sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Dentro de Casa - A Condição Humana em "Parasita", Palma de Ouro 2019.



Cannes não erra. Basta uma rápida pesquisa nos filmes premiados com a Palma de Ouro ao longo das 72 edições do Festival de Cinema, talvez o mais prestigiado do mundo. Ainda que alguns títulos possam ser menos acessíveis e muito experimentais, quase sempre os laureados são obras contundentes que exploram ao máximo a potência artística da Sétima Arte. São filmes que não permitem indiferença. E é o caso absoluto desse "Parasite". 

Logo após o prêmio para o Japão com "Assunto de Familia" (2018), a Coreia do Sul levou a Palma pela primeira vez com a nova ousadia de Bong Joon-ho. O cineasta tem uma assinatura visual brutalmente crua e é responsável por cults modernos como "O Hospedeiro" (2006), "Expresso do Amanhã" (2013) e "Okja" - super-produção exclusiva da Netflix que concorreu à Palma em 2017. Aqui, o diretor abre mão de elementos fantasiosos e efeitos especiais para mergulhar (quase que literalmente) na condição humana. Se "Parasita" tem momentos de pura tensão e suspense, é exatamente por chegar muito perto do que nos faz essencialmente humanos. Assusta (sem dúvida) e fascina (com máxima certeza). Unanimidade de público e crítica, é provavelmente uma das maiores experiências cinematográficas do ano - senão A maior. 

Nesses tempos em que franquias e sucessos de bilheteria apresentam narrativas cada vez mais preguiçosas e previsíveis, eis aqui um roteiro que consegue surpreender a cada nova cena, sem exceção. A climatização cuidadosa, as sofisticadas viradas de enredo, as reflexões sobre qualquer sociedade do século XXI, os certeiros arcos narrativos de cada personagem, as metáforas eficientes em escala mundial, tudo isso intenstificado pela afinação do maravilhoso elenco. O resultado é um absurdo. "Parasita" é um filme do agora, pertencente a 2019 em conteúdo e forma, mas prontíssimo para a Posteridade. Merece todas as palmas, inclusive a de Ouro. 


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