domingo, 16 de dezembro de 2018

O Primeiro Tango de Bertolucci - Descobrindo A Morte




Bernardo Bertolucci nasceu fadado às Artes: a mãe era professora e o pai, respeitado poeta e historiador. Italiano de Parma, cresceu cercado de cultura e logo conheceu figuras como Pier Paolo Pasolini. Amigo da família, o cineasta o convidou para ser assistente de direção em seu primeiro longa, "Accattone" (1961). O jovem Bernardo, já então com um livro de poesias publicado, se entusiasmou com a magia do Cinema. Pouco depois, tinha em mãos um roteiro assinado pelo próprio Pasolini. Assim veio "La Commare Secca", sua primeira experiência na direção. 

O plano inicial já indica toda poesia e potência do filme: folhas e papéis voam por ruas de uma cidade ainda adormecida, até revelar o solitário cadáver de uma mulher. A trama pincela diferentes depoimentos sobre fatos do dia anterior, possíveis suspeitos e causas do assassinato. Críticos e artigos costumam ligar a estrutura ao clássico inquestionável "Rashomon", de Kurosawa. Ainda que provável inspiração, "A Morte" adota um contexto social e narrativo absolutamente diferente. Ainda sob ecos audíveis do Neorrealismo de Rosselini e De Sicca, aponta para a nova onda que marcaria obras de Antonioni, Fellini e do próprio Pasolini. Por isso mesmo, é chocante imaginar que aquela degustação visual tenha sido orquestrada por um jovem de 21 (!!) anos. 

Muito diferente da saturação de cores, ritmo pendular e sexualidade latente que se tornariam a assinatura de Bertolucci, "La Commare Secca" releva um cineasta inquieto com os possíveis laços entre Cinema e Poesia - um pouco de Pintura no meio. A câmera solta e flutuante captura rostos belos e marcantes, como o jeitão "Johnny Cash loiro" de Alfredo Leggi e a urgência juvenil de Marisa Solinas. Pouco se explica sobre seus personagens, mas são muitas (!) as imagens que ficam. Explorar essa obra inaugural à sombra de sua recente morte apenas reforça a força e brilhantismo de Bertolucci como Homem do Cinema. É inquestionável: poucos conseguiram pintar tamanha poesia com uma câmera. 




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