quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Rainha - Merryl Streep encarna Margareth Tatcher à perfeição em "A Dama de Ferro"


De todas categorias de indicados ao Oscar de 2012, a de Melhor Atriz é a mais díficil de definir um favoritismo. Temos a interessante encarnação do ícone Marilyn Monroe por Michelle Williams ("Sete Dias com Marilyn"), uma atuação corajosa e marcante de Viola Davis ("Histórias Cruzadas") e completas transformações físicas por parte de Glenn Close ("Albert Nobbs") e Rooney Mara ("Millenium"). Mas nenhuma dessas atuações toma as proporções do "tour de force" promovido por Mary Louise Streep. Já uma das mais queridas atrizes de todos os tempos e recordista de indicações ao Oscar - foram 17 -, Merryl Streep aceitou o desafio de encarnar a ex-Primeira Ministra britânica Margareth Tatcher. E, como não podia deixar de ser, o cumpriu com louvor.

Essa foi a segunda vez que a diretora Phyllida Lloyd e a atriz Meryl Streep trabalharam juntas, depois do grande sucesso de público e crítica "Mamma Mia!" em 2008. Mas "A Dama de Ferro" tem uma estrutura convencional de biografia, acompanhando os momentos mais importantes da vida e carreira da primeira mulher a ser eleita Primeira-Ministra do Reino Unido. Em certos momentos, chega até mesmo a ser um pouco confuso ao abranger tantos acontecimentos de forma muito corrida. Então, o que faz dessa produção um filme acima da média? Nada mais nada menos do que a assustadora interpretação de Streep, que basicamente se tornou Tatcher no jeito de andar, falar, olhar, se virar e respirar. Algo bem semelhante ao que Helen Mirren fez com Elizabeth II em "A Rainha" - que, veja bem, lhe deu o Oscar de Melhor Atriz.


Ter o filme completamente voltado para a mulher por trás da figura política justifica o reduzido enfoque dado a fatos históricos importantes. É compreensível, uma vez que o importante não são os acontecimentos marcantes, e sim a reação e atitudes de Tatcher diante deles. Ataques do IRA, Guerra Fria, Reagan, Guerra das Malvinas, está tudo lá, em uma resumida radiografia do período de 11 anos (1979-1990) em que ela governou o Reino Unido - alternando com o período atual, com 86 anos e reclusa em sua casa pelos sinais de demência que a assombram desde 2000.

A real razão para conferir essa produção é se deliciar com o trabalho de Streep, uma verdadeira aula de atuação. Em nenhum momento a carismática atriz parece estar em cena. Principalmente nos trechos em que uma envelhecida Margareth Tatcher portadora de demência aparece. Qualquer um pode acreditar que é a própria. A transformação física é surpreendente, algo que Streep já tinha feito com Julia Child em "Julie e Julia". Ou seja, mais uma prova de que a norte-americana merece mais do que apenas um Oscar de Coadjuvante por "Kramer VS. Kramer" (1979) e outro de Melhor Atriz por "A Escolha de Sofia"(1982). Se ganhasse o terceiro Oscar, ficaria atrás apenas do mito Katherine Hepburn, vencedora de 4 prêmios da Academia e cuja encarnação rendeu um outro de Coadjuvante para Kate Blanchet em "O Aviador" (2004). E dos 105 minutos de duração, duas cenas sozinhas justificariam a vitória de Streep: o momento em que ela demonstra o porquê de sua alcunha de "Dama de Ferro" durante uma reunião de seu comitê e a cena final, eficiente pelos pequenos gestos.


Jim Broadbent está carismático como o marido brincalhão que ajuda a esposa a se manter firme na profissão, mas todo o elenco é ofuscado pelo carisma de Streep. Se por acaso ocorrer uma zebra e o Oscar do dia 26 acabar indo para Viola Davis - amiga pessoal de Streep e com a qual ela atuou (maravilhosamente, pra variar) em "Dúvida"(2008)-, "A Dama de Ferro" será apenas mais uma prova do talento extraordinário de uma das melhores atrizes da história do cinema. O filme é completamente ancorado nela, uma estrela que tem calibre para carregá-lo sozinho e que sabe disso. Como Tatcher sabia ao manter suas decisões diante das crises pelas quais passou. Ou seja, uma personagem perfeita para uma atriz perfeita.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Som do Silêncio - A magia do cinema mudo está de volta com "O Artista"!


Assistindo ao filme "O Artista", pude ver que ele não é tudo isso que tanto andam falando por aí. Ele é muito mais. E digo isso não por ser uma homenagem aos anos dourados do cinema mudo (dourados não, "prateados" é melhor, afinal não tinha cor) , mas sim por fazer o mais dificil: recuperar, em diversos momentos, a magia daquelas produções. E é esse o grande feito do filme do frânces Michel Hazanavicius (ô sobrenome difícil!), provar que a magia presente naquelas películas pode ser ressuscitada com sucesso em produções modernas.

Desde sua passagem por Cannes no ano passado - onde perdeu a Palma de Ouro para "A Árvore da Vida", filme que tinha mais a cara do festival -, "O Artista" têm colecionado elogios da crítica e prêmios internacionais. Não deixou de ser surpresa quando foi anunciado como favorito ao 84º Oscar de Melhor Filme. A indicação do filme francês ao principal prêmio da Academia americana de Cinema é justificado por ser "uma produção muda, e por isso universal". Mas o que justificaria sua vitória seria a coragem e ousadia de lançar um filme sem som nem cores em uma era em que isso parece impensável.


"O Artista" não é um filme que lucrará nas salas do cinema. É algo para os amantes da sétima arte e curiosos de plantão, e não o grande público que quer ação e efeitos especiais. Uma história bem simples e que remete imediatamente a antigas produções voltadas para os bastidores do cinema e a decadência de suas estrelas, como "Cantando na Chuva" e "Crepúsculo dos Deuses". Não consegue chegar aos pés dessas obras-primas, mas prova que nunca é tarde para relembrar o porquê de irmos ao cinema - e como ele tanto nos facina.

O grande destaque do filme tem um nome: Jean Dujardin. O ator era mais famoso na França por comédias em que encarnava o Agente 117, uma sátira do 007 - a direção dos filmes, inclusive, era do próprio Hazanavicius. Como protagonista de "O Artista" ele conseguiu o Prêmio de Melhor Ator em Cannes - o que voltou os olhos de todos para o filme - e agora é o favorito ao Oscar, tendo no seu caminho apenas a profunda interpretação de George Clooney em "Os Descendentes". Seu personagem, o galã George Valentim, é uma mistura de todos os grandes ídolos do cinema mudo: Rodolfo Valentino, Douglas Fairbanks, John Gilbert, um pouco de cada um. Se alguns dizem que ele lembra um pouco o icônico Gene Kelly de "Cantando na Chuva", eu digo mais: ele é a própria reencarnação do antigo astro. Não bastasse o físico e os traços em comum, dá pra acreditar que Kelly baixou nele nas cenas de sapateado. Dujardin carrega o filme inteiro em sua imagem. Comove e faz rir com grande facilidade e, mais importante, charme. Charme que falta a muitos atores de hoje.


Nas passagens voltadas para o humor, Dujardin tem a ajuda do cãozinho Uggie, que atraiu todas as atenções no palco do Globo de Ouro e tem ótimo timing para o humor. Sua presença em cena, sempre ao lado do dono, evoca a imagem de Charlie Chaplin em "Vida de Cachorro", principalmente na cena em que Valentim anda pelas ruas observando o que restou de seu sucesso. Além dele, também se destaca Bérénice Bejo, esposa do diretor, que no filme empresta seu jeito de garota pra representar brilhantemente a leveza das atrizes da época. James Cromwell e John Goodman, o eterno Fred Flinstone de carne e osso, têm participações discretas em cena. Mas um ponto negativo vai para a "participação" de Malcolm McDowell. Eternizado na história do século XX por sua entrega total ao protagonista de "Laranja Mecânica", o subestimado ator de 68 anos aparece por cerca de meio minuto (!!) em um papel que poderia ser dado à qualquer ator de menos experiência.


Os melhores momentos do filme são as homenagens e sutilezas que enchem os olhos dos bons observadores. Sutis movimentos dos atores ou da câmera, pôsteres e cartazes que são reproduções de obras famosas do passado. Até uma homenagem maior à Douglas Fairbanks, com reprodução de cenas de seus filmes originais como se fossem produções de Valentim. E o que falar da já antológica cena em que o protagonista percebe a chegada do advento do som? Um sopro de originalidade de quem sabe como usar os recursos do cinema de maneira inteligente. Tudo culminando no empolgante e surpreendente clímax.

"O Artista" está longe de ser um dos melhores filmes da história, mas é uma deliciosa e divertida viagem para os amantes do cinema em sua essência: mudo e em preto-e-branco, atemporal e universal. Para os que não gostam de filmes antigos, minha sugestão é deixar o preconceito de lado para conferir o cinema, em plena era de efeitos 3D e Surrond Sound, se render ao som do silêncio e ao incrível fascínio despertado e eternizado por suas imagens. E se o mundo for mesmo acabar em 2012, a ideia de o último filme a receber o Oscar ser esse é um tanto interessante e irônica.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Desventuras em Série - Spielberg conquista os fãs com adaptação de "As Aventuras de Tintim"


É com imenso prazer que digo: a espera valeu a pena! Steven Spielberg não decepcionou e fez de "As Aventuras de Tintim" uma agradável e eficiente aventura que lembra as grandes matinês do cinema. E o filme tem tudo para agradar o grande público, principalmente os fãs do astuto repórter criado pelo belga Hergé em 1929.

Famoso por amantes de histórias em quadrinhos que (como eu) o acompanharam em suas 24 aventuras ao redor do mundo, era inevitável que Tintim e seu leal fox terrier Milu fossem parar na tela grande. Mas o receio era grande, afinal era um personagem muito querido e conhecido. Muitos temiam que acontecesse algo semelhante a "Scooby Doo" ou "Speed Racer" - e que na verdade até chegou a acontecer com Tintim, em uma desconhecida e obscura adaptação live action de 1964. O filme tinha que fazer jus à obra de Hergé, e a história a ser adaptada teria que ser muito bem escolhida.


Bem, quase todos relaxaram quando Spielberg foi anunciado como diretor do projeto. De aventura ele entende, vide Indiana Jones, Jurassic Park e tantos outros clássicos. As coisas só melhoraram quando Peter Jackson - ele mesmo, o cara do "Senhor dos Anéis" -, entrou de cabeça como produtor. Aí era só esperar a estreia para ter certeza do sucesso. E ela veio.

Foi arriscada a decisão de não fazer um filme em live action convencional e optar pela captura digital de movimentos - semelhante à usada em "Avatar". Mas quando é visto o resultado final, devemos admitir (maravilhados) que foi a melhor escolha. Os atores que "interpretam" os personagens não são idênticos a eles fisicamente - o que seria quase impossível -, mas têm seu rosto modelado de acordo com os traços originais do desenho. E assim temos o mundo de Hergé adaptado para um visual (muito) mais realista e próximo da realidade. Algo simplesmente perfeito para esse tipo de projeto. Em certos momentos, chegamos a acreditar estar vendo um filme com atores e cenários de verdade. O realismo é surpreendente, vide detalhes dos ambientes e rugas ou pêlos nos personagens. Não à toa levou o Globo de Ouro de Animação, e o Oscar é uma justa certeza.


A escolha de "O Segredo do Licorne" - coincidentemente o primeiro livro do Tintim que ganhei - como aventura a ser adaptada se justifica. Cada personagem é apresentado de maneira eficiente e brilhante. Afinal, apresentar personagens é algo que Spielberg sabe fazer muito bem. A primeira aparição do próprio Tintim é uma grande homenagem a seu criador. E homenagens à ele não faltam no filme, que tem várias citações a outras aventuras do repórter - algumas só os fãs vão identificar. Spielberg mesmo, muito esperto, faz hilárias "indiretas" a seus próprios filmes, como a "Caçadores da Arca Perdida" e "Tubarão". Coisa de mestre.

O dedutivo Tintim de Jamie Bell é muito próximo do original, mas são os coadjuvantes que roubam a cena. O carismático Capitão Haddock ganha o olhar profundo de Andy Serkis, o homem por trás do Gollum/Smeagol de "O Senhor dos Anéis" e do novo "King Kong". Transposição perfeita do rabugento e beberrão pirata que não suporta ficar sóbrio, Serkis consegue mais uma vez ser o ponto alto do filme, sem muito esforço. Alívio cômico da série, os atrapalhados agentes gêmeos Dupond e Dupont (vividos pela dupla Simon Pegg e Nick Frost, de "Chumbo Grosso") têm merecida participação e garantem boas risadas. Até personagens secundários dão as caras, como a exêntrica cantora lírica Castafiore, uma grande surpresa. Mas é o cãozinho Milu o grande destaque do filme. Fazendo as vezes de herói em cenas decisivas e muito realista, é difícil sair do cinema sem querer ter um em casa.


Spielberg e Jackson orquestraram um pequeno milagre desde os estilosos créditos iniciais. O uso de animação em todas as cenas do filme permitiu que as cenas fossem elaboradas sem as limitações da captação por câmeras. Ou seja: as cenas de ação são riquíssimas em detalhes e muito bem executadas. As pequenas mudanças feitas na história original se justificam e não ofendem os fãs mais ardorosos. Uma continuação é inevitável e Spielberg já anunciou que planeja uma trilogia. Nossa parte é curtir a nostalgia de voltar aos personagens de nossas infâncias com o luxuoso tratamento que só Hollywood poderia dar. Astérix e Obélix devem estar morrendo de inveja.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Um Tributo a "Laranja Mecânica": The Orange and The Evolution

Stanley Kubrick é um dos grandes mestres do cinema, um dos diretores mais aclamados e estudados de sua história. "Laranja Mecânica" é seu filme mais influente e analisado. Então para homenagear um pouco tardiamente os 40 anos desse clássico da década de 1970 (e seu diretor), resolvi voltar à edição de vídeos e fazer essa pequena homenagem.
A música, escolhida a dedo, é "Do The Evolution", da banda americana Pearl Jam. Pelo menos para mim, caiu como uma luva no clima do filme e das cenas.
Vamos ver o que vocês acham!

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Intrigas de Estado - Clooney aborda o lado negro da política com "Tudo Pelo Poder"


George Timothy Clooney é uma pessoa versátil. Mais do que o simples rosto bonito do líder da nova versão dos 11 ( ou 12 ou 13) homens que têm um segredo, Clooney é um grande ator. Seu talento já foi comprovado em filmes como "E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?" e "Syriana" - que lhe deu um Oscar de Coadjuvante -, em que inclusive deixava o charme de lado para se transformar fisicamente nos personagens. Não à toa, acabou de ganhar o Globo de Ouro de Melhor Ator Dramático por seu pai traído e impotente de "Os Descendentes". Como se não bastasse ser um dos rostos mais famosos e desejados na frente das câmeras, Clooney resolveu se aventurar também atrás dela. Com sucesso.

Depois de começar discretamente dirigindo "Confissões de uma Mente Perigosa"(2002), ele conquistou aclamação da crítica e do público com o maravilhoso "Boa Noite e Boa Sorte"(2005), um dos melhores filmes já feitos sobre os bastidores da televisão e da política, com alguns dos diálogos mais marcantes e bem escritos do cinema americano dessa última década. E voltando aos bastidores da política, Clooney recrutou o homem do momento para protagonizar seu novo projeto como diretor. O homem em questão: Ryan Gosling, que vem atraindo toda atenção por filmes como "Amor à Toda Prova" e "Drive".


E assim temos "Tudo Pelo Poder", um filme eficiente que vai direto ao ponto - como todos outros de Clooney-diretor. A produção é baseada na peça "Farragut North", de Beau Willimon, que estreou na Broadway em 2008. Querendo fazer algo bem diferente do encenado nos palcos, Clooney teve a ideia de batizar o filme de "The Ides of March", menção ao dia (15 de março) em que o Imperador Júlio César foi assassinado. As filmagens aconteceram quase completamente na região de Cincinatti, local onde Clooney cresceu.

A trama segue o jovem Stephen Myers, o idealista personagem de Gosling. Dedicado, obsessivo e apaixonado por política, ele trabalha como assessor de imprensa de Mike Morris - vivido na medida pelo próprio George Clooney- governador democrata que é candidato a corrida presidencial nos Estados Unidos. E apesar da temática política assustar quem quer ir ao cinema se divertir, a abordagem é bem direta e simples. O resultado é uma ótima crônica sobre dignidade e ética, um filme perfeitamente redondo em que todas as cenas são necessárias e cada diálogo é essencial ao desenrolar dos fatos.


O bom de ser uma pessoa querida na área em que trabalha é poder chamar conhecidos para participar de seus projetos. E Clooney fez isso, reunindo um elenco que brilha o suficiente para atrair sozinho a atenção do público. E todos os atores têm seu momento de brilhar em cena: Philip Seymour Hoffman e Paul Giamatti mereciam dividir um Oscar de Coadjuvante por suas participações e Evan Rachel Wood prova que é muito mais do que um rostinho (muito) bonito. Assim como o próprio diretor, que mesmo com o papel secundário deve causar inveja a muitos políticos com sua postura e atitudes em cena.

Com direito a muitas reviravoltas, cenas icônicas e uma atuação confiante de Gosling - que se mostra um dos grandes atores da nova geração - "Tudo Pelo Poder" é o primeiro grande filme do ano. Seu sucesso com o público e com a crítica só reforça George Clooney como um bom exemplo de ator que deu certo como diretor. E que sabe dialogar com o grande público, fazendo uma radiografia do lado negro da política ser totalmente atraente aos olhos e as ações (reais, todos devem reconhecer) de seus governantes parecerem... coisas de um filme de Hollywood.

sábado, 7 de janeiro de 2012

TOP 20 - Filmes Essenciais e Marcantes


Depois de tanto perguntarem quais eram meus filmes favoritos ou quais clássicos do cinema eu recomendava, finalmente organizei uma lista para satisfazer a curiosidade dos interessados. E como em 2012 eu completo 20 anos de vida, selecionei os 20 filmes que mais me marcaram e influenciaram - até agora, é claro! Foi uma dura escolha e seleção, mas o resultado final conseguiu equilibrar clássicos e obras mais recentes, assim como vários gêneros: do musical ao terror, do romance à ação, da comédia ao drama histórico.

Sem mais enrolação, vamos aos filmes!!


O Poderoso Chefão (1972)
+ O Poderoso Chefão – Parte II (1974)
, de Francis Ford Coppola

Aula de atuação com Marlon Brando e Al Pacino. Cenas e falas mais memoráveis da história do cinema. Trilha sonora belíssima eternizada por Nino Rota. James Caan e Robert De Niro (na Parte II) ensinando como roubar cenas. O resultado é o maior clássico atemporal do cinema americano - que consegue funcionar ainda melhor (!) com a continuação de 1974 - e a figura de Michael Corleone (Pacino) como um dos personagens mais interessantes e complexos da sétima arte. Nenhum momento ou diálogo é dispensável na grandiosa saga da família mafiosa mais famosa do mundo.

  • Beleza Americana (1999), de Sam Mendes

Dizer que o filmaço de Sam Mendes é uma perfeita crônica crítica do “American Way Of Life” já soa como redundância. Kevin Spacey está simplesmente antológico como o pacato pai de família que resolve radicalizar sua vida ao cansar de ser traído pela esposa e desprezado pela filha. E os delírios de seu personagem com a ninfeta encarnada por Mena Suvari estão entre as cenas mais bonitas do cinema americano.

  • Amadeus (1984), de Milos Forman

Obra-prima que provavelmente é o melhor filme histórico já feito, com personagens marcantes que prendem completamente a atenção durante as 3 horas de duração. Sem falar na melhor e mais corajosa interpretação de uma figura histórica bem conhecida: Tom Hulce encarnando um excêntrico e delirante Mozart. Tudo funciona maravilhosamente: atuações, montagem, cenários, visual e, claro, a trilha sonora com as músicas do compositor austríaco.

  • Psicose (1960), de Alfred Hitchcock

Nenhum diretor brincou tão brilhantemente com uma trama como Hitchcock nessa obra-prima, tendo a coragem de não só matar a protagonista na metade do filme, mas de fazer isso em uma cena de assassinato tão ousada e inovadora que entrou para a história como provavelmente a mais famosa do cinema. Uma aula de direção cinematográfica por um de seus maiores mestres.

  • O Mensageiro do Diabo (1955), de Charles Laughton

O único filme dirigido pelo ator Charles Laughton se passa em uma cidadezinha do interior com os cenários mais idílicos e sombrios já vistos, inspirados diretamente pelo Expressionismo Alemão. Nunca um filme americano fez melhor uso do contraste entre luz e sombras. Além de Robert Mitchum imortalizando cada segundo em que aparece como um psicopata que é o capeta em pessoa - sedutor, irônico e violento -, o filme conta ainda com Lillian Gish, antiga estrela do cinema mudo, que saiu de seu recluso para dar vida à única gota de esperança nos verdadeiros quadros em movimentos que pontuam essa pérola pouco conhecida.

  • Era Uma Vez Na América (1984), de Sergio Leone

Cada fotograma é uma verdadeira obra de arte nesse lírico filme dirigido magistralmente por Leone e embalado pela mais linda trilha sonora escrita por Ennio Morricone. A Nova York da década de 20 nunca foi tão bem recriada nas telas como nesse filme. Um deleite visual e sonoro de 4 horas de duração, que valem a pena em cada minuto.

  • A Primeira Noite De Um Homem (1967), de Mike Nichols

Dustin Hoffman - em seu papel de estréia - dando uma aula de comédia, Anne Bancroft transformando sua “Mrs. Robinson” em uma das melhores personagens femininas do cinema e Nichols ensinando como fazer uma história simples virar um filmaço. Sem falar na trilha sonora feita especialmente por Simon & Garfunkel, que só ajudou a eternizar a produção.

  • Nosferatu (1922), de F.W.Murnau

Cinema em sua essência, atemporal e universal. O clima sombrio criado por Murnau fez escola, e a imagem apavorante e hipnotizante do vampiro consegue ainda ser, quase 90 anos depois, a melhor encarnação do mal nas telas. Cinema mudo da melhor qualidade.

  • Em Busca Do Ouro (1925), de Charlie Chaplin

O ícone máximo do cinema, Chaplin consegue aqui misturar comédia, ação, romance, aventura e até certas doses de horror no filme que simplesmente despertou minha paixão pela sétima arte. Nada mais justo para o trabalho pelo qual ele queria ser lembrado.

  • Cantando Na Chuva (1952), de Stanley Donen e Gene Kelly

Sim, Hollywood sabe fazer piada de si mesma. E em nenhum outro filme a magia do cinema está tão presente e pulsante como nesse que continua sendo o melhor musical da história. Gene Kelly está imortal em cada fotograma desse filme que parece nunca envelhecer ou perder seu encanto original.

  • 8 1/2 (1960), de Federico Fellini

Metalinguagem pura na mais deliciosa viagem do mestre Fellini. De quebra, ainda imortaliza Marcello Mastroianni como um dos caras mais “cool”que o cinema mundial já viu. Prova de que, em cinema, não há limites entre o sonho e o real: tudo que é pensado pode ser filmado. Bom para nós!

  • Bonnie & Clyde (1967), de Arthur Penn

Warren Beatty e Faye Dunaway formam um dos mais belos casais do cinema na história real dos ladrões de banco que aterrorizaram o interior dos EUA na década de 1930. O elenco de rostos marcantes - que inclui ainda Gene Hackman e Gene Wilder - só fortalece o culto a esse filme seminal que mistura ação, humor e violência até o repentino clímax.

  • Sindicato de Ladrões (1954), de Elia Kazan

Atuações viscerais de todo o elenco (principalmente do protagonista Marlon Brando e de Karl Maden) marcam essa obra-prima que comprova todo talento de Elia Kazan, um dos diretores mais brilhantes e injustiçados da Fase de Ouro de Hollywood. Realismo, atuações e profundidade na tela como nunca visto até então.

  • Moscou Contra 007 (1963), de Terence Young

Mais do que um dos melhores filmes de James Bond, a segunda aventura do agente secreto nos cinemas é um dos melhores filmes de espionagem já feitos. Além de ter Sean Connery no auge de seu charme e Robert Shaw como um dos melhores vilões do cinema, as locações perfeitas escolhidas na Rússia ajudam a manter o clima de suspense do início ao fim.

  • Trainspotting (1996), de Danny Boyle

Toda a geração da década de 90 em 90 frenéticos minutos. A edição em estilo "videoclipe" poucas vezes foi tão bem usada, em um filme que consegue ser chocante e eficiente na medida certa.


  • Touro Indomável (1980), de Martin Scorsese

Conhecido por seus filmes violentos de edição acelerada, aqui Scorsese desacelera um pouco e o resultado é sua maior herança para o cinema. A fotografia em preto-e-branco ajuda a eternizar sua melhor parceria com Robert De Niro, que merecidamente levou o Oscar pela total entrega ao papel do pugilista Jake La Motta. Um filme que bate e fica.

  • Os Sonhadores (2003), de Bernardo Bertolucci

Um dos melhores diretores do mundo, Bertolucci faz desse filme uma sutil e belíssima declaração de amor ao cinema, através de um complexo (e polêmico!) triângulo amoroso. De quebra, ainda imortaliza Eva Green como uma das mais belas musas do cinema moderno.


  • 500 Dias Com Ela (2009), de Marc Webb

Uma rara comédia romântica que foge de todos os clichês, sendo um espelho da atual geração alternativa através de um humor inteligente, trilha sonora inspiradíssima e edição moderna. A vida amorosa como ela é.

  • O Labirinto Do Fauno (2006), de Guillermo del Toro

Enorme poço de criatividade visual, a sombria fábula de Guilhermo Del Toro é um dos filmes mais belos e sinistros do cinema atual. Os cenários e as maquiagens fantásticas são motivos mais que suficientes para justificar a consagração do filme mundo afora e no coração dos cinéfilos de plantão – e para matar Tim Burton de inveja.
  • Los Angeles - Cidade Proibida (1997), de Curtis Hanson

Maior herdeiro do cinema Noir da década de 1940, o filme de Hanson foi ofuscado na época de seu lançamento pelo fenômeno “Titanic”. Tratamento injusto para um dos melhores filmes policiais americanos, que revive o glamour da “década de ouro” de Hollywood e onde nada é o que parece. Como bônus, um dos melhores elencos da década de 1990 – com Kevin Spacey e Russel Crowe ensinando como roubar as atenções em papéis secundários.


-> Então é isso! Os filmes listados acima são altamente recomendados a todos. E lembrando que nenhum deles deve ser considerado "o melhor filme de todos os tempos". Bom é pensar que "o melhor filme" ainda será visto. Afinal, o show tem que continuar.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Fúria de Titãs - "Imortais" retoma a Mitologia Grega no cinema


A Mitologia Grega e Hollywood têm uma história tortuosa. Os últimos filmes a tratar o tema com certo respeito e cuidado foram a aventura "Percy Jackson e o Ladrão de Raios"(2009) e a superprodução "Tróia", de um já distante ano de 2003. Seguiu-se então o equivocado remake de "Fúria de Titãs", intensamente inferior ao divertido clássico original de 1981. Para completar, caiu na rede no final de 2011 a notícia de mais uma tentativa de apresentar os deuses do Olimpo à nova geração. O filme em questão é "Imortais", que pelo trailer parecia ser uma ação descerebrada que bebia diretamente da fonte de "300" (2007), com cenários estilizados e muita câmera lenta.

No fim das contas, é basicamente isso mesmo. Mas "Imortais" acaba sendo uma surpresa agradável. Não completamente fiel à Mitologia original, a produção arrebata pelo visual. Isso porque o apuro visual do diretor Tarsem Singh - do bizarro "A Cela"(2000) - chega aqui no ápice, gerando líricas pinturas em movimento. A direção de arte é inspiradíssima e funciona maravilhosamente bem com os efeitos 3D. A nova abordagem dada a passagens mitológicas famosas se equilibra entre erros (deuses não podem sangrar, oras!) e acertos (a bem pensada participação do Minotauro). E o diretor poderá em breve mudar histórias já conhecidas mais uma vez: é dele a direção da versão live action de "A Branca de Neve" intitulada "Mirror, Mirror" e focada na rainha má vivida por Julia Roberts.


Apesar das gélidas e robóticas atuações já esperadas em um filme focado na ação, alguns atores conseguem se destacar. O exemplo maior é Mickey Rourke. Supervalorizado desde que superou as drogas e recuperou sua carreira em Hollywood, Rourke de fato encarna bem o vingativo e violento rei Hipérion. Na busca desenfreada pelo Arco de Épiro, arma capaz de libertar os Titãs e matar deuses, seu personagem exala brutalidade e se mostra um dos piores vilões vistos recentemente nos cinemas. O subestimado e veterano John Hurt também dá o ar da graça em um surpreendente papel. Já a belíssima Isabel Lucas ilumina a tela toda vez que aparece como a deusa Atenas.

Mais do que bom entretenimento, o filme é a prova de fogo do ator Henry Cavill. Muitos torceram o nariz quando ele foi anunciado como o protagonista de "Superman - Man Of Steel", nova versão do Super-Homem dirigida por Zack Snyder. Eu mesmo admito a reprovação inicial. Mas após ver o desempenho de Cavill como a nova versão de Teseu, fui convencido de que o ator tem o porte e a imponência necessários para herdar o papel do kriptoniano. Um ator que não parece o Christopher Reeve (imortalizado no imaginário coletivo como o Super-Homem dos cinemas), mas sim o personagem original dos quadrinhos. Logo, algo muito bem-vindo.


Fica o alerta: o espetáculo visual proposto por "Imortais" funciona muito bem no cinema - com som e imagem (em 3D ou não) de alta qualidade, reforçando os efeitos especiais e sonoros. Já na televisão, o efeito pode ser bem menor, até mesmo decepcionante. Ou seja: o blockbuster é uma boa pedida para uma tarde com amigos regada a muita pipoca e descompromisso. Os professores de História podem não gostar do resultado, mas seus alunos sem dúvida ficarão satisfeitos.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ao Mestre, Com Carinho - Martin Scorsese, O Bom Companheiro


A famosa revista americana de moda Harper’s Bazaar resolveu brindar seus leitores com um editorial diferente, intitulado “The Age of Scorsese”. A proposta: recriar em fotos cenas de filmes do diretor Martin Scorsese, só que com atores da nova geração. Tal brincadeira já foi feita anteriormente com a obra dos gênios Alfred Hitchock, Stanley Kubrick e Walt Disney. Só que Scorsese é o primeiro a receber tal homenagem ainda em vida. Seria exagero?

Quem é amante da sétima arte sabe que não. Isso porque Martin Charles Scorsese é o mais aclamado e influente diretor da chamada “Geração Sexo, Drogas e Rockn’ Roll” que tomou Hollywood de assalto nos anos 1970. Ele comemora 69 anos nesse 17 de novembro, mais atual e atuante do que nunca. Duvida?

Adaptação do livro de Brian Selznick, “A Invenção de Hugo Cabret” já tem trailer circulando na Internet, e estreia em 23 de novembro nos EUA - 20 de janeiro no Brasil. A maquiagem de Ben Kingsley, juntamente com os cenários deslumbrantes do início do século XX, indicam que a história será uma grande homenagem a George Méliès, o primeiro grande gênio do cinema. Primeira incursão do diretor em uma aventura juvenil, “A Invenção de Hugo Cabret” é também o primeiro projeto filmado em 3D pelo cineasta – prova de que ele está por dentro das novas técnicas e formas de se fazer cinema. O diretor ainda faz uma ponta no filme, como um fotógrafo do início do século.


Além do cinema, ele agora também investe na televisão, produzindo o luxuoso seriado da HBO, “Broadwalk Empire”. A série se passa durante o período da Lei Seca nos EUA, sendo estrelada por Steve Buscemi. Aclamada pelo público e pela crítica, a série já foi renovada para a terceira temporada e prima pela reconstituição histórica. Scorsese em pessoa dirigiu o primeiro episódio, e por ele recebeu o Emmy de Melhor Direção de Série Dramática. Nem Spielberg, do alto de sua fortuna, teve aclamação semelhante nesse início de século.

Mas a agenda do senhor de sobrancelhas grossas não para por aí. Há cerca de 5 anos o diretor vem trabalhando no roteiro de um filme sobre uma das maiores vozes do século XX, Frank Sinatra (1915-1998). A produção focará no misterioso envolvimento do cantor com a Máfia – como era de se esperar – e terá Leonardo Di Caprio como protagonista – como também era de se esperar. Seria a quinta parceria com o ator, que parece mesmo ser o substituto de Robert De Niro como ator favorito do diretor, após oito filmes juntos.

Para comemorar o aniversário dessa lenda viva do cinema, relembremos Cinco Filmes Essenciais de sua carreira, obrigatórios para qualquer um que se considere "cinéfilo":

• Caminhos Perigosos (1973)
- Aqui nasceu um novo estilo de filmagem, um novo astro (Robert De Niro, roubando cada fotograma em que aparece) e um diretor que seria o novo mito de Hollywood. Câmeras soltas, triha sonora repleta de rock e violência visual realista marcaram época.


• Taxi Driver (1976)
– Considerada por cinéfilos a grande obra de Scorsese, essa pulsante crônica sobre Nova York virou cult pela nervosa atuação de De Niro e pela presença de uma estreante Jodie Foster no papel da prostituta mirim que desperta o senso de justiça no neurótico motorista de táxi.


• Touro Indomável (1980)
– O maior espetáculo visual de Scorsese. A fotografia em preto-e-branco registra o auge e a decadência do boxeador Jake LaMotta, eternizado por uma das maiores entregas que o cinema já viu de um ator a seu personagem, com De Niro 25 quilos mais gordo para encarnar o pugilista aposentado. O resultado inevitável foi o Oscar pela atuação.


• Os Bons Companheiros (1990)
– Filmes de gângster nunca mais foram os mesmos após esse charmoso exercício de narrativa extremamente violento. Mais uma vez De Niro estrela, mas é um explosivo Joe Pesci quem rouba a cena – não à toa, levou o Oscar de Coadjuvante pelo papel.


• Os Infiltrados (2006)
– Um complexo jogo de gato e rato que é inesquecível pela contribuição de Jack Nicholson (em seu último grande papel até agora) e por ter enfim consagrado Scorsese no Oscar, dando-lhe os prêmios de Direção e de Melhor Filme.


Vida longa (longuíssima) ao grande mestre!!