terça-feira, 11 de agosto de 2020

Cidadão Cav - O mais Internacional dos Brasileiros, Alberto Cavalcanti ( 1897 - 1982 )



 Quem foi Alberto Cavalcanti ?

Infelizmente, uma pergunta que poucos saberiam responder.

Mas ok - quem foi, esse tal de Alberto Cavalcanti?
Anos antes do nosso gigantesco Humberto Mauro enquadrar em sua câmera um Cinema com assinatura e textura de Brasil, um carioca nascido em Botafogo era destaque absoluto na Vanguarda Francesa. Sim. O ano era 1926 e Cavalcanti, já respeitado como cenógrafo e produtor, assumia a direção para captar a vida mundana de Paris com realismo invejável. Talvez o diferencial de seu "Rien que les Heures" fosse exatamente esse curioso olhar de estrangeiro. Ou melhor, de "cineasta do mundo", pois Cavalcanti foi o mais internacional dos cineastas brasileiros.

Não bastasse a produtiva carreira na França, o auge veio na Inglaterra: lá adaptou Dickens no clássico "As Vidas e Aventuras de Nicholas Nickleby" (1947) e gravou o cult absoluto "Dead of Night" (1945). Poucos cineastas tinham tanto respeito e moral no Ealing Studios, o que lhe garantiu presença em diversas produções estrangeiras e festivais internacionais. Aliás, uma década antes da (merecidíssima) Palma de Ouro de "O Pagador de Promessas" (1962), Cavalcanti entrou na seleção oficial do Festival de Cannes com "O Canto do Mar" (1953) - todinho gravado em Pernambuco e repleto de ecos do que mais adiante seria nomeado "Cinema Novo" por outra geração.
Brasileiro em essência, Cavalcanti foi convidado para o luxuoso cargo de Diretor de Produção da ambiciosa Companhia de Cinema Vera Cruz, tentativa de levantar uma Hollywood no interior de São Paulo. Por experiência vasta e prática, sabia que o país não tinha condições ideais para um estúdio de cinema daquele porte - o que gerou conflitos internos que o afastaram da companhia e, de certa forma, do país. Antes de partir, preparou e entregou o projeto do INC (Instituto Nacional do Cinema) diretamente para Getúlio Vargas. Driblou limitações de orçamento e encontrou sucesso popular nacional com "Simão, O Caolho" (1952) e "Mulher de Verdade" (1954) - todos em São Paulo. Não chegou a gravar no Rio, sua cidade natal.

Voltou para Europa direto para a casa de Bertolt Brecht na Alemanha, onde trabalhou com o próprio dramaturgo na adaptação da peça "Herr Puntila und Sein Knecht Matti", filme lançado em 1955 com aprovação total do autor. Amigo de Jean Renoir e Serguei Eisenstein, Alberto Cavalcanti não encontrou igual simpatia dos cineastas brasileiros. Morreu aos 85 anos em Paris, onde a classe artística o reconhecia e viveu intenso luto seguido de mostras e retrospectivas. Por aqui, se tornou discreto nome de uma rua no Recreio. Sua obra não aparece em livros sobre Cinema Brasileiro e nem é citada em faculdades de Cinema da cidade onde nasceu. Apenas uma biografia oficial dedicada à sua figura, escrita por Sergio Caldieri no já distante ano de 2005.

Mais um nome ativo, inovador, brilhante, fundamental e cruelmente esquecido da História do nosso Cinema Brasileiro. Seus filmes nacionais podem ser conferidos na íntegra no Youtube, além de diversos trechos das produções mudas que comprovam seu posto entre os gigantes da Imagem. Nunca é tarde para a descoberta e fascínio. Quem foi Alberto Cavalcanti?
Infelizmente, uma Vida que poucos sabem celebrar.

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