sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O Cineasta Fantasma - A Obra perdida de Harry d'Abbadie d'Arrast


O homem de chapéu nessa foto, acredite se quiser, é Charles Chaplin sem o característico visual icônico. Ao seu lado está o cineasta Harry d'Abbadie d’Arrast. Você provavelmente nunca ouviu falar dele. Até mesmo os cinéfilos mais dedicados e cults pouco leram sobre ele. A razão é simples e cruel: toda sua obra foi perdida

Documentos e fotografias confirmam que ele foi assistente de Chaplin nas gravações da obra-prima "Em Busca do Ouro" (1925), mas seu nome não está nos créditos. Fritz Lang, gênio revolucionário na fase inicial do Cinema, diversas vezes declarou que d’Arrast realizou "oito dos mais belos filmes da História". Nunca serão vistos. Todos foram perdidos em incêndios ou por descaso dos estúdios. Esse verdadeiro extermínio era muitíssimo frequente antes dos anos 50, quando as mudanças para filmes Sonoros e Coloridos fez muitos produtores se livrarem de material antigo então considerado "obsoleto e descartável". Pelo menos 50 filmes assinados por John Ford são considerados perdidos. Isso não acontecia apenas nos Estados Unidos: dados históricos garantem que foram destruídos 80% dos filmes mudos na Itália e 70% na França. O massacre também foi intenso no Japão - dos 53 filmes que Ozu realizou, 21 desapareceram. 

Apenas com o surgimento das Cinematecas e órgãos de proteção à produção cinematográfica, as obras passaram a ser devidamente arquivadas e restauradas. Harry d'Abbadie d'Arrast não teve essa sorte. Nascido na Argentina, fez fama em Hollywood e teve sua obra brutalmente apagada da História. Morreu em 1968 sem receber nenhuma homenagem. Um cineasta-fantasma nos arquivos envelhecidos do século passado. 

*Porém, um grandioso milagre : uma cópia incompleta de sua comédia sonora "Laughter" (1930) foi recentemente descoberta e está disponível no Youtube. Estrelada por Nancy Carroll e Fredric March, a produção chegou a ser indicada ao Oscar de Melhor Roteiro daquele ano! Inspirou o remake alemão "Die Männer um Lucie" (1931) - também considerado perdido. Uma modesta salvação do esquecimento absoluto, um pequeno vislumbre para esse silencioso fantasma celebrado por Lang e outros sobreviventes daquela época. 



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