domingo, 15 de julho de 2012

Sob Nova Direção - Peter Parker Volta de Cara Nova no Divertido "O Espetacular Homem-Aranha"


Lá se foram 10 anos desde que um Homem-Aranha digital cruzou pela primeira vez uma tela de cinema. O filme de Sam Raimi lançado em 2002 encantou o mundo por levar, de forma fiel e eficiente, o mais famoso herói da Marvel para as telas. E aqui estamos, apenas uma década depois, diante de um "reboot" da série. Um novo começo com novos atores - algo que ainda parece desnecessário para muitos fãs. Afinal, o que achar desse novo "O Espetacular Homem Aranha"? Vamos aos fatos.

A parte final da trilogia de Raimi foi lançada em 2007 e decepcionou por mostrar muita ação e pouca história, com personagens demais se atropelando em cena. De fato, o filme não tinha a marca autoral que o diretor tinha deixado em seus dois filmes anteriores, principalmente no segundo. Segundo Raimi, a culpa foi do produtor Avi Arad, que fez muitas mudanças e exigências no roteiro - como a participação do vilão Venom. Como consequência dessas intervenções, Raimi e seu protagonista, Tobey Maguire, desistiram de continuar as aventuras do personagem. Com eles, foi embora todo o elenco original. Mas os filmes do Homem Aranha eram máquinas de fazer dinheiro, e não podiam parar. Melhor do que fazer uma quarta parte com atores novos era recomeçar a série do zero, até pra renovar o interesse do público. E assim foi feito.


O projeto era, na medida do possível, promissor. O primeiro nome envolvido foi o do diretor Marc Webb, recém saído do brilhante "500 Dias Com Ela", seu sucesso de estréia. O estilo visual presente em cada fotograma de sua realista história de amor era perfeito para a abordagem mais descolada e jovem de um super herói como o Homem-Aranha. Logo depois, foi anunciada a escolha de Andrew Garfield como o novo Peter Parker. O ator já tinha mostrado o imenso talento em filmes como "O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus" e "A Rede Social", mas essa seria sua chance de brilhar. A partir daí, o que vinha era lucro. E a expectativa aumentava.

O fato é que o trailer de "O Espetacular Homem-Aranha" mostrava mais do que devia, e deixava bem claro o que seria o filme. Como o trailer denunciava, a origem do herói é recontada aqui. No filme original de Raimi, tudo foi mostrado de maneira bem objetiva e eficiente. Era o modelo perfeito da linha narrativa do personagem: seu jeito nerd e deslocado, seu amor pela ciência e fotografia, a relação com os tios, o dia em que foi picado acidentalmente e o modo bem-humorado como descobre seus poderes. Aqui tudo se repete nos primeiros 40 minutos, só que de forma muito corrida, sem o mesmo impacto. É o caso da sequência em que ele descobre suas novas habilidades: tão engraçada quanto forçadamente acelerada. Mais uma vez, o foco está na ação, e não na informação que é mostrada. Mas tudo bem.


Um ponto positivo da nova produção é o foco na relação de Peter com seus pais e os motivos que levaram ao seu abandono. Se nos filmes anteriores isso era tratado com indiferença, aqui é parte fundamental da trama. E é aí que entra Martin Sheen, o melhor ator em cena na pele do Tio Ben. Em pouco tempo ele consegue passar todo ar paternal do personagem e criar um vínculo maior com o público, algo essencial para esse personagem. Ao seu lado, vemos uma apagada Sally Field como Tia May. Para a talentosa atriz vencedora de dois Oscars restam algumas cenas na cozinha. Sheen a engole em todos momentos que dividem a tela. O destino de seu personagem está lá novamente, do mesmo jeito que no original de 2002. Só que de forma mais corrida, claro.

Apesar de o uniforme ser basicamente o mesmo, o herói aracnídeo em si é bem diferente. A mordida da aranha geneticamente modificada dá a Peter Parker reflexos especiais e super força. Mas para por aí. As teias usadas para se locomover não são orgânicas dessa vez, mas produzidas por Parker através de seu conhecimento científico e armazenadas numa espécie de lançador especial colocado em seus pulsos, como um relógio. Esse pequeno detalhe torna o personagem mais humano e suscetível a falhas. Mais um ponto positivo da produção. Mas é quando ele se balança pela cidade que percebemos a falta que a inspiradíssima trilha sonora de Danny Elfman faz. Ela dava um clima épico para a trilogia original, clima esse que falta aqui. Sem falar que em certos momentos parece que o Homem-Aranha prefere atuar sem sua máscara...


Isso nos leva ao que o longa tem de melhor, indiscutivelmente: o próprio Homem-Aranha/Peter Parker. Desde o princípio, o grande barato desse "novo começo" seria ver uma releitura do personagem, assim como quando muda o ator que vive o agente James Bond. A interpretação de Tobey Maguire nunca decepcionou ninguém, mas era uma abordagem mais tímida e "correta". Aqui, o personagem de Andrew Garfield é um adolescente mais próximo da realidade. Apesar do jeito mais estudioso e inteligente, ele também quer se garantir. E assim que obtém seus poderes começa a "tirar onda" por aí - como o personagem dos quadrinhos. Nesse sentido, é mais "politicamente incorreto" e marrento, mas extremamente engraçado e carismático. É essa palavra que fica estampada na cabeça de Garfield do início ao fim: CARISMA. Se o filme não é pura diversão dispensável, é graças a ele, somente.

Seguindo a mitologia original dos quadrinhos, temos a loira Gwen Stacy como o primeiro amor do herói. Talvez por serem namorados na vida real, a química entre Garfield e Emma Stone funciona muito bem. A atriz prova que, apesar da dicção estranha, é uma das maiores beldades do momento. Mas definitivamente não brilha como o namorado. Fora isso, temos FINALMENTE o vilão Lagarto dando as caras. Para quem não lembra, o Dr. Curt Connors esteve presente nos três filmes anteriores, mas sempre como coadjuvante e interpretado pelo ator Dylan Baker - que, aliás, não deve ter gostado NADA da troca de elenco. Agora enfim chega a hora da transformação do médico em monstro. Rhys Ifans defende bem o personagem, mas sua força diminui exatamente quando assume a faceta de vilão. O "visual réptil" não é dos mais inspirados, e não ajuda no pouco apelo que o personagem tem. A curiosidade da vez vai para a participação de um ator sumido: C. Thomas Howell. Revelado como adolescente talentoso na década de 80 e protagonista do cultuado "A Morte Pede Carona", Howell se perdeu nas bebidas e em escolhas ruins na carreira. Aqui, já envelhecido, ele dá as caras como um trabalhador que tem seu filho salvo pelo aracnídeo e mais tarde retribui a ajuda de forma emocionante. Olho aberto para sua participação.


Podemos resumir o filme analisando os "voos" do novo Homem-Aranha entre os prédios da cidade: eles têm de fato mais adrenalina e são muito bem feitos, mas não é algo que não tenha sido visto nos filmes de Raimi. Em vários momentos, o herói conta com pura sorte e ajuda de cidadãos para realizar seus atos extraordinários, o que o traz pra mais perto do público. Ok, bem legal. Mas o problema de "O Espetacular Homem-Aranha" é ser um filme extremamente divertido, ainda que desnecessário. O público vai amar rever o personagem de forma diferente, mas ninguém pode negar: já estava tudo lá nos filmes anteriores. Marc Webb, sob a pressão do "segundo filme" depois de um sucesso de estréia, adotou uma direção mais convencional, sem inovar nada no gênero. Apresentou um filme que se basta como diversão imediata. Como "algo a mais", deixa apenas a sensação de que Andrew Garfield é o Peter Parker por excelência - algo que será muito aproveitado nas inevitáveis sequências. Isso é... Antes que façam um novo "reboot" da série, né.

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