sábado, 2 de outubro de 2010

Crepúsculo dos Deuses: Arthur Penn (1922-2010) e Tony Curtis (1925-2010)

Após a morte de Dennis Hopper, eis que o tempo leva mais dois grandes símbolos de Hollywood, com a morte do diretor Arthur Penn no último dia 28 de setembro sendo logo seguida da do ator Tony Curtis, no dia 30. Mas você, caro leitor, deve estar se perguntando: "Quem são esses caras? NUNCA ouvi falar deles!". Sinceramente, duvido muito.


Para os que não reconhecem o nome de Arthur Penn, nada mais justo do que lembrá-lo pelo filme que o deixará imortalizado na história do cinema: "Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas", que em 1967 simplesmente mudou o jeito de se fazer filmes em Hollywood. A história real do casal de bandidos (vividos com intensa paixão por Faye Dunaway e Warren Beatty, respectivamente) que com sua gangue levou terror e medo ao interior dos EUA nos anos 1930 ganhou um tratamento inovador para a época, com grande violência visual e realismo. Além disso, se destacou por mostrar essa dupla de ladrões como pessoas inocentes sem rumo na vida, sem o então esperado rótulo de "malvados" ou "mal exemplo". Uma obra-prima inquestionável.

A partir do estilo inaugurado com esse filme, no final dos anos 70, o cinema de Hollywood foi tomado por diretores e atores com o mesmo ponto de vista rebelde, como o também falecido e antes citado Hopper, na famosa geração "sexo, drogas e rockn'roll" que gerou obras-primas como "Sem Destino", "Taxi Driver" e "O Poderoso Chefão". Sem esse primeiro e arriscado passo de Arthur Penn, isso não seria possível.


Mesmo sendo sempre ligado apenas a essa produção, Penn fez outros grandes filmes, como "Pequeno Grande Homem"(1970), com Dustin Hoffman, e "Caçada Humana"(1966), com Marlon Brando e Robert Redford. O seu jeito de interagir com os atores, permitindo que eles se envolvessem totalmente no processo de criação dos personagens e na história, fez com que ele fosse muito querido por todos que tiveram a sorte de trabalhar com ele. Apesar disso, a ousadia nos temas e abordagens de seus filmes fez com que os grandes estúdios o deixassem de lado, o que o levou a realizar seus últimos trabalhos para a TV. Morreu um dia depois de completar 88 anos, mas não antes de ser agraciado em 2007 no Festival de Berlim, onde recebeu o Urso de Ouro Honorário por sua contribuição ao cinema. Uma homenagem tardia, mas muito mais que merecida.


Já Tony Curtis, cujo verdadeiro nome era Bernard Schwatz, ficou marcado como um dos grandes galãs da Era de Ouro de Hollywood, nos anos 50. E até a última quinta-feira, era um dos poucos ainda vivos.


Mais famoso por papéis cômicos, o auge de sua carreira foi e sempre será o filme "Quanto Mais Quente Melhor", comédia do diretor Billy Wilder que é considerada pela Academia das Artes Cinematográficas como a melhor já feita. E é de fato muito engraçada essa produção de 1956, que trazia Curtis e o grande Jack Lemmon encarnando dois amigos músicos que, após testemunhar um massacre entre mafiosos, são obrigados a se disfarçar de mulheres de um grupo de música para fugir dos vilões. Esse foi também o último grande trabalho do mito Marilyn Monroe, que já tinha sua beleza um pouco desgastada pelo vício em remédios e bebidas. Após uma cena romântica com a atriz, ele chegou a dizer para a imprensa que "Beija-la era como beijar Hitler", declaração quer causou polêmica. Incrível ver que mesmo tendo mais de 50 anos, o longa se mantém engraçado, com piadas um tanto ousadas ligadas à sexualidade, que escandalizaram na época e ainda hoje provocam gargalhadas.

Após se imortalizar nesse filme, Curtis foi indicado ao Oscar em 1958 pela magnífica atuação no filme "Acorrentados". Sua versatilidade e talento ainda puderam ser vistos em produções como "Spartacus" e "O Homem que Odiava as Mulheres". Na TV, fez sucesso ao lado de Roger Moore (terceiro ator a encarnar o agente 007, principalmente na década de 70) na série "The Persuaders", como um agente secreto playboy.

Com o tempo, sua carreira entrou em declínio por sérios problemas com álcool e cocaína, e seu sucesso nunca mais foi o mesmo. O ator foi casado 6 vezes, tendo sido o casamento mais famoso o que teve com a atriz Janet Leigh, imortalizada por seu papel em "Psicose", de Alfred Hitchcock, no qual era morta no chuveiro. Com ela, o ator teve uma filha que herdou o talento de ambos: Jamie Lee Curtis, famosa pela série "Hallowen" e por filmes como "Um peixe chamado Wanda" e o mais recente "Sexta feira muito louca".


Sumido das telas por um bom tempo, a última grande homenagem ao ator fora um episódio especial da série "CSI: Las Vegas" dirigido pelo grande Quentin Tarantino em 2005. Apesar da saúde já frágil por problemas cardíacos, o ator lançara ano passado uma autobiografia chamada "American Prince". Foi-se aos 85 anos, já sem o brilho dos velhos tempos. Mas a imagem que ficará na memória é a do jovem galã de voz grave e cabelo negro cintilante que, sem muito esforço, divertia e comovia seus fãs.

Enfim, dois gigantes dos tempos áureos de Hollywood que agora nos deixam, para ficarem para sempre na história do cinema.

Um comentário:

  1. rapaz, acho 'bonnie and clyde' absurdamente fantástico. é um dos filmes mais bem dosados que já vi. sabe, tem a medida perfeita de nouvelle vague misturado com policial hollywoodiano. é realmente feito na na medida, um pouco a mais, um pouco a menos ia ficar ruim. arthur penn onseguiu fazer aquilo que truffaut não conseguiu fazer com 'atirem no pianista' e 'a sereia do mississipi'.
    ah, já que também colocou tarantino no meio disso tudo.. tarantino também é grande fã de arthur penn e nota-se isso no 'assassinos por natureza' do oliver stone que tem o roteiro do próprio tarantino, que faz uma 'releitura' do bonnie e clyde para os tempos modernos. apesar do tarantino ter odiado o resultado, alegando que o filme ficou parecendo um video-clipe (se você viu, consegue entender direitinho), vale muito a pena assistir.
    enfim, excelente matéria sobre dois imortais do cinema kaio !
    abraços.

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