sábado, 13 de março de 2010

Caminhos Perigosos – A volta de Martin Scorsese aos cinemas com “Ilha do Medo”

Após o documentário "Shine a Light", de 2007, focado na carreira e música dos Rolling Stones, o grande mestre Martin Scorsese volta a dirigir um filme de ficção, depois do mundialmente aclamado e premiado “Os Infiltrados”, que lhe deu (finalmente!) o Oscar de Melhor Diretor de 2006.

Primeiramente, apresentemos o diretor, para que vocês possam conhecer melhor aquele que considero o melhor cineasta vivo atualmente. Antes de diretor, Martin Scorsese é um amante da sétima arte, sendo ele mesmo crítico de cinema e um dos responsáveis pela restauração de cópias de filmes antigos.

Ele se formou e despontou no cinema na década de 70, sendo parte da “geração sexo,drogas e rock’n roll” do qual faziam parte Francis Ford Coppola (“O Poderoso Chefão”), Steven Spielberg (“Tubarão”) e George Lucas(“Guerra nas Estrelas”). O título dessa matéria é o nome do filme que fez em 1973 com Harvey Keitel e Robert De Niro, na primeira de suas muitas parcerias. Esse filme o revelou para os grandes estúdios, ao mostrar de forma realista e violenta o cotidiano de dois amigos envolvidos com a máfia. Em 1976, depois de pequenos filmes independentes, chamou a atenção de todo mundo com “Táxi Driver”, que imortalizou De Niro como o atormentado Travis Bickle e mostrou Nova York como nunca antes a tinham visto nas telas: de maneira suja e realista.

Em 1980, se juntou novamente com Robert De Niro (numa que seria das mais famosas parcerias entre ator-diretor existentes) para fazê-lo brilhar em “Touro Indomável”, considerado por muitos, inclusive por mim, seu melhor filme. O filme deu merecidamente o Oscar de atuação para De Niro, e também o de edição para Thelma Schoonmaker, a editora de quase todos seus filmes. Com a ajuda dela, ele ficou famoso pelos cortes rápidos e pela inquieta câmera, sempre passeando pelos cenários e entre os personagens. Essa técnica pôde ser melhor observada em “Os Bons Companheiros”, de 1990, em que ele focou novamente na história de amigos envolvidos com a máfia. Mas tudo ali era diferente e bem-vindo: a trilha sonora estilizada, os cortes frenéticos, a ironia dos diálogos e a maneira cruel de mostrar violência, traição e assassinatos entre pessoas que teoricamente mantinham um laço forte de lealdade e amizade. Um filme que influenciou muitos que viriam depois e que devia ter dado a ele o Oscar de Direção, pois é onde ele mais utiliza seus inovadores recursos. Mas esse Oscar só viria em 2007, pela direção de “Os Infiltrados”, que ganhou também o Oscar de Melhor Filme. Apesar de ter 2 horas e meia de duração, o filme não diminui seu ritmo em nenhum momento, sendo um dos melhores filmes de ação feitos nos últimos tempos.

Depois do aparente fim da parceria entre Robert De Niro, com “Cassino”, de 1995, Scorsese, em 2003, começou a parceria com Leonardo DiCaprio, que atuaria em “Gangues de Nova Iorque” nesse ano, “O Aviador”(2004), “Os Infiltrados”(2006) e agora em a “Ilha do Medo”. Então aqui chegamos, a 2010, com o novo filme de Scorsese, que já é considerado seu filme mais comercial, por ser o que mais arrecadou nas bilheterias.


Nesse filme, Scorsese, aos 67 anos, investe em um tema novo em sua filmografia: um terror psicológico com toques de filmes noir. Ele já tinha feito algo parecido no quase homônimo “Cabo do Medo”, de 1987. Mas aqui, o visual e as locações ajudam a tornar a produção única. O filme se passa na década de 1950, quando dois policiais ( DiCaprio e Mark Ruffalo) são chamados à misteriosa ilha Shutter, uma instituição psiquiátrica para assassinos, para investigar o desaparecimento de uma prisioneira, ou melhor, paciente, como diz o frio médico vivido por um incrível Bem Kingsley. E a partir dessa premissa toda historia evolui ao longo de bem utilizados 148 minutos. O filme tem ainda uma belíssima fotografia, que permite que muitas cenas pareçam verdadeiras pinturas; e a presença hipnótica do veterano e quase mumificado ator Max Von Sydow, que demonstra grande talento aos 81 anos.

A trilha sonora do filme não ajuda em certas horas, mas a câmera de Scorsese, juntamente com a edição de Schoonmaker, proporciona aos espectadores grandes momentos de tensão. A parte romântica do filme à principio parece forçada e melodramática demais, mas ao longo da projeção tudo vai fazendo mais sentido, ou na verdade, menos sentido, e dessa contradição o diretor brinca de confundir quem assiste ao longa. O roteiro mostra-se muito bom, em um final que remete ao clássico do expressionismo alemão “O Gabinete do Doutor Galigari”, de 1919, sobre o qual não entro em maiores detalhes para não estragar nenhuma surpresa. Não é o melhor filme de Scorsese, mas sem duvida ele apresenta momentos que provam a genialidade dessa lenda viva do cinema, como as cenas que se passam na chamada “Ala C”. Mas, apesar do nome, "Ilha do medo" é mais um suspense que um filme de terror, um caminho perigoso para um diretor que ainda procura inovar depois de tantas obra-primas. Mas quem é bom nunca deixa de ser.

Devo aceitar o fato de nem todos conhecerem os filmes aqui citados, assim como o diretor em questão. Para isso, tracei todo o perfil aqui apresentado. Mas como a sétima arte é feita por imagens, segue agora um vídeo da cerimônia do Globo de Ouro desse ano, ocorrida em fevereiro, onde ele ganhou o prêmio especial Cecil B. DeMille por sua carreira das mãos de seus dois grandes parceiros da carreira, do passado e do presente: Robert De Niro e Leonardo DiCaprio. A partir dos 3 minutos, há a apresentação de um vídeo com cenas de seus principais filmes,inclusive “Ilha do Medo”, para os interessados. Uma grande e merecida homenagem a esse gênio do cinema que ainda vive entre nós.

Um comentário:

  1. Na verdade, o filme me agradou bastante. Eu realmente não entendi as críticas negativas feitas a essa película, tanto d'O Globo como do JB.

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