expectadores, se tornando recorde de público na Retomada. Quem gostou do primeiro, vai simplesmente amar esse.


Antes de ser a sequência de um filme de grande sucesso, "Tropa de Elite 2" é um verdadeiro manifesto daqueles e para aqueles que acreditam que, com denúncias como essa, o país pode sim reconhecer seus erros e mudar. Ao final da projeção, ao som de "O Calibre", dos Paralamas do Sucesso, a sensação de impotência e impunidade é grande e incômoda. E é exatamente esse sentimento que o diretor e sua equipe buscam despertar em cada um de nós, a fim de promover alguma mudança através de seu cinema. Mais triste, entretanto, é saber que não existe um Capitão Nascimento para nos salvar.

sábado, 2 de outubro de 2010

Crepúsculo dos Deuses: Arthur Penn (1922-2010) e Tony Curtis (1925-2010)

Após a morte de Dennis Hopper, eis que o tempo leva mais dois grandes símbolos de Hollywood, com a morte do diretor Arthur Penn no último dia 28 de setembro sendo logo seguida da do ator Tony Curtis, no dia 30. Mas você, caro leitor, deve estar se perguntando: "Quem são esses caras? NUNCA ouvi falar deles!". Sinceramente, duvido muito.


Para os que não reconhecem o nome de Arthur Penn, nada mais justo do que lembrá-lo pelo filme que o deixará imortalizado na história do cinema: "Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas", que em 1967 simplesmente mudou o jeito de se fazer filmes em Hollywood. A história real do casal de bandidos (vividos com intensa paixão por Faye Dunaway e Warren Beatty, respectivamente) que com sua gangue levou terror e medo ao interior dos EUA nos anos 1930 ganhou um tratamento inovador para a época, com grande violência visual e realismo. Além disso, se destacou por mostrar essa dupla de ladrões como pessoas inocentes sem rumo na vida, sem o então esperado rótulo de "malvados" ou "mal exemplo". Uma obra-prima inquestionável.

A partir do estilo inaugurado com esse filme, no final dos anos 70, o cinema de Hollywood foi tomado por diretores e atores com o mesmo ponto de vista rebelde, como o também falecido e antes citado Hopper, na famosa geração "sexo, drogas e rockn'roll" que gerou obras-primas como "Sem Destino", "Taxi Driver" e "O Poderoso Chefão". Sem esse primeiro e arriscado passo de Arthur Penn, isso não seria possível.


Mesmo sendo sempre ligado apenas a essa produção, Penn fez outros grandes filmes, como "Pequeno Grande Homem"(1970), com Dustin Hoffman, e "Caçada Humana"(1966), com Marlon Brando e Robert Redford. O seu jeito de interagir com os atores, permitindo que eles se envolvessem totalmente no processo de criação dos personagens e na história, fez com que ele fosse muito querido por todos que tiveram a sorte de trabalhar com ele. Apesar disso, a ousadia nos temas e abordagens de seus filmes fez com que os grandes estúdios o deixassem de lado, o que o levou a realizar seus últimos trabalhos para a TV. Morreu um dia depois de completar 88 anos, mas não antes de ser agraciado em 2007 no Festival de Berlim, onde recebeu o Urso de Ouro Honorário por sua contribuição ao cinema. Uma homenagem tardia, mas muito mais que merecida.


Já Tony Curtis, cujo verdadeiro nome era Bernard Schwatz, ficou marcado como um dos grandes galãs da Era de Ouro de Hollywood, nos anos 50. E até a última quinta-feira, era um dos poucos ainda vivos.


Mais famoso por papéis cômicos, o auge de sua carreira foi e sempre será o filme "Quanto Mais Quente Melhor", comédia do diretor Billy Wilder que é considerada pela Academia das Artes Cinematográficas como a melhor já feita. E é de fato muito engraçada essa produção de 1956, que trazia Curtis e o grande Jack Lemmon encarnando dois amigos músicos que, após testemunhar um massacre entre mafiosos, são obrigados a se disfarçar de mulheres de um grupo de música para fugir dos vilões. Esse foi também o último grande trabalho do mito Marilyn Monroe, que já tinha sua beleza um pouco desgastada pelo vício em remédios e bebidas. Após uma cena romântica com a atriz, ele chegou a dizer para a imprensa que "Beija-la era como beijar Hitler", declaração quer causou polêmica. Incrível ver que mesmo tendo mais de 50 anos, o longa se mantém engraçado, com piadas um tanto ousadas ligadas à sexualidade, que escandalizaram na época e ainda hoje provocam gargalhadas.

Após se imortalizar nesse filme, Curtis foi indicado ao Oscar em 1958 pela magnífica atuação no filme "Acorrentados". Sua versatilidade e talento ainda puderam ser vistos em produções como "Spartacus" e "O Homem que Odiava as Mulheres". Na TV, fez sucesso ao lado de Roger Moore (terceiro ator a encarnar o agente 007, principalmente na década de 70) na série "The Persuaders", como um agente secreto playboy.

Com o tempo, sua carreira entrou em declínio por sérios problemas com álcool e cocaína, e seu sucesso nunca mais foi o mesmo. O ator foi casado 6 vezes, tendo sido o casamento mais famoso o que teve com a atriz Janet Leigh, imortalizada por seu papel em "Psicose", de Alfred Hitchcock, no qual era morta no chuveiro. Com ela, o ator teve uma filha que herdou o talento de ambos: Jamie Lee Curtis, famosa pela série "Hallowen" e por filmes como "Um peixe chamado Wanda" e o mais recente "Sexta feira muito louca".


Sumido das telas por um bom tempo, a última grande homenagem ao ator fora um episódio especial da série "CSI: Las Vegas" dirigido pelo grande Quentin Tarantino em 2005. Apesar da saúde já frágil por problemas cardíacos, o ator lançara ano passado uma autobiografia chamada "American Prince". Foi-se aos 85 anos, já sem o brilho dos velhos tempos. Mas a imagem que ficará na memória é a do jovem galã de voz grave e cabelo negro cintilante que, sem muito esforço, divertia e comovia seus fãs.

Enfim, dois gigantes dos tempos áureos de Hollywood que agora nos deixam, para ficarem para sempre na história do cinema.

domingo, 5 de setembro de 2010

Comandos em Ação - Muitas explosões com "Os Mercenários"


Quando Sylvester Stallone anunciou que dirigiria um filme de ação com a cara dos anos 80 e reunindo o time de atores que marcaram o gênero na época, muitos acreditavam que estava em produção o melhor longa de ação já feito. A cada grande nome que entrava no projeto, os contornos épicos iam aumentando na divulgação, a começar pelo nome. Mas, no fim das contas, "Os Mercenários" ("The Expendables", no original), nada mais é que uma grande brincadeira, um prato cheio para quem curte ação desenfreada sem muita explicação e uma grande bobagem para quem espera algo mais.

Depois de voltar aos holofotes revivendo seus antigos personagens em "Rocky Balboa"(2006) e "Rambo IV"(2008), Stallone entendeu que a boa era investir no que sabia fazer melhor, repetindo as fórmulas que o levaram ao sucesso no passado. Assim, nada mais justo do que investir no gênero que fez sua fama. Na nova produção, a história é simples: Stallone é Barney Ross, o líder de um grupo de mercenários que realiza qualquer missão desde que ela seja bem paga. Entre seus companheiros estão nomes como Jet Li, Dolph Lundgren, Terry Crews e Jason Statham (esse representando a nova geração de astros musculosos), que juntos tem a missão de derrubar o general Garza (David Zayas), ditador da ilha de Vilena.


Mas como era de se esperar, a "trama" é apenas uma desculpa para muitas cenas envolvendo tiros, sangue, correria e explosões... muitas explosões. Na verdade, tudo explode nesse filme: carros, helicopteros, até pessoas. E não precisam de explicação para isso, apenas explodem, mas é aí que está a graça do filme, provavelmente. Afinal, é quase um filme trash, que comete o erro de se levar muito a sério em certos momentos. Mas o grande problema é que as cenas de ação são pouco inspiradas e sem criatividade, não havendo nenhuma verdadeiramente antológica, algo imperdoável para um filme desse calibre e proporção. Vemos apenas muita pancadaria já vista antes em outros filmes. A única cena que fica na memória é a entrada (triunfal, diga-se de passagem) do engraçado personagem de Terry Crews em um intenso tiroteio acontecendo em um corredor. Explosiva, diga-se de passagem.

No meio de tanta adrenalina e testosterona, vale a pena destacar a participação da brasileira Giselle Itiê como Sandra. A atriz consegue ter bastante tempo em cena, com mais falas do que Rodrigo Santoro na grande maioria de seus filmes estrangeiros. Um talento brasileiro que pode ser descoberto no exterior através desse filme. Mickey Rourke também dá as caras, em um papel sem nenhuma importância na história. Na verdade, ele, Li e Lundgren só estão ali para dar mais peso ao elenco e proporcionar mais cenas de luta, pois os únicos personagens relevantes são os de Stallone (que consegue manter a mesma expressão facial - nula - durante todo o filme) e Statham (esse sim, o único ator com carisma do elenco), que sozinhos dariam conta do recado. Como vilão, há ainda a presença de Eric Roberts com seu jeito canastrão de sempre, que ajuda a dar o clima ao filme.


Todos os comentários e polêmicas se voltaram para a rápida (põe rápida nisso) participação de Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger em uma improvisada cena. É de fato engraçada e memorável, mas longe de ser antológica. Não vale a pena assistir o filme por ela. Na verdade, só vale a pena assisti-lo quem for fã dos clássicos filmes de ação dos anos 80, que popularizaram não só os membros do elenco, mas também Jean Claude Van Damme - que recusou participar do longa por achá-lo sem profundidade (!!) - e Chuch Norris. Esses fãs, sim, terão 100 minutos de diversão ao som de muitos tiros e... explosões.

domingo, 22 de agosto de 2010

Império dos Sonhos - "A Origem", o filme do ano


Christopher Nolan conseguiu. Depois de brindar a sétima arte com verdadeiros filmaços como "Amnésia"(2000), "O Grande Truque" (2006) e com os dois mais recentes filmes do Homem Morcego ("Batman Begins" (2005) e "O Cavaleiro das Trevas" (2008)), ele se supera ao criar uma verdadeira obra-prima moderna. Com um roteiro original escrito por ele mesmo e efeitos incríveis usados de maneira inédita e bem pensada, "A Origem" ("Inception", no original) é sem dúvida o melhor filme do ano, pelo menos até agora.

O trailer mostrava cenas deslumbrantes sem esclarecer muito da complexa trama, que aborda a mente humana e seus sonhos. E é graças à essa complexidade narrativa que o filme se torna uma fascinante e inesquecível experiência. O fio principal é que para roubar uma ideia é preciso fazer uma pessoa sonhar com ela. O sonho tem de ser cuidadosamente planejado e executado, o que exige um arquiteto e um conjunto de profissionais que torne isso possível. E é aí que entra o grupo de Cobb (Leonardo DiCaprio, em um papel muito parecido com o do recente "Ilha do Medo"), especialistas
em extrair idéias do sonho das pessoas, que nesse caso tem o desafio de fazer uma inserção (daí o título) ao invés de uma extração.

Se DiCaprio é a grande estrela da produção, não deve ser o único a levar os elogios, uma vez que todos os atores realizam um grande trabalho. Cillian Murphy marca presença como a vítima do "golpe" em seu terceiro trabalho com o diretor (ele fizera os dois filmes do Batman como o vilão Espantalho), Ellen Page (eternizada como Juno em 2007) prova seu grande talento na pele da novata Ariadne, Joseph Gordon-Levitt (visto em "500 Dias Com Ela") mostra que não é apenas um ator indie e consegue se virar muito bem numa superprodução com seu estiloso Artur e Marion Cotillard dá sua suavidade a uma personagem chave. Mas a grande surpresa e destaque é Tom Hardy, muito à vontade na pele de um tipo de "mestre dos disfarces psicológico", o truculento Eames. A presença da francesa Cotillard no elenco talvez explique o uso insistente da música de Edit Piaf no desenrolar do processo, como uma menção ao papel que deu o Oscar à atriz em 2007.


Nolan mostra que é um dos melhores diretores da atual safra americana ao manter o total controle narrativo de uma complicada história que se desenvolve em diferentes camadas e realidades. O trabalho de edição também merece reconhecimento, pois consegue organizar a aparente desordem psicológica e permite assim a compreensão do espectador sem confundi-lo mais do que o necessário. Um Oscar nesta categoria seria mais que merecido.

O filme, como esperado, tem cenas simplesmente espetaculares, que possuem maior impacto na tela grande do cinema. Os efeitos visuais não ditam o ritmo da produção, mas são usados sabiamente para compor cenas que dificilmente são esquecidas depois do término da projeção. As melhores cenas são as protagonizadas por um Gordon-Levitt em gravidade zero, lutando sozinho contra vários seguranças em um prédio em movimento enquanto um sonho se desmorona (foto abaixo). Algo muito complexo para se explicar por aqui, mas que merece um lugar cativo na memória do público. Uma cena que nasceu para ser antológica.


Com toda a estrutura de filme alternativo, "A Origem" consegue ganhar porte de blockbuster graças aos nomes do elenco e ao grande orçamento. O longa tem tudo para agradar gregos e troianos, com muita ação, suspense e efeitos especiais e até alto grau de reflexão. Ou seja, entretenimento da melhor qualidade.

O objetivo do diretor e do seu longa não é dar respostas, e sim elaborar as perguntas visualmente. Ouso dizer que se o filme tivesse sido feito e lançado 5 anos atrás, causaria uma revolução no cinema semelhante à de "Matrix" no início do século. Afinal, é sempre bom sair do cinema questionando o que é, afinal de contas, real ou fruto de nossa imaginação.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Inimigo Público Nº1 - Vilão rouba o filme em "Meu Malvado Favorito"


Quando o novo estúdio de animação Illumination Entertainment anunciou o projeto de um filme que teria como protagonista um vilão que pretende roubar a Lua, as espectativas em torno de uma produção com toques sombrios e muito humor negro, no estilo Tim Burton, ficaram grandes. Bem, não é exatamente isso que assistimos nesse "Meu Malvado Favorito" (Despicable Me, no original).

Antes de mais nada, é bom deixar claro que o filme não é ruim, longe disso. Mas ao analisarmos o roteiro e o personagem principal, acreditamos que o resultado podia ter sido melhor. O (ironicamente) carismático Gru, com seu visual que remete ao Tio Chico (Uncle Fester) da "Família Addams", é uma ótima síntese de todos os vilões desengonçados e fracassados que conhecemos, podendo com justiça fazer parte do hall de grandes personagens criados pela animação cinematográfica. Ponto para Steve Carell, que o dubla no original, e para Leandro Hassum, que imprime um estilo único ao personagem na versão nacional.

Na história, o vilão tem que lidar com três órfãs, que estão sob os seus cuidados e não podem ser abandonadas. Como essas 3 pequenas são um tanto clicherizadas e apáticas (menos a caçula Agnes, que consegue se destacar bastante), os pequenos e estranhos ajudantes amarelos do malvado, usados fartamente na divulgação do longa, acabam sendo o ponto alto do filme. Mas ao mesmo tempo em que são deles as tiradas mais engraçadas e inspiradas, em alguns momentos eles interrompem a narrativa em partes claramente voltadas para o público mais infantil, acresentando pouco à trama. Mesmo assim, ou talvez por causa disso, será difícil alguém sair das salas de cinema sem ter sido conquistado por eles.


Diferente de outras animações recentes, como "Toy Story 3" e "Shrek para Sempre", essa faz um uso mais evidente e gritante da tecnologia 3D, com direito a muitos objetos jogados e mãos em direção à tela. Isso até garante maior diversão para quem assiste o filme nesse formato, mas enfraquece seu impacto no 2D tradicional.

O problema que pode ser notado já na metade da projeção é que todo charme e carisma se concentram em Gru e seus ajudantes, com personagens secundários pouco memoráveis, como o irritante antagonista Vetor (que acaba desperdiçando uma inspirada dublagem de Marcius Melhem). Assim, o protagonista e os amarelinhos têm que levar o filme sozinhos em suas costas. Talvez por isso o personagem seja um pouco corcunda.
Apesar desses pequenos pontos negativos e do excesso de pieguice na parte final, o filme tem ótimos momentos pelos quais merece ser (e será) lembrado.