quarta-feira, 6 de junho de 2012

Lírio Partido - Christian Bale Lidera Elenco Oriental e Emociona em "Flores do Oriente"


Guerras são tão antigas quanto o próprio ser humano - afinal, foi ele quem as criou. Apesar de suas duras consequências e cicatrizes, é preciso tirar algo delas, uma espécie de "moral" da história. E aí entra a arte, através de músicas, fotografias, livros, entre outros. Por aqui, o foco será no cinema. Ele já produziu verdadeiros manifestos antibélicos como "O Encouraçado Potemkin", "Apocalypse Now" e "A Lista de Schindler" - só pra citar alguns, claro. Só que as guerras são fontes inesgotáveis de episódios que parecem, de fato, "coisa de filme". Mesmo com tantas obras do gênero, sempre surge alguma coisa nova e diferente. É o caso de "Flores do Oriente".
Nessa produção de 2011, a trama se desenvolve durante a segunda guerra que aconteceu entre o Japão e a China, no ano de 1937. Mais especificamente durante o chamado "Massacre de Nanquim", no qual estima-se que mais de 200 mil chineses foram mortos pelo Exército Japonês, que também estuprou cerca de 20 mil mulheres. Se apenas escritos os fatos já chocam, o filme não tenta abrandar ou suavizar esse choque. A reconstituição de época perfeita vem acompanhada da mesma dose de violência visual, de deixar Tarantino abismado. Mas, nesse caso, não é gratuito. É apenas... realista. Um retrato da época.


Ao longo de 2 horas e meia de duração, a ação se passa basicamente em um único lugar: uma Igreja católica de Nanquim, que abriga jovens garotas estudantes. Mas isso não deve fazer ninguém pensar que o filme é monótono. O clima caótico está lá desde a primeira cena, e logo somos apresentados ao personagem de Christian Bale: John Miller, um americano que deve ir a essa Igreja para enterrar o padre vítima de uma bomba. A partir daí, muita coisa acontece nesse ambiente, principalmente após a chegada de um grupo de prostitutas em busca de abrigo.

Cineasta chinês mais bem sucedido dessa década, Zhang Yimou levou a beleza e valores de uma China lírica para os cinema através de filmes como "Lanternas Vermelhas", "Herói", "O Clã das Adagas Voadoras" e "A Maldição da Flor Dourada"- todos esteticamente sublimes, verdadeiros quadros em movimento. Com essas produções, deixou claro que o país não tem apenas Ang Lee e John Woo como representantes internacionais. E visando mais esse mercado internacional - lembrando que no filme é falado chinês, mandarim, japonês e inglês -, ancora sua nova obra no carisma de uma ator americano e deixa o visual exótico de lado, para adotar tons mais frios e cinzas. As violentas cenas de ação evocam "O Resgate do Soldado Ryan" e "Cartas de Iwo Jima" pela mistura de realismo com o emocional dos personagens. Mas tudo com um toque pessoal do diretor.


Mas o grande trunfo do filme, que lhe dá toda a personalidade que precisa para se destacar, tem um nome: Christian Charles Phillip Bale, a alma do longa-metragem. Vale avisar que o personagem demora para engrenar. Na primeira hora de exibição, Bale faz uso de muitas caretas para dar um ar fanfarrão ao americano interesseiro. Fica um pouco exagerado, como se ele estivesse nos falando "Dane-se, já ganhei um Oscar" - lembrando que ele levou o de Coadjuvante em 2010 por "O Vencedor". Mas à medida que a trama vai evoluindo (e as coisas vão piorando), há uma grande virada de caráter e personalidade. Tudo é mostrado com muita calma e paciência, o que só deixa o resultado mais intenso. E deixa claro pra nós o grande ator que Bale sempre foi. Ao assumir a identidade de padre local, ele só fortalece a ideia de redenção que marca todo o filme e tanto emociona. Nas sequências finais, seu olhar parece nos dizer "Você sabe que mereço um outro Oscar por isso". E nos convence. 

Toda a exuberância e exageros visuais do diretor são aqui representados pelas prostitutas que resolvem se abrigar na Igreja. E essa mudança de tom fica aparente, gerando algumas situações e atuações forçadas, que lembram até quadros humorísticos. O filme até arrisca uma sequência musical, um pouco deslocada no contexto. Mas sempre que ameaça passar do ponto, acontece alguma virada na trama. E é assim que a narrativa funciona e se mantém envolvente. Desse elenco feminino, se destacam Xinyi Zhang, a jovem estudante narradora que vivencia tudo, e a beleza hipnótica de Ni Ni, a prostituta que conquista o coração de John. São essas duas que não deixam o caldo derramar.


"Flores do Oriente", um tocante tratado sobre redenção, talvez não seja o melhor trabalho de Yimou. Mas é um filme que bate e fica, extremamente bem feito em todos os aspectos. É preciso ter coração e estômago forte pra ver, pois ele não se propõe a esconder nada. Essa coragem fez a diferença: acabou sendo o representante chinês para Melhor Filme Estrangeiro no Oscar de 2012. Pode até não ter levado, mas merece ser visto por conseguir passar, mesmo que através de caos e mortes, uma forte lição de sobrevivência, amadurecimento e sacrifício. E é impossível ficar indiferente a isso.

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