quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

"Nós sempre teremos Haiti" - O esquecimento de "Os Farsantes", 1967.



O título original desse filme é "The Comedians". Engana, e muito: quase não há brecha para o humor nas duas horas e meia desse pretensioso thriller político. Uma olhada rápida na ficha técnica já nos atrai para o elenco. E não é pra menos. O super casal Elizabeth Taylor e Richard Burton, basicamente Brad & Angelina dos anos 60, encabeça um elenco de rostos marcantes numa trama de Amor&Guerra no então exótico Haiti. Tudo se desenrola durante o real período do regime violento de Papa Doc, líder que dominou o país entre 1958 e 1971 - portanto, era vivo durante as gravações e lançamento. Tanto que era inviável gravar em locação, o que levou a equipe à igualmente exótica República de Dahomey. Produzido e dirigido pelo ator inglês Peter Glenville, o filme não esconde: tenta ser uma espécie de "Casablanca" (1942) em toda oportunidade que aparece. É no máximo um primo muito (muito!) distante e involuntariamente modesto. 

O resultado é repleto de ótimas intenções, porém acaba vítima do próprio ritmo irregular. Em determinados momentos longos e sem timing, o tédio parece abater os próprios atores em cena. É o caso de Peter Ustinov - vencedor de dois Oscars de coadjuvante e sempre pulsante em cena - que dessa vez parece apenas… estar ali. O casal Taylor & Burton só se encontra para beijos apaixonados e sofrência, o que enfraquece o potencial do angustiado protagonista. Quase que exatamente um Brad Pitt maduro da época, Burton apresenta um anti-herói cético, covarde e até mesmo frágil, que tenta manter as aparências e quase sempre falha. Há valor nesse combo, certamente. Há também outros aperitivos aos curiosos. James Earl Jones, eterna voz de Darth Vader e Mufasa, tem papel importante e Lillian Gish, eterna musa de Griffith e do Cinema Mudo, surge colorida e falante. Já setentona e aparição de luxo, consegue roubar algumas cenas e não permite que sua personagem seja irrelevante - o que aconteceria se fosse outra atriz em seu lugar. 

Porém, o ponto alto de "Os Farsantes" ou "The Comedians" é aquele que melhor encarna ambos títulos. Nome, sobrenome e título: Sir Alec Guinness. Como de costume em sua aclamada (e ainda pouco popular) carreira, Guinness abusa no carisma e ofusca todo o resto. Seu eloquente Major Jones aparece pouco, mas acaba por ditar os rumos de quase tudo que acontece. Quando está em cena, não há outro elemento a ser olhado. É extremamente fácil não se conectar com nenhum outro personagem e dificílimo permanecer indiferente ao dele. Em resumo: ver Guinness se divertindo nas diferentes camadas do personagem é motivo suficiente para encarar esse pomposo thriller datado e quase brega. Pode confiar.



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