sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Som do Silêncio - A magia do cinema mudo está de volta com "O Artista"!


Assistindo ao filme "O Artista", pude ver que ele não é tudo isso que tanto andam falando por aí. Ele é muito mais. E digo isso não por ser uma homenagem aos anos dourados do cinema mudo (dourados não, "prateados" é melhor, afinal não tinha cor) , mas sim por fazer o mais dificil: recuperar, em diversos momentos, a magia daquelas produções. E é esse o grande feito do filme do frânces Michel Hazanavicius (ô sobrenome difícil!), provar que a magia presente naquelas películas pode ser ressuscitada com sucesso em produções modernas.

Desde sua passagem por Cannes no ano passado - onde perdeu a Palma de Ouro para "A Árvore da Vida", filme que tinha mais a cara do festival -, "O Artista" têm colecionado elogios da crítica e prêmios internacionais. Não deixou de ser surpresa quando foi anunciado como favorito ao 84º Oscar de Melhor Filme. A indicação do filme francês ao principal prêmio da Academia americana de Cinema é justificado por ser "uma produção muda, e por isso universal". Mas o que justificaria sua vitória seria a coragem e ousadia de lançar um filme sem som nem cores em uma era em que isso parece impensável.


"O Artista" não é um filme que lucrará nas salas do cinema. É algo para os amantes da sétima arte e curiosos de plantão, e não o grande público que quer ação e efeitos especiais. Uma história bem simples e que remete imediatamente a antigas produções voltadas para os bastidores do cinema e a decadência de suas estrelas, como "Cantando na Chuva" e "Crepúsculo dos Deuses". Não consegue chegar aos pés dessas obras-primas, mas prova que nunca é tarde para relembrar o porquê de irmos ao cinema - e como ele tanto nos facina.

O grande destaque do filme tem um nome: Jean Dujardin. O ator era mais famoso na França por comédias em que encarnava o Agente 117, uma sátira do 007 - a direção dos filmes, inclusive, era do próprio Hazanavicius. Como protagonista de "O Artista" ele conseguiu o Prêmio de Melhor Ator em Cannes - o que voltou os olhos de todos para o filme - e agora é o favorito ao Oscar, tendo no seu caminho apenas a profunda interpretação de George Clooney em "Os Descendentes". Seu personagem, o galã George Valentim, é uma mistura de todos os grandes ídolos do cinema mudo: Rodolfo Valentino, Douglas Fairbanks, John Gilbert, um pouco de cada um. Se alguns dizem que ele lembra um pouco o icônico Gene Kelly de "Cantando na Chuva", eu digo mais: ele é a própria reencarnação do antigo astro. Não bastasse o físico e os traços em comum, dá pra acreditar que Kelly baixou nele nas cenas de sapateado. Dujardin carrega o filme inteiro em sua imagem. Comove e faz rir com grande facilidade e, mais importante, charme. Charme que falta a muitos atores de hoje.


Nas passagens voltadas para o humor, Dujardin tem a ajuda do cãozinho Uggie, que atraiu todas as atenções no palco do Globo de Ouro e tem ótimo timing para o humor. Sua presença em cena, sempre ao lado do dono, evoca a imagem de Charlie Chaplin em "Vida de Cachorro", principalmente na cena em que Valentim anda pelas ruas observando o que restou de seu sucesso. Além dele, também se destaca Bérénice Bejo, esposa do diretor, que no filme empresta seu jeito de garota pra representar brilhantemente a leveza das atrizes da época. James Cromwell e John Goodman, o eterno Fred Flinstone de carne e osso, têm participações discretas em cena. Mas um ponto negativo vai para a "participação" de Malcolm McDowell. Eternizado na história do século XX por sua entrega total ao protagonista de "Laranja Mecânica", o subestimado ator de 68 anos aparece por cerca de meio minuto (!!) em um papel que poderia ser dado à qualquer ator de menos experiência.


Os melhores momentos do filme são as homenagens e sutilezas que enchem os olhos dos bons observadores. Sutis movimentos dos atores ou da câmera, pôsteres e cartazes que são reproduções de obras famosas do passado. Até uma homenagem maior à Douglas Fairbanks, com reprodução de cenas de seus filmes originais como se fossem produções de Valentim. E o que falar da já antológica cena em que o protagonista percebe a chegada do advento do som? Um sopro de originalidade de quem sabe como usar os recursos do cinema de maneira inteligente. Tudo culminando no empolgante e surpreendente clímax.

"O Artista" está longe de ser um dos melhores filmes da história, mas é uma deliciosa e divertida viagem para os amantes do cinema em sua essência: mudo e em preto-e-branco, atemporal e universal. Para os que não gostam de filmes antigos, minha sugestão é deixar o preconceito de lado para conferir o cinema, em plena era de efeitos 3D e Surrond Sound, se render ao som do silêncio e ao incrível fascínio despertado e eternizado por suas imagens. E se o mundo for mesmo acabar em 2012, a ideia de o último filme a receber o Oscar ser esse é um tanto interessante e irônica.

2 comentários:

  1. Mais uma vez li seu comentário e vou assisti-lo. Bjo

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  2. Muito bom cara, excelente análise! Também adorei o filme, pena que muitos vão deixar de assistir por puro preconceito... Abraços!

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