quinta-feira, 15 de setembro de 2011

As Noites da Arábia - A Magia Atemporal de "O Ladrão de Bagdá"


A paixão irrefreável pelo cinema me levou a encontrar vários vídeos e montagens das melhores cenas e momentos dessa arte. Até fiz alguns deles, inclusive. O fato é que, invariavelmente, eu era surpreendido por uma lírica imagem de um homem montado em um cavalo cavalgando em direção aos céus. Tal cena me tocava intensamente, por deixar clara a magia do cinema. Cresci e amadureci sem descobrir de onde ela vinha.

Em outra ocasião, procurava imagens marcantes de filmes de aventura quando encontrei a foto hipnótica de um gênio gigante, idêntico ao do desenho "Aladdin" - que tanto marcou minha infância. Só que dessa vez, ele era de carne e osso. Lá estava o gênio, hipnótico e "real". O tempo passava, mas aquelas icônicas imagens continuavam fortes na cabeça. "Tenho que assistir a esses filmes", eu pensava.


Certo dia, no cineclube que frequento, a sessão da noite era "O Ladrão de Bagdá": uma aventura de 1940 que na verdade era a refilmagem do famoso clássico homônimo de 1924, estrelado por Douglas Fairbanks - esse, o primeiro herói do cinema. Fora isso, nada mais sabia sobre o longa. Começa o filme. Cenários suntuosos. Atores marcantes. Visual fantástico e hipnótico. Um homem atravessa os céus em um cavalo. A mais pura magia em celulóide. Mais um pouco e um gênio toma a tela de assalto. Tapetes voadores. Aranhas e polvos gigantes. Lá estavam todos os filmes de fantasia que eu tanto procurava, reunidos em um só.

Estrelada pelo "galã que não deu certo" chamado John Justin, "The Thief of Bagdad" foi uma "mega-produção" na época, a ponto do então todo-poderoso produtor Alexander Korda contratar 3 diretores (!) para filmar o roteiro preparado pelo próprio. Uma adaptação de "As Mil e Uma Noites", sagrado livro que tem a maioria das lendas e mitos indianos, persas e árabes. O grande apelo comercial do filme recaía sobre os incríveis efeitos visuais, que ainda hoje encantam - vide as cenas já citadas. Um truque usado até hoje foi usado pela primeira vez neste filme: a gravação em fundo azul para depois colocar o cenário colorido durante a edição. Técnicas e Technicolor para criar o melhor clima de ação e aventura possível. O resultado foram 3 Oscar da Academia de Cinema: Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhores Efeitos Visuais e Sonoros.


O destaque vai para a presença de Conrad Veidt, eternizado como vilão na história do cinema por seus papéis em "O Gabinete do Dr. Caligari" (1919) e "Casablanca"(1942). Aqui, mais uma vez, usa seu aterrorizante olhar no papel do sinistro Jaffar - isso mesmo, o vilão de Aladdin em pessoa! Mas as atenções também se voltam para Sabu, ator indiano que ficou marcado por esse tipo de produção. Nunca emplacou outro sucesso, mas seu visual inspirou diretamente o personagem Hadji, do clássico desenho Johnny Quest.

O melhor é saber que, mais de 70 anos depois, a magia do filme continua funcionando. Mesmo parecendo ingênuo para os padrões atuais, "O Ladrão de Bagdá" lembra uma época em que entretenimento visual proporcionava mais qualidade e diversão do que "Transformers" ou filmes-pipoca atuais desse tipo. Algo que o primeiro "Piratas do Caribe" (2003) chegou bem perto de alcançar.


Tudo o que vem à nossa mente ao mencionarmos a Arábia e "As Mil e Uma Noites" pode ser encontrado em "O Ladrão de Bagdá". Inspirou diretamente produções como o já citado "Aladdin" e as aventuras de Indiana Jones, principalmente em "O Templo da Perdição" (1983). Não à toa, é um dos filmes favoritos de diretores consagrados, como Francis Ford Coppola e Martin Scorsese. Uma verdadeira jóia rara e muito valiosa, injustamente (ainda) esquecida em algum lugar do passado - mas preparada para cravar suas icônicas imagens na cabeça e no coração de muitas gerações do passado, do presente e do futuro. Alexander Korda ficaria orgulhoso do resultado.

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